Dicas para começar a escrever um romance

Você tem uma ideia para escrever um livro, mas não sabe como dar o primeiro passo? Teste estes cinco conselhos
O processo criativo lembra uma montanha-russa, com seus altos e baixos, porém, muitos escritores concordam que o mais difícil é entrar nela e começar o percurso. Se você tem dificuldade para dar o primeiro passo e não sabe por onde começar, nada melhor do que buscar os conselhos de quem já tem experiência no processo.
Antes de se tornar escritora, a espanhola Cristina López Barrio (@cristinalopezbarrio) passou 13 anos exercendo a advocacia e perguntando-se como revelaria sua faceta artística. Em 2009, finalmente decidiu focar totalmente na escrita de ficção e, aos poucos, adquiriu as ferramentas necessárias para conquistar um lugar como autora.
Hoje, Cristina possui feitos admiráveis. Uma de suas obras, o romance A Casa dos Amores Impossíveis, foi traduzida para 15 idiomas e publicada em 22 países, e outro de seus livros, Niebla en Tánger, foi finalista do Prêmio Planeta.

Se você ainda está na fase de sonhar acordado, mas não começou a escrever, ela oferece dicas práticas para ajudá-lo.
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1. Reúna suas emoções em um caderno
Segundo Cristina, preparar a chegada de uma ficção ao mundo exige uma preparação que nos faça entrar em uma nova dimensão, fora do espaço e das obrigações cotidianas. Ela começa a preparar seu terreno criativo nesse lugar intermediário entre inspiração e criação concreta que são seus cadernos de ideias.
Ali, despeja o que define como "documentação emocional", que consiste em ideias, sensações e exercícios criativos. São elementos soltos que irão ajudá-la, mais tarde, a criar seu mundo ficcional.
O início desse caderno é importante. Cristina começa escrevendo uma dedicatória para si ou expressando um simples desejo sobre o que acontecerá com o projeto que inicia. Geralmente, esse desejo não tem nada a ver com sucesso ou vender milhões, mas sim com experimentar emoções particulares, ou conectar-se, como ela diz, "com o infinito".
Ela também desenha flores e usa técnicas de bullet journaling para intervir no caderno no qual trabalhará por meses.

O caderno terá fragmentos de inspirações. Por exemplo:
- Cenas soltas que você viu, chamaram sua atenção, mas você ainda não sabe se serão úteis.
- Sensações, cheiros, sons que chamam sua atenção.
- Objetos, comidas, coisas que um de seus personagens possa gostar.
- Imagens poéticas que podem ajudá-lo a refletir estados de espírito. "Lembra da sacola voando em American Beauty?", exemplifica a escritora.
- Lembranças.
"Não é preciso", observa a autora, "que nada disso esteja bem escrito. É apenas um banco de ideias".
2. Procure O caderno, faça um ritual
Cristina confessa ser fã de papelarias. Sempre as visita, mas dá atenção especial a esse tipo de loja quando tem um novo projeto em mente. "Deixo que o caderno me chame", explica. E aconselha: "Talvez você ainda não saiba sobre o que será o romance, se fala de amor, horror, ressurreição ou justiça, mas confie em sua intuição. Deixe que ela leve você a um objeto que comece a conectá-lo com esse novo mundo".
Se abordar seu caderno dessa maneira, toda vez que o vir, entrará nessa outra dimensão que procura e irá se conectar com a criatividade. Cristina explica que esse caderno é o começo de algo novo e será tão importante quanto preparar um quarto para a chegada de um bebê. Ela propõe que você pense no caderno como se fosse um vaso no qual plantará uma semente a ser cuidada até o surgimento dos brotos e, com dedicação constante, flores e frutos.

