O que foi o Renascimento do Harlem?
Saiba mais sobre esse boom cultural na história negra dos Estados Unidos
O Renascimento do Harlem foi uma era de ouro da cultura negra dos Estados Unidos ocorrida no início do século XX. Teve um impacto duradouro tanto no próprio país quanto no exterior e preparou o terreno para o Movimento pelos Direitos Civis das décadas de 50 e 60.
Este boom cultural foi alimentado pelo orgulho negro; a determinação dos artistas negros em controlar a forma como sua experiência era retratada e a crença de que a literatura negra, a arte negra, o teatro negro e a música negra eram formas de ativismo que promoviam políticas progressistas e integração.
Os nomes frequentemente associados ao movimento incluem Langston Hughes, Zora Neale Hurston, W.E.B. Du Bois, Josephine Baker e Louis Armstrong.
Por que o Harlem?
Após a aprovação da Lei dos Direitos Civis de 1875 nos EUA, os supremacistas brancos se organizaram para reconquistar o poder político em todo o sul. As leis de Jim Crow - leis municipais e estaduais impondo a segregação racial - foram promulgadas entre o final do século XIX e início do século XX. Além dos linchamentos, que aterrorizavam os negros, políticos racistas conspiravam para negar seus direitos.
Conforme a vida no sul se tornava cada vez mais difícil, muitos negros migravam para cidades do norte que ofereciam melhores oportunidades de emprego, como Chicago, Filadélfia, Detroit e Nova York - evento conhecido como a Grande Migração. O Harlem era um dos destinos, atraindo mais de 175 mil negros norte-americanos.
O Harlem foi originalmente concebido como um bairro de classe média e média alta exclusivamente branca no século XIX. No entanto, o rápido superdesenvolvimento teve como resultado uma grande taxa de edifícios vazios. Os proprietários ficaram desesperados para enchê-los e, nos primeiros anos do século XX, famílias negras começaram a se mudar para a área, apesar da resistência dos membros brancos da comunidade. Muitos dos moradores originais acabariam deixando o Harlem e este se tornaria um bairro majoritariamente negro.
Algumas figuras do Renascimento do Harlem
Teatro
O teatro negro floresceu durante o Renascimento do Harlem, com autores e intérpretes rejeitando os espetáculos de menestréis e o retrato degradante de negros por atores brancos em blackface. Os dramaturgos negros colocaram a experiência negra e os atores negros no centro das obras. Empregavam o realismo, exploravam emoções humanas complexas e desmantelavam estereótipos ofensivos.
Os dramaturgos do Renascimento do Harlem de maior destaque foram Dunbar Nelson, Grimké, Hurston, Thurman, Hughes, Mary P. Burrill, Marita Bonner, Georgia Douglas Johnson, Willis Richardson, Eulalie Spence, Frank Wilson e Randolph Edmonds. Willis Richardson foi o mais prolífico: sua peça The Chip Woman’s Fortune, produzida em 1923, foi a primeira peça escrita por um negro (sem ser musical) a ser encenada na Broadway. Mulatto de Langston Hughes, apresentada pela primeira vez em 1935, é considerada uma das peças de maior sucesso do Renascimento do Harlem
Shuffle Along, de Eubie Blake e Noble Sissle, foi um dos primeiros musicais da Broadway escrito e dirigido por negros. Também lançou a carreira da dançarina e cantora Josephine Baker, nascida no Missouri, mas que acabaria se mudando para a França e tornando-se uma das artistas mais populares e bem pagas da Europa nos anos 20. Baker foi uma importante ativista dos direitos dos negros.
Os literatos do Harlem
O poeta Claude McKay foi uma figura central no Renascimento do Harlem. Em 1919, McKay publicou seu poema If We Must Die, considerado um dos poemas mais famosos de todos os tempos. Embora não se refira explicitamente à raça, é visto como uma mensagem de resistência e uma resposta aos linchamentos que aconteciam em todo o país na época.
James Weldon Johnson e Langston Hughes incorporaram elementos da cultura negra norte-americana - ragtime, jazz e blues - em seus poemas: The Weary Blues é um grande jazz poem escrito por Hughes.
Em seu célebre ensaio, O Artista Negro e a Montanha Racial, Hughes resumiu o espírito do Renascimento do Harlem:
“Nós, jovens artistas negros que criamos agora, pretendemos expressar nossa individualidade de pele escura, sem medo ou vergonha.”
A antologia de James Weldon Johnson, The Book of American Negro Poetry, Cane, de Jean Toomer, e a antologia de Alain Locke, The New Negro, também são consideradas obras seminais. Este último apresentou vários escritores e poetas negros, desde os mais conhecidos, como Zora Neale Hurston, Hughes, Toomer e McKay, até os menos conhecidos, como Anne Spencer.
Artes Visuais
O artista mais famoso do Renascimento do Harlem é Aaron Douglas, frequentemente chamado de "Pai da Arte Negra nos EUA". Douglas contribuiu para a antologia de Locke com ilustrações retratando a vida negra e criou grandes murais, verdadeiras alegorias da história e da vida contemporânea dos negros norte-americanos.
Uma de suas obras mais conhecidas é uma série de quatro murais para a Biblioteca Pública de Nova York localizada no Harlem, mais precisamente na 135th Street, chamada Aspects of Negro Life.
Jacob Lawrence alcançou o sucesso aos 23 anos com sua série de 60 painéis retratando histórias da Grande Migração e intitulada Migration Series.
Outros artistas visuais de destaque no Renascimento do Harlem são Lois Mailou Jones, Augusta Savage, o fotógrafo James Van Der Zee, Richmond Barthé e Charles Alston.
Música
O blues e o jazz foram a trilha sonora do Renascimento do Harlem, com nomes como Louis Armstrong, Duke Ellington, Bessie Smith, Fats Waller e Cab Calloway apresentando seu som intrincado na vizinhança.
Como resultado do Teatro de Revista composto apenas por artistas negros, as danças mais frequentemente associadas ao jazz, como Charleston e sapateado, se transformaram em febre mundial.
A Quebra da Bolsa em 1929 marcou o início da Grande Depressão. A idade de ouro do Harlem acabou e a negligência e o desemprego transformaram o bairro mais uma vez. No entanto, as obras, os artistas e as publicações associadas ao Renascimento do Harlem tiveram um impacto duradouro e inspiraram futuras gerações de artistas negros, incluindo intelectuais francófonos negros que viviam em Paris.
Versão em português de @ntams.
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