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Chico Felitti: "Um podcast nasce sempre de um olhar criativo muito pessoal"

Conheça a trajetória do repórter, escritor e podcaster brasileiro e explore os segredos para criar histórias cativantes
No Brasil, 28 milhões de pessoas consomem podcasts com frequência, de acordo com dados de uma pesquisa da Kantar Ibope em 2020. Um crescimento de 33% em relação a 2019. Uma das razões por trás deste sucesso, sem dúvida, é a capacidade do podcast de transmitir narrativas de forma simples, divertida e dinâmica através do áudio.
O repórter, escritor e podcaster Chico Felitti, criador do Além do Meme, que figura entre os 15 podcasts mais ouvidos no Brasil, é especialista em contar boas histórias que fazem rir e ao mesmo tempo emocionam. Sua capacidade de enxergar a beleza das narrativas não ficcionais, transforma seus podcasts em viagens únicas por infinitos particulares de pessoas anônimas.

O podcast Além do Meme, uma produção exclusiva do Spotify, conta as histórias das pessoas que ficaram famosas na internet, como a "Grávida de Taubaté", a "Garota da Laje" e a "Beth do Trote".
Chico também criou e narrou o podcast Muitas Vidas, que conta a vida de pessoas que perderam a vida para o Covid 19, publicado na Orelo, ganhou os prêmios Comunique-se e Petrobrás de jornalismo e é também autor dos livros Ricardo & Vânia, que reconstrói a trajetória de vida de um artista de rua conhecido como Fofão da Augusta, Mulher Maravilha, a biografia de Elke Maravilha, e A Casa, a história da seita de João de Deus.
Além disso, Felitti Cursou um mestrado em escrita criativa na Universidade Columbia, em Nova York, e escreve para veículos como a revista Piauí e o site americano Buzzfeed News, dá aula de escrita na pós-graduação do Instituto Vera Cruz e é um dos finalistas do Prêmio Jabuti 2020.

Na Domestika, o criativo brasileiro ministra o curso Escrita de roteiro de não ficção para podcast narrativo, ensinando a identificar e contar histórias reais que despertem a atenção e envolvam seus ouvintes.
E é sobre como essas histórias reais alimentam seu processo criativo que ele fala na entrevista que você pode ler na sequência. Conheça melhor a forma como Chico trabalha, o que o inspira e descubra dicas profissionais para começar a criar seus próprios podcasts.
Olá Chico! Antes de mais, como funciona o seu processo criativo? Como decide qual história vai contar?
Qualquer coisa que eu faça, seja um podcast ou um livro, nasce da curiosidade e de uma pergunta que é meio pessoal, mas que acho que se estende para mais gente. No Além do Meme, minha pergunta era: Meu Deus, quem é a Bete? Quem é essa dona de escola de música, uma senhorinha, que recebeu um trote e ficou famosa? Como é que ela vive hoje em dia? Era uma questão minha que acabei levando para o público.
No Isso Está Acontecendo, também foi exatamente assim. Todas as pautas da primeira temporada vêm de algo que havia chegado na minha vida. Meu marido, por exemplo, estava em contato com uma testemunha de Jeová há meses e eu não sabia. Ou como perdi o controle nas compras online e disso surgiu um episódio.
Meu processo criativo vem muito de um olhar pessoal, algo comum em podcast, que tende a ser uma mídia um pouco mais íntima. Questões pessoais, próximas do coração, geralmente rendem boas histórias.

E o que para você faz uma boa história? O que uma boa história precisa ter?
Precisa ter algum elemento que prenda a atenção. Pode ser algo exagerado ou uma história muito bonita, muito comovente. Ou algo muito inusitado. O inusitado está no grosso das coisas que prendem nossa atenção.
Em podcasts de documentário, em geral, você fica sem acreditar que aquilo é realidade. No "Caso Evandro", por exemplo, você escuta e pensa "não é possível que tenham feito isso". O termômetro nasce dentro de nós mesmos. Quando você fica surpreso, estupefato, é um bom sinal de que outras pessoas também vão sentir o mesmo.
E o humor? Como você trabalha o humor em suas histórias?
Nenhuma história é só comovente ou só profunda. As histórias são, ao mesmo tempo, profundas e superficiais, comoventes e engraçadas.
Isso está ligado a todos os momentos e respeitar esses momentos faz parte também de fazer um bom podcast. Eu nunca dou risada às custas das pessoas, sempre estou rindo com elas.
Alguma dica para conquistar o entrevistado?
É uma troca e quanto mais humano você for, mais o entrevistado será humano contigo de volta. Então é se abrir, ser sincero. Costumo achar que é justo dar um pouco em troca também, sabe? Falar um pouco da minha vida, trocar ideia com a pessoa.

