Kell Silva

Nunca soube me apresentar, mas sei quem eu sou.

Sou uma mulher de 35 anos, doutora, professora, poetisa, cruzeirense, filha única, casada com o amor da minha vida, com seis cachorros, um pai vivo, uma mãe e quatro filhos falecidos.

É bastante coisa. Coisa demais.

Mas não sei ainda se minha vida profissional e pessoal podem dar conta de me definir. Há anos atrás, quando ainda morava em São João Del Rei, tive o prazer de assistir uma peça teatral chamada "Por Elise", do Grupo Espanca!. Posso dizer com toda tranquilidade do mundo que essa peça teatral mudou minha vida e me deu a frase que melhor me define: "Eu sou forte como um cavalo novo com fogo nas patas correndo para o mar".

Essa frase me acompanha desde 2007, ou seja, há mais de quinze anos eu me defino com a magistral frase de Grace Passô. A peça me marcou tanto porque sempre fui rodeada de mulheres fortes, de mulheres que se erguiam quando estavam no fundo do poço para seguirem. Eu mesma nunca tinha reconhecido em mim a herança dessa força feminina ancestral que nos move para frente, até bem pouco tempo. Minha mãe, minhas tias, minha avó, todas essas mulheres, com histórias de vida tão distintas, me moldaram. E desde que ouvi e vi a performance do Grupo Espanca! pela primeira vez, entendi que temos que ser fortes como um cavalo novo com fogo nas patas correndo para o mar.

Eu sou essa frase: Forte, mas ingênua. Perseverante, mas resiliente. Sobrevivendo a rotina do caos, sou uma ninfa resistente que continua seguindo em direção ao mar, mesmo não conseguindo enxergá-lo. Apenas seguindo.