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A arte do improviso e do caos nos retratos icônicos de Jorge Bispo
Conheça o processo criativo do fotógrafo brasileiro e inspire-se para criar seu próprio estilo autoral na fotografia
Como em um jogo cênico, a arte do retrato possibilita encontros, troca de experiências, improvisos e soluções que potencializam a imagem. Este é o trabalho do fotógrafo Jorge Bispo (@jorgebispo), responsável por um olhar que já registrou grandes personalidades nacionais e internacionais, como Spike Lee, Ricardo Darín, David Lynch, Roberto Carlos e muitos outros.
Natural do Rio de Janeiro, Bispo é especialista em criar retratos icônicos eternizando encontros com a câmera. Nascido numa família de atores e diretores de teatro, seu interesse pela fotografia começou neste contexto, enquanto registrava as produções da família.
"Nasci numa família de teatro, então eu tinha um pai diretor, uma tia diretora, irmãos, primos, atores. A gente tinha uma companhia familiar. Teatro é algo muito importante, foi algo muito importante na minha vida. E hoje, como espectador, é algo que gosto muito. É algo que cresci estudando", diz o fotógrafo.
Jorge, formou-se em artes plásticas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e trabalhou em alguns dos principais veículos de imprensa do Brasil, como o Jornal do Brasil e a Editora Abril.
Hoje, colabora com retratos, ensaios e fotografia de moda para grandes publicações, como Playboy, Trip, TPM, Vip, Alfa, Claudia, Mymag, V, entre outras. Já dirigiu clipes e DVDs dos músicos Pedro Luis, João Bosco, Silva, Nando Reis e Karina Buhr. Também realizou diversas exposições individuais e coletivas e publicou o livro Apartamento 302, que virou série para televisão no Canal Brasil.
Em conversa com a Domestika, o fotógrafo fala do seu "processo criativo caótico", as diferenças entre fotografia autoral e publicitária e a importância da conexão com os retratados através de bagagem cultural.
O caos como ferramenta criativa
Para Jorge Bispo, a palavra que melhor define o seu processo criativo é "improviso". O caos é sua principal ferramenta, pois não se considera organizado.
Isso não significa que não tenha um método lógico para criar sua arte, mas que não é o tipo de criativo que planeja tudo em detalhes.
"É claro que me preparo, faço uma pesquisa sobre o retratado, mas sou muito levado pelo momento. Chego no set de fotografia e às vezes até tenho uma ideia do que quero fazer, mas aí entra uma luz maluca na janela e mudo", diz.
Por conta de seu tempo de carreira, e extenso currículo, conta que é bastante raro trabalhar com alguém que nunca fotografou antes. Especialmente na área cultural.
O segredo de suas fotografias é a conexão com o retratado, não importando se é um astro de Hollywood, como Spike Lee, ou alguém menos conhecido.
Bispo explica: "Eu realmente não dou tanta importância. Minha maneira de conectar é sendo o mais natural possível. Faço isso justamente não dando uma importância maior do que deveria (nem menor). Sou bastante tímido e reservado, então procuro agir como sou, naturalmente".
As diferenças entre fotografia autoral e fotografia publicitária
A respeito da fotografia, Jorge conta que é a única coisa que saber fazer e não se vê fora dela. Sua relação com a área ultrapassa as barreiras da imagem para dialogar com a curiosidade e o prazer por conhecer e retratar gente.
Além dos retratos, seu lado mais autoral, Jorge é bastante reconhecido por seu trabalho editorial para revistas e outras publicações, assim como para publicidade. Para ele, as diferenças entre esses tipos de fotografia estavam mais presentes no início de sua carreira, pois com a experiência e consolidação de seu trabalho, o mercado passou a buscá-lo justamente por seu olhar autoral.
"Hoje já consigo usar o que considero minha maneira mais pessoal de olhar o retrato. Fotografia que eu quero fazer, sabe? Na publicidade, a fotografia precisa seguir algumas regras como um layout para agradar o cliente. No trabalho editorial e na indústria fonográfica, consigo me aproximar muito mais do que acredito, da minha verdade", realça.
A importância da bagagem cultural para um fotógrafo
Para tirar uma boa fotografia, Jorge Bispo defende que não é a parte técnica que importa. É a bagagem cultural. Ela permite que você desenvolva a sensibilidade necessária para entender o outro, para entender as relações humanas e personalidades diferentes.
"Se você é uma pessoa que tem bagagem cultural, está mais apto a falar da maior parte dos assuntos. Por isso digo que as pessoas, os jovens, todos, devem investir muito em bagagem cultural, independentemente se isso vai ser aplicado diretamente numa foto ou não", considera Bispo.
E acrescenta: "Para um retratista, a bagagem é mais importante do que um vasto entendimento de luz. Não vai adiantar você ter um equipamento incrível e uma técnica incrível se essa conexão não for estabelecida. Não há técnica que faça um retrato, por mais bem iluminado que seja".
No momento, o fotógrafo conta que está bastante absorvido pela cultura pop com séries de tv e podcasts, pois acredita que "referências diversas são importantes para gerar novas ideias".
Sejam elas uma fotografia ou iluminação, um pensamento ou diálogo de personagens, Jorge acredita que "é preciso manter aberta a gaveta de referências para buscar ideias sempre que necessário".
A fotografia em tempos de redes sociais
Sobre redes sociais e popularização do acesso à fotografia, Jorge Bispo acredita que a internet popularizou todas as formas de expressão para que as pessoas mostrem seus trabalhos.
"Antes você tinha que ver as coisas em um livro ou revista, mas hoje está mais fácil. A internet e as redes sociais participam de um processo de banalização da fotografia, mas prefiro correr o risco da banalização, da popularização, do que ficar fechado", considera.
E sublinha: "Sou a favor de que todos sejamos fotógrafos de selfie. Afinal, antigamente registrávamos aniversários, viagens e momentos especiais com câmeras analógicas. Hoje só está mais fácil fazer isso. Você nunca vai me ver defendendo coisas que são castradoras nesse sentido".
Equipamento essencial e dica para iniciantes
No dia a dia, o fotógrafo conta que 100% do seu trabalho é feito com uma câmera Canon 5D Mark e três lentes fixas de 35mm, 50mm e 85mm.
Além disso, uma fonte de luz simples. No computador, usa o Adobe Lightroom para editar. Em viagens pessoais, usa o iPhone para registrar as memórias.
Para quem está começando no mundo da fotografia, seu principal conselho é não ter medo de errar. "Experimente! Pode ser com aquela câmera velha da sua vó ou com o celular. Um fotógrafo experimenta para desenvolver uma busca pelo que é mais importante: o próprio jeito de ver as coisas", diz.
E o fotógrafo brasileiro conclui: "Corra riscos, comece já e não se prenda à técnica para não ficar engessado".
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