10 artistas negros que mudaram a história da arte americana

Das paisagens pastorais até à arte de protesto, descubra o trabalho destes artistas no Mês da História Negra
A arte tende a nos afetar de duas formas. A primeira é puramente estética, o poder comovente de ver algo novo, belo, assustador ou inesperado. A segunda se relaciona ao tema: aquela busca por sentido que pergunta: "quem fez isso e por quê?".
A seguir, listamos 10 dos pintores, escultores e fotógrafos negros mais influentes dos últimos 200 anos de história norte-americana.
Desde quebrar barreiras até estabelecer novos cânones culturais, esses artistas foram pioneiros ao retratar a experiência negra nos Estados Unidos através de obras que inspiram admiração, esperança e choque em igual medida.

Em resposta às injustiças históricas e contemporâneas, a arte negra dá voz àqueles anteriormente silenciados. Ao mesmo tempo, diversos movimentos artísticos celebraram a beleza e o florescimento da cultura negra.
Movimentos notáveis incluem o Harlem Renaissance dos anos 20 e 30, que reviveu a música, a arte, a escrita e os estudos afro-americanos. Nos anos 60 e 70, o Black Arts Movement (BAM) combinou ativismo e arte para transmitir o orgulho pela história e cultura negra.
Embora não seja predominantemente focado nas artes, o movimento Black Lives Matter inspirou murais em grande escala e obras de arte públicas que protestam contra a brutalidade policial e, ao mesmo tempo, transmitem esperança, solidariedade e uma colorida reinvenção dos espaços. Apontando para o que está por vir, o Afrofuturismo imagina futuros especulativos e tecnologias surgidas de experiências negras.
Tudo isso parte de uma história diversa: de paisagens românticas à abstração ousada. Agora, sem mais delongas, iremos mergulhar nessa jornada por meio da obra de 10 artistas icônicos.
Robert Seldon Duncanson (1821-1872)
Robert S. Duncanson foi um pintor de paisagens cujas obras frequentemente retratam rios e lagos sob entardeceres dourados e brilhantes. Associado tanto à Escola do Rio Hudson quanto à tradição do Rio Ohio, foi o primeiro artista afro-americano a se tornar conhecido internacionalmente.
Não possuía educação formal e aprendeu de forma autodidata, usando a obra de outros artistas como referência e desenhando ao ar livre. Sua obra mais famosa, Land of the Lotus Eaters (Terra dos Comedores de Lótus), tem um ar mítico e romântico. Durante a vida, morou no Canadá e viajou pelo Reino Unido.

Edmonia Lewis (1844-1907)
Também conhecida por seu nome nativo americano, Wildfire, Mary Edmonia Lewis foi a primeira escultora profissional afro-americana e nativo-americana. Cresceu em Nova York e iniciou o curso superior em Ohio, mas foi recebida com hostilidade e racismo, sendo acusada de inúmeros crimes antes de ser forçada a abandonar a faculdade.
Em seguida, encontrou um professor de escultura, dando os primeiros passos de uma carreira bem-sucedida realizando esculturas e bustos de abolicionistas. No entanto, os elogios que recebia muitas vezes pareciam insinceros e temia estar sendo explorada.
Ao mudar-se para Roma, na Itália, encontrou mais liberdade artística e espiritual e sua carreira se solidificou. Seu estilo neoclássico e a paixão pelas causas abolicionistas podem ser vistos em muitas peças, como Forever Free, reproduzida abaixo.

Henry Ossawa Tanner (1859-1937)
Henry Ossawa Tanner nasceu na Pensilvânia, filho de um bispo abolicionista, e viveu próximo do artista Robert Douglass Jr., que o inspirou a se tornar um pintor.
Frequentou a Academia de Belas-Artes da Filadélfia e estudou anatomia intensivamente. Em seguida, viajou para Paris, onde os círculos de arte eram mais abertos, e construiu uma forte reputação na França.
Pintou retratos, paisagens marinhas e obras de crescente cunho religioso, tornando-se reconhecido internacionalmente. Suas pinturas a óleo realistas são frequentemente iluminadas em tons pastel, contrastando com azuis melancólicos e laranjas quentes.

James Van Der Zee (1886-1983)
O fotógrafo James Van Der Zee nasceu em Massachusetts e desde cedo demonstrou talento musical, embora na adolescência também tenha construído uma câmara escura na casa de seus pais. Antes de se estabelecer no Harlem, também viveu em Nova Jersey.
Van Der Zee fundou um conservatório de arte e música com sua irmã e, mais tarde, um estúdio de fotografia com sua esposa. Ao longo dos anos 20 e 30 ganhou reconhecimento fotografando celebridades e seus vizinhos do Harlem.