Para encontrar seu caderno, siga estas dicas:
1. Ao entrar em uma papelaria, caminhe lentamente e observe tudo com calma.
2. Procure cores ou gráficos que despertem emoções. "Seja guiado por sua intuição, esqueça a racionalidade", aconselha.
3. Abra o caderno que chame sua atenção. Veja se é pautado ou quadriculado. Quem sabe um pontilhado lhe inspire mais.
Um dado extra que pode interessá-lo: em seu curso na Domestika, a escritora compartilha uma lista de suas papelarias favoritas no mundo e convida seus alunos a adicionarem informações para aumentar esse banco de dados.
3. Adicione outras ferramentas inspiradoras
Cristina descobriu que outra das coisas que a fazem entrar em sua dimensão criativa é um estojo para lápis e canetas que ganhou por acaso. "Basta sentar e abri-lo para sentir que começa um momento especial", explica.
Encontre o que inspira você. "Pense que precisa de um momento especial para olhar para dentro de si, colocar um limite no exterior e diminuir o ritmo, pois nada mais importa", destaca.

Tais objetos podem ser:
- Velas ou incensos.
- Seu chá favorito.
- Um canto especial da casa.
- Música ou certos sons de fundo.
- Uma velha máquina de escrever para ajudá-lo a seguir em frente quando ficar travado.
- Flores frescas em sua escrivaninha.
4. Entregue-se à imaginação
Assim que tivermos nosso caderno e conseguirmos entrar no mundo da ficção, Cristina sugere que façamos exercícios para soltar a louca da casa, como define sua imaginação. Trata-se de treinar o pensamento divergente. É hora do famoso brainstorming mas, desta vez, sozinho.
É o momento de:
- Fazer conexões inesperadas.
- Cometer erros, sem buscar a perfeição.
- Matar seu crítico interno.
- Conectar-se com seu eu-criança.
- Romper limites.
- Brincar e divertir-se.
- Extrair coisas do seu inconsciente.
- Escrever muito, como um boêmio que não tem mais nada para fazer e não pensa em resultados.

5. Lute contra os 3 inimigos
"A louca da casa vem para este mundo para aproveitar", assegura, mas logo adverte que, para sair e fazer isso, é preciso enfrentar três inimigos.
O medo
O medo de não ser bom paralisa, limita. “O perfeito é inimigo do bom”, destaca Cristina, que também alerta como é perigoso pensar no futuro do projeto. O medo de não atender às expectativas é igualmente tóxico.
"Você deve pensar em escrever como andar de moto em alta velocidade. Naquele momento você não está pensando em nada além do agora. Você é puro presente", enfatiza. O antídoto? Repita: "Vou curtir o caminho".
"Fracassou? Tente de novo. Fracasse outra vez. Fracasse melhor", é a frase favorita de Cristina quando teme pelo futuro de seus projetos. Seu autor é Samuel Beckett.
A utilidade
Perguntar por que escrever algo, por que investir tanto tempo nisso, pode ser muito assustador. Escreva apenas por querer que seu projeto exista no mundo e isso já vale muito. Escrever, criar histórias, nos ajuda a entender a vida, a torná-la mais tolerável, a processar sensações e informações.
A necessidade
Tente nunca escrever por qualquer motivo que não seja ser feliz, recomenda a autora. "Não faça isso para ganhar dinheiro, para agradar um familiar ou porque precisa de prestígio", insiste.
“Sempre recomendo separar o seu projeto criativo e a obra que está desenvolvendo da sua principal fonte de renda porque um dos riscos que você corre é acabar escrevendo simplesmente para agradar”, observa Cristina. E acrescenta: "Embora isso implique, talvez, não ter muito tempo ou energia para escrever e fazer malabarismos, também permitirá ser fiel à história".

A necessidade de ter sucesso tira seu poder
Cristina cita uma frase para explicar exatamente o que quer transmitir com sua última dica:
"Quando um arqueiro atira por nada, traz toda sua habilidade consigo. Se atira por uma peça de bronze, já está nervoso. Se atira por uma peça de ouro, ele se cega ou vê dois alvos. Sua habilidade não muda, o prêmio o divide. Ele se preocupa. Pensa mais na necessidade de vencer do que em atirar. A necessidade lhe tira o poder."
A frase é de Chuang Tzu e Cristina recomenda tê-la sempre à mão.
Agora que conhece as dicas, que tal começar a trabalhar em seu romance? Inscreva-se no curso Escrita de romance passo a passo. Nele, Cristina López Barrio explica como trazer à vida o projeto com o qual você tanto sonha.
E se quiser explorar mais conteúdos dedicados aos livros e a quem os escreve, não perca a seção Escrita do nosso blog.
Versão em português de @ntams.
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