10 marcos da cultura geek que você precisa conhecer

Da ‘pré-história’ no século XVIII a 'Star Wars' e 'Rick & Morty', veja como essa tribo de gente brilhante e ‘esquisitona' chegou ao topo do mundo pop
Nerd, geek, CDF, otaku, friki. Nenhum destes termos tem mais de 100 anos de existência. Mas indivíduos que reuniam características (clichês?) associadas a eles – inteligência acima da média, escassas habilidades sociais, obsessão por uma determinada área de conhecimento, frequentemente ligada à matemática e às ciências em geral – já viviam, claro, muito antes disso.
O biógrafo e escritor Tom Schachtman, em seu “Gentlemen Scientists and Revolutionaries: The Founding Fathers in the Age of Enlightment”, sustenta que alguns dos chamados “pais fundadores” dos Estados Unidos do século XVIII, como Benjamin Franklin, Thomas Jefferson ou John Adams, eram geeks do mundo tecnológico, polímatas obcecados pelos estudos e as invenções sem muito tempo para a família ou para confraternizar com amigos “normais”.
Se, hoje em dia, as áreas de interesse e as designações dessa tribo são muitíssimas – o geek “clássico” vem do mundo da informática; o otaku, dos animes/mangás; e o CDF é o bom e velho estudante sabe-tudo mesmo –, há algo que une seus integrantes. Por décadas, foram estigmatizados, ridicularizados; deram a volta por cima e, na atual cultura popular, são amplamente associados ao empreendimento, à disciplina e ao êxito profissional.
Neste Dia do Orgulho Geek, uma data surgida na Espanha – onde o homenageado é chamado de friki – e popularizada pelo mundo, reunimos 10 marcos do universo nerd, desde a sua “pré-história”, no século XVIII, aos nossos dias.
1. Os 'pais fundadores’

Conta a “Enciclopédia Britânica” que Benjamin Franklin era extremamente tímido; numerosos biógrafos vêm sustentando que também desprovido de talentos para as artes do amor. Interagia pouco com seus pares, não frequentava rodas de “quadrille”, um popular jogo de cartas no século XVIII, mas era capaz de varar a madrugada em seu laboratório. Seus experimentos eram variadíssimos, relacionados à eletricidade (é creditado como o inventor do pára-raios), à ótica (contribuiu com a invenção das lentes bifocais) e à música (inventou a harmônica de vidro, uma espécie de idiofone, um instrumento de vibração), entre várias disciplinas mais.
À semelhança de outros intelectuais e polímatas do seu tempo, como os já citados Jefferson e Adams, teve a suprema sorte de viver num ambiente empapado pela ética do trabalho calvinista, quando religião e ciência ainda não haviam se divorciado de vez. Se muitos geeks de hoje em dia cultuam os deuses de "Harry Potter" ou "Star Wars", os do século XVIII eram fiéis adeptos do Deus cristão clássico mesmo. Ainda assim, abraçaram o Iluminismo e, a despeito das muitas sombras que tiveram em suas vidas, deixaram um legado de amor pela ciência.
2. William Stanley Jevons

Conhecido economista, este britânico do século XIX foi coinventor da teoria da utilidade marginal, vital para o pensamento econômico ao estabelecer parâmetros de utilidade para os produtos que permitam precificá-los. Foi também pioneiro no uso do pensamento matemático e do cálculo diferencial na economia. Sua vida pessoal é algo nebulosa, mas biógrafos como Bert Mosselmans, na “Stanford Encyclopedia of Philosophy”, descrevem um sujeito profundamente ensimesmado, antissocial e com diversos episódios depressivos.
Foi uma estranha máquina que inventou, o Piano Lógico, que lhe garantiu um lugar na pré-história geek. Feita de madeira e com teclas semelhantes às de um piano convencional, a traquitana era um protocomputador que permitia inferir resultados lógicos a partir da inserção de determinados parâmetros alfanuméricos. Era a prova de que se podia plasmar o pensamento lógico numa máquina. Uma contribuição maiúscula para outra invenção de destaque no mundo geek, surgida pelas mãos do nosso próximo personagem.
3. Alan Turing

