Cati Gayá
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@cati.gaya
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Arte

4 piadas que abalaram o mundo da arte moderna

  • por Cati Gayá @cati.gaya

Arte moderna é realmente arte? Descubra os chimpanzés, adolescentes e artistas falsos que a testam

A arte moderna não carece de fãs... nem de detratores. Quando a obra Comediante, do artista italiano Maurizio Cattelan, foi apresentada na Art Basel em Miami, em 2019, e foi colocada à venda por US$ 120.000, a arte moderna se tornou alvo de desprezo, ridículo e até raiva.

O motivo da revolta era que essa obra de arte consistia em uma banana fresca colada com fita adesiva em uma parede. Até as marcas mais famosas aderiram à piada, e os esquetes duraram muito tempo.

Obra de arte moderna 'Comediante', do italiano Maurizio Cattelan, parodiada pelo Burger King. [Fonte: @BurgerKingFR]
Obra de arte moderna 'Comediante', do italiano Maurizio Cattelan, parodiada pelo Burger King. [Fonte: @BurgerKingFR]

Como neste caso recente, certos estilos de arte moderna são muito controversos hoje em dia, levando muitas pessoas a se perguntarem: "Por que isso está em um museu quando eu também o posso fazer?". Porém, questionar a validade do mundo da arte não é uma tendência nova. Há muitos céticos que, ao longo da história, quiseram desafiar com humor um mundo que pode ser elitista e inacessível. Conheça na sequência os casos mais famosos.

1. Um chimpanzé pinta melhor do que você?

Você já viu uma pintura elogiada por especialistas e pensou "parece que foi feita por uma criança ou por um chimpanzé"? Provavelmente Åke "Dacke" Axelsson, um jornalista sueco, pensou o mesmo e, em 1964, teve uma ideia curiosa. Axelsson decidiu que iria colocar os críticos de arte à prova apresentando uma série de pinturas de um desconhecido artista de vanguarda francês chamado Pierre Brassau, com o objetivo de observar sua reação.

Quatro de seus trabalhos foram exibidos na Galeria Christinae de Göteborg, onde causaram certa fúria entre os especialistas. No entanto, eles não sabiam um detalhe importante: Pierre Brassau era, na verdade, um chimpanzé de 4 anos.

Pierre Brassau em pleno processo criativo. Foto de Åke "Dacke" Axelsson [Fonte: Museum of Hoaxes]
Pierre Brassau em pleno processo criativo. Foto de Åke "Dacke" Axelsson [Fonte: Museum of Hoaxes]

Embora um dos críticos tenha valorizado negativamente as obras, dizendo que “até um macaco pode fazer isso”, a maioria elogiou. O crítico Rolf Anderberg escreveu no Göteborgs-Posten que Brassau "pintava com pinceladas poderosas, mas com clara determinação" e que "era um artista com a delicadeza de um bailarino". Quando a piada foi descoberta, ele se defendeu dizendo que as telas de Brassau haviam sido as melhores da mostra.

Uma das telas supostamente pintada por Pierre Brassau, que na verdade era um chimpanzé [Fonte: Museum of Hoaxes]
Uma das telas supostamente pintada por Pierre Brassau, que na verdade era um chimpanzé [Fonte: Museum of Hoaxes]

2. "Disumbrationism", o movimento de arte fictício

O romancista Paul Jordan-Smith não se contentou com apenas um artista, mas inventou todo um movimento artístico. Depois que as naturezas mortas realistas pintadas por sua esposa Sara Bixby Smith foram mal recebidas pelos críticos, Jordan Smith decidiu se vingar.

Em 1924, ele pegou um pincel pela primeira vez na vida e pintou a obra intitulada Yes, we have no bananas, mais tarde rebatizada de Exaltation, e apresentou-a na Exhibition of the Independents, no Waldorf-Astoria, em Nova York, sob o nome de Pavel Jerdanowitch, criador de uma nova escola de arte, "Disumbrationism".

'Exaltation', de Pavel Jerdanowitch, que inventou uma nova escola de arte moderna [Fonte: Museum of Hoaxes]
'Exaltation', de Pavel Jerdanowitch, que inventou uma nova escola de arte moderna [Fonte: Museum of Hoaxes]

Os mesmos críticos que criticaram as pinturas realistas de sua esposa receberam essa nova tendência artística com muitos elogios e admiração. Diante do triunfo de sua zombaria, Jordan-Smith continuou a criar mais obras sob o mesmo pseudônimo e a expandir o alcance da sua nova escola de arte.