Alma Thomas (1891-1978)
Alma Thomas nasceu na Geórgia, filha de uma estilista e um empresário. Após se mudar para Washington em consequência dos distúrbios raciais de Atlanta, pôde ter aulas de arte pela primeira vez. Passou a estudar belas-artes na Howard University, onde algumas fontes afirmam ter sido a primeira mulher na América a obter um bacharelado na área.
Lecionou até a aposentadoria, mas continuou a estudar escultura e pintura, desenvolvendo seu estilo característico com influências do expressionismo abstrato e do campo de cor.
Criou uma série de coleções brilhantes, expôs seu trabalho EUA afora e encontrou a fama aos 80 anos. Em vez de produzir comentários sociais explícitos em suas obras, Alma Thomas escreveu que “procurava se concentrar na beleza e na felicidade”.

Augusta Savage (1892-1962)
Essa escultora icônica adorava criar desde a infância e, após um curso de modelagem em argila, descobriu sua grande paixão. Recebeu uma bolsa de estudos em Nova York e terminou um curso de quatro anos em apenas três.
Inicialmente, apesar do grande talento, Savage foi discriminada e rejeitada por instituições artísticas. Além disso, por sua condição social, muitas vezes se viu incapaz de arcar com os custos dos estudos e do próprio ofício.
Suas esculturas, no entanto, começaram a ser reconhecidas e ela recebeu encomendas de importantes figuras sociais. Com o auxílio de sua comunidade, angariou fundos e, finalmente, pôde frequentar uma escola em Paris.
Ao retornar aos EUA, realizou oficinas e contribuiu para o início da carreira de muitos artistas importantes. Como na maioria das vezes seu trabalho era feito em barro ou gesso, muito dele se perdeu ou foi danificado. Mesmo assim, sua influência é inegável e ela agora é reconhecida como líder do Harlem Renaissance.

Aaron Douglas (1889-1979)
Outra figura destacada do Harlem Renaissance, Aaron Douglas estudou arte na infância e, mais velho, na Universidade do Nebraska.
Mudou-se para o Harlem no auge do Renascimento, onde pintou murais e tornou-se editor de arte e ilustrador, chamando a atenção para as injustiças raciais da época através de sua obra. Com a fama de seus murais, recebeu encomendas de grandes projetos.
Ansioso para ver o sucesso de artistas jovens e negros, Douglas integrou a organização Harlem Artists Guild e, no final de sua carreira, fundou um novo departamento de arte na Fisk University, no Tennessee, onde lecionou até a aposentadoria. Seu universo imagético centrado na África e o uso de silhuetas criam um senso de unidade entre africanos e afro-americanos.

Gordon Parks (1912–2006)
Conhecido pelo fotojornalismo, Gordon Parks também dirigiu longas-metragens que contavam histórias de escravos e negros norte-americanos explorados. Nasceu em uma família de agricultores no Kansas e sua infância foi profundamente afetada pela segregação e escassez de oportunidades. Ainda assim, aprendeu a fotografar por conta própria, chamando a atenção de profissionais do setor, que o ajudaram a encontrar trabalho.
Acabou em Chicago, fotografando socialites, moda e retratos. Uniu-se à FSA (Farm Security Administration, organismo criado durante a Grande Depressão com o objetivo de promover o desenvolvimento de áreas agrícolas) para documentar a vida de comunidades pobres. Uma de suas fotografias mais conhecidas, American Gothic (Gótico Americano), mostra uma faxineira chamada Ella Watson em frente à bandeira americana com um esfregão.
Parks também fotografou para revistas como Vogue e Life e publicou diversos livros antes de prestar consultoria para filmes de Hollywood e passar para a direção e produção.

Jacob Lawrence (1917-2000)
Referindo-se ao próprio estilo como “cubismo dinâmico”, fundido com a estética do Harlem, Jacob Lawrence foi um pintor conhecido pelo uso de cores vivas. Após viver em um orfanato e reconectar-se com sua mãe no Harlem, Jacob teve aulas no Harlem Art Workshop, onde trabalhou com Augusta Savage.
Sua obra combina histórias da luta afro-americana durante a Grande Depressão com cores fortes e formas marcantes. Para contá-las, criou longas séries de pinturas, como Migration Series, onde mostra negros norte-americanos deixando o sul rural. Trabalhou em têmpera, serigrafias e outras mídias.

Jean-Michel Basquiat (1960-1988)
A carreira de Jean-Michel Basquiat, parte do movimento neoexpressionista, teve um impacto global no mundo da arte. Após abandonar a escola, ele e seu amigo Al Diaz passaram a grafitar sob um codinome inventado, SAMO. Além disso, formou uma banda, criou arte prolificamente e fez upcycling em roupas.
Após as primeiras exposições, Basquiat tornou-se um nome reconhecido, amigo de artistas como Andy Warhol e representado por um marchand internacional. Seu trabalho combinou arte visual, música, moda e crítica social num ritmo surpreendente: acredita-se que tenha produzido mais de duas mil obras de arte durante sua curta vida.

Do realismo à abstração, esses artistas e muitos outros exploraram e alertaram sobre os problemas de seu tempo ao expressarem experiências únicas. Qual obra da lista é sua favorita?
Encontre mais artistas incríveis para inspirar seus projetos criativos na seção Listas de Inspiração do nosso blog.
Versão em português de @ntams.
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