Steve Jobs (Apple), Bill Gates (Microsoft), Mark Zuckerberg (Facebook), Sergey Brin e Larry Page (Google) são bacanas. Mas Alan Turing é o cara. Este matemático, lógico, protocientista da computação, filósofo e teórico da biologia britânico foi o célebre decifrador do código da Enigma, a lendária máquina usada por militares e espiões da Alemanha nazista para transmitir mensagens encriptadas durante a Segunda Guerra.
Como se fosse pouco, Turing foi o inventor, em 1945, no Laboratório Nacional de Física da Inglaterra, do chamado Motor de Computação Automático, tido como um embrião dos computadores contemporâneos. A máquina era capaz de fazer cálculos a uma velocidade jamais alcançada anteriormente, imprimindo-os em cartões. Entende-se porque ele é chamado de Pai da Computação. Nada disso, contudo, lhe trouxe honra e glória em vida. Homossexual, Turing foi perseguido pelo governo britânico, julgado por “atos indecentes” com base em leis vitorianas do século XIX e condenado à castração química. Morreu de envenenamento por estricnina alguns dias antes de completar 42 anos, em 1954, num episódio amplamente considerado como suicídio.
4. De loucos (nuts) a esquisitões (nerds): os primeiros registros de um termo-chave

O primeiro registro comprovado da palavra nerd se deu em 1950, no livro “If I Ran the Zoo” (Seu eu dirigisse o zoológico), escrito pelo Dr. Seuss, famoso autor de histórias infantis de meados do século XX que criou, entre outros, o personagem Grinch. Na história, um menino superinteligente visitava um zoo e elaborava um plano para tomar seu controle. O nerd em questão era um dos habitantes do lugar, um ser estranho, com visual desleixado e hábitos antissociais.
No ano seguinte, a revista “Newsweek” empregou o termo para designar gente chata, que não sabia se divertir. Uma das teorias mais difundidas é a de que nerd seja uma corruptela de nert, um plural irregular usado nos anos 1920 para nut, termo até hoje empregado para descrever gente “louca” em inglês. Já geek teria raízes um pouco mais antigas: seria uma variação atual de freak, uma palavra que descreve pessoas monstruosas ou extremamente excêntricas. A palavra friki, usada até hoje no espanhol para se referir aos geeks, é uma óbvia castelhanização do termo freak.
5. O surgimento do disco magnético

São muitíssimas as contribuições ao longo da história para a ciência da computação. Mas foi nos anos 1950 que a informática deu o salto que lhe permitiria mudar para sempre as nossas vidas. Em 1953, engenheiros do laboratório da IBM em San José, na Califórnia, inventaram o disco rígido. Os enormes computadores que requeriam primeiro cartões e, depois, intermináveis fitas para armazenar poucos dados começariam sua acelerada redução de tamanho e espaço, que culminaria com os computadores pessoais comerciais nos anos 1970. O primeiro disco rígido, o IBM 350, era um monstro composto por 50 placas de 60 centímetros cada, com capacidade total para armazenar 3,75 MB.
Ao longo daquela década, em países como França, Canadá, Inglaterra, União Soviética ou Estados Unidos, proliferavam centros de pesquisa dedicados à computação, fossem ligados a empresas privadas, a governos ou universidades. Um deles foi a mítica Agência de Pesquisa de Projetos Avançados (ARPA), fundada em 1958, e cujas pesquisas de comunicação militar criptografada derivaram no que viria a ser a internet.
6. Homem-Aranha

Estudantes incompreendidos, esquisitões, inteligentes e que, de alguma forma, não encaixam no American Way of Life já começavam a ser chamados de nerds, ao longo dos anos 1950 e 1960. Mas faltava um ícone, uma figura que os simbolizasse e lhes desse voz.
Em 1962, o autor de quadrinhos e editor Stan Lee criou esse personagem: Peter Parker, um dos primeiros alter-egos de um super-herói que não só não tem poderes especiais de forma natural como é um sujeito desajeitado e pouco popular. Mordido por uma aranha radioativa, ele desenvolve habilidades incríveis, como subir pelas paredes e usar um lançador de teias de aranha que, aliadas à sua inteligência acima da média, lhe permitirão combater o crime. Finalmente, os geeks podem ler histórias em HQs sobre alguém como eles.
7. Star Wars