Mas, tanta admiração acabou frustrando-o, e ele confessou toda a verdade em 1927 ao Los Angeles Times. Quem sabe se, se ele não tivesse dito nada, talvez o "Disumbrationism" fosse hoje estudado nas escolas de arte modernas.

Outra obra do romancista Jordan-Smith [Fonte: Museum of Hoaxes]
Outra obra do romancista Jordan-Smith [Fonte: Museum of Hoaxes]

3. Você conhece Nat Tate?

O que o músico David Bowie, o escritor ganhador do Prêmio Nobel Gore Vidal e o romancista William Boyd têm em comum? Os três participaram de uma brincadeira que, embora talvez não tão maliciosa quanto as anteriores, buscou destacar alguns aspectos negativos do mundo da arte moderna e das elites sociais. William Boyd criou o personagem Nat Tate (em homenagem à National Gallery e à Tate Gallery) e escreveu uma autobiografia fictícia sobre sua vida.

Gore Vidal adicionou uma recomendação à capa do livro que lhe deu legitimidade, e David Bowie deu uma festa em sua homenagem no Dia da Mentira de 1998, na qual algumas das pinturas deste autor foram exibidas. Trechos do livro foram lidos nessa festa para celebrar sua vida e obra.

Edição original de 'Nat Tate' [Fonte: Wikipedia].
Edição original de 'Nat Tate' [Fonte: Wikipedia].

Embora a piada tenha sido descoberta rapidamente, mais do que serviu ao seu propósito. O jornalista David Lister, um dos primeiros a questionar a existência de Nat Nate, escreveu no The Independent que, durante a festa, toda a elite social fingiu conhecer este artista, garantindo que já tinham ouvido falar dele e da sua obra antes desse evento.

Surpreso por ser o único que não conhecia o artista, ele investigou o livro e descobriu que as galerias nele mencionadas eram todas falsas e que as pinturas haviam sido pintadas pelo próprio romancista William Boyd.

Uma das obras pintadas pelo romancista William Boyd, ajudado por David Bowie, para enganar a elite social de Nova York
Uma das obras pintadas pelo romancista William Boyd, ajudado por David Bowie, para enganar a elite social de Nova York

Posteriormente, os autores da brincadeira confessaram que o mais engraçado da situação foi ver como as pessoas fingiram conhecer o estilista, demonstrando o pânico sentido pela elite em admitir sua ignorância sobre algo.

A piada queria verificar o pânico das elites por não saber de algo [Fonte: The Guardian]
A piada queria verificar o pânico das elites por não saber de algo [Fonte: The Guardian]

4. Os Duchamp adolescentes

Você não precisa ser um músico, romancista ou jornalista famoso para ver que no mundo da arte moderna há coisas de que zombar. Dois adolescentes (Kevin Nguyen, 16, e TJ Khayatan, 17) visitaram o San Francisco Museum of Modern Art e certas obras os levaram a pensar: “Eu também poderia fazer isso”. Eles decidiram agir e colocar em prática colocando óculos em um local vazio da exposição.

Kevin Nguyen e TJ Khayatan colocaram óculos no San Francisco Museum of Modern Ar [Fonte: New York Times]
Kevin Nguyen e TJ Khayatan colocaram óculos no San Francisco Museum of Modern Ar [Fonte: New York Times]

Os óculos rapidamente se tornaram uma obra de arte admirada pelo público, e os brincalhões compartilharam no Twitter. A piada se tornou imediatamente viral e até o próprio museu respondeu com um tweet. “Será que temos um Marcel Duchamp entre nós?”, aludindo à polémica obra desse artista, que consistia num mictório colocado num pedestal para romper com as noções tradicionais do que era arte.

Tweet do museu alusivo à obra de Marcel Duchamp. [Fonte: @SFMOMA]
Tweet do museu alusivo à obra de Marcel Duchamp. [Fonte: @SFMOMA]

Embora a questão do que é realmente arte e o que não é ainda esteja em debate, o que essas piadas mostram é que, apesar de seus detratores, se há algo que não pode ser tirado da arte moderna é a criatividade que motiva.

Versão em português de @sergiofelizardo.

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