Para muitos, é o verdadeiro marco zero da história da cultura geek. Pelo menos no mundo audiovisual. O fantástico universo sideral criado por George Lucas foi precedido de muitos antecessores, como as lendárias séries de TV “Perdidos no Espaço” e “Star Trek”, ambas da década de 1960.
Mas o caráter filosófico da saga "Guerra nas Estrelas", os arquétipos universais de bem x mal, sua vasta gama de subtramas e a união entre magia e ciência seduziram como quase nenhum outro produto audiovisual uma horda de seguidores, trazendo-os para dentro da criação – através de fan fics, grupos de discussão e organização de eventos próprios ou sessões de RPG.
A campanha maciça de marketing em torno do primeiro lançamento, hoje conhecido como “Episódio IV: Uma nova esperança”, em 1977, rapidamente converteu a série num fenômeno global, com filas gigantescas nos cinemas no dia da estreia. Até hoje, segundo o Guinness Book, é a saga mais lucrativa da história do cinema.
8. Tron

Fiel transposição para a grande tela do universo dos videogames – outra das paixões frequentemente atribuídas ao mundo geek –, este longa de ficção lançado em 1982 antecipa o mundo em rede de hackers, realidade virtual, existências paralelas dentro de sistemas inteligentes (algo em que a trilogia “Matrix” se inspiraria, 17 longos anos depois).
O original teve sequência, “Tron: O legado”, em 2010, virou série de HQs, ganhou eventos próprios e uma infinidade de seguidores seduzidos pela história tecnológica altamente vanguardista criada por Steven Lisberger e Bonnie MacBird.
9. Futurama, Rick & Morty


Dois desenhos animados surgidos, respectivamente, em 1999 e 2013 levam as fronteiras da mistura de ciência e ficção a outro nível. Adultos e crianças podem se divertir com histórias de relações humanas – paixonites, encontros e desencontros amorosos, percalços de amizades, dramas familiares – baseadas em pura ciência.
Rick & Morty fala, entre muitos outros temas, de multiversos (a teoria dos universos paralelos), hackeamento de cérebro, encolhimento de pessoas, exoplanetas, nanorrobôs que exploram o sistema circulatório e os órgãos do corpo humano e outras coisas que, no livro "The Science of Rick and Morty: The Unofficial Guide to Earth's Stupidest Show”, cientistas dizem existir ou ser plenamente possíveis. Em Futurama, um de seus roteiristas mais (assumidamente) nerds, Ken Keeler, um PhD em matemática, escreveu um teorema complexo exclusivamente para o décimo episódio da sexta temporada.
10. The Big Bang Theory

Last but not least, a série que, para o mundo não nerd, é a sua representação máxima – mas que muitos geeks reais veem como um amontoado de clichês ofensivos, piadas sexistas e racistas e pouca pesquisa científica. Os quatro amigos do Instituto Tecnológico da Califórnia (Caltech) Sheldon, Leonard, Raj e Howard, além das igualmente nerds Amy e Bernardette e da vizinha Penny, vivem aventuras pessoais com constantes referências a física, astronomia, biologia e outras ciências. São inadaptados, inteligentes e pouco sociáveis. Teriam tudo para ser o coroamento pop da tribo outrora excluída.
Mas, ao longo de 12 temporadas, muitos geeks se queixaram da representação excessivamente caricatural dos personagens, das piadas misóginas contra as personagens femininas e racistas contra Raj, o único de uma minoria étnica. Alheio às queixas, o grande público consumiu avidamente os 279 episódios da série, que derivou num prequel, “O jovem Sheldon”, e, segundo seu criador, Chuck Lorre, pode ganhar mais spin-offs e até mesmo voltar ao ar.
Você também poderia se interessar por:
- Baixe grátis milhares de HQs clássicas do Digital Comis Museum
- Introdução à programação em JavaScript, um curso de Javier Usobiaga Ferrer
- Desenho e programação de jogos eletrônicos com Unity 5, um curso de Marianito Rivas
0 comentários