Aquela entrevista fria em que você tem 30 minutos cronometrados com a pessoa pode funcionar muito bem com ator de Hollywood ou um político.
Mas, quando você está lidando com uma pessoa anônima, ela não está acostumada a dar entrevista e não é obrigada a dar. É nossa obrigação deixar essa pessoa confortável e com vontade de contar coisas.
No seu processo criativo, quais as diferenças entre escrever para áudio e o escrever para ser lido?
São poucas, pois tenho um estilo de escrita que é muito mais claro e linear, mesmo quando estou escrevendo livro assim. Não sou a pessoa que vai fazer um parágrafo de três páginas e isso vem de ter me formado no jornalismo.
Já o podcast, pede alguma repetição. É preciso, por exemplo, relembrar alguns pontos da história, retomar fatos e outros detalhes. No texto escrito isso é visto como um elemento ruim. No áudio é necessário. Algumas coisas ficam ótimas no papel, mas não cabem na boca.

Qual seria sua dica fundamental para quem quer começar um podcast?
Tem muita gente que é tímida, não gosta de ouvir a própria voz. Eu odeio minha própria voz! Já cheguei a gravar coisas que não foram usadas porque diretores não gostaram da minha voz. Por isso, a minha dica é: se não precisa se escutar num primeiro momento, não ouça. Você não precisa se avaliar assim, afinal terá todo o tempo do mundo pra se gravar, né? Como não é ao vivo, existe a vantagem de repetir 20 vezes.
Ao mesmo tempo, não se apegue muito à sua opinião. Ela não é tão importante. São as outras pessoas, os ouvintes, que precisam avaliar a sua voz. Sempre grave num ambiente que te deixa confortável, num momento em que estiver em paz e depois lance no mundo mesmo. Podcasts comportam diversidade de vozes.
Tem um podcast que amo, feito por uma pessoa com um problema de articulação na boca. Essa pessoa apresenta um podcast e alcançou sucesso com isso, algo impensável em outras mídias. Numa grande rádio ou canal de televisão nunca teríamos uma pessoa assim apresentando. O podcast abraça todo os tipos de voz e por isso é feito para as massas.
Quais equipamentos e ferramentas você usa?
É um vexame...[risos] começou bastante rudimentar, porque sou praticamente um homem das cavernas. Uso um gravador profissional e um gravador desses de 100 reais digital de backup. Isso é muito importante: sempre tenha dois dispositivos gravando. Sempre, sempre, sempre! Afinal, um deles vai dar problema, não importa quão bom e quão caro seja. Vai dar problema!

Durante uma entrevista, você nunca mais conseguirá repetir um momento, uma fala. É prioridade absoluta ter o áudio gravado em boa qualidade.
Depois, jogo tudo na nuvem. Uso Google Drive para ter backup dos arquivos. Nunca deixe as gravações somente nos aparelhos. Chegue em casa e faça um backup para a nuvem.
Uso também um programa para transcrever as entrevistas, o Transkiptor. É muito bom e dá conta do recado. Claro que preciso revisar, mas ele resolve uma boa parte. Depois uso o Google Docs para escrever roteiros, também na nuvem para não correr o risco de perder.
Como você descobre novos podcasts e quais tem ouvido e recomenda?
É muito no boca a boca. No outro dia, por exemplo, estava no Twitter trocando ideia com um desconhecido sobre podcasts e anotando dicas... Geralmente vou procurando o que as pessoas recomendam ou o que o Spotify recomenda. Sempre tento confiar mais em gente.
Estou apaixonado pelo Budejo, do Cariri, um podcast de conversa super divertido. Gosto bastante também do podcast Nós, que conta histórias de vida amarradas com músicas brasileiras. E o Não Inviabilize, da Déia Freitas, que é incrível. Ela é a grande contadora de histórias do Brasil no momento.
A segunda temporada de Além do Meme está chegando! Você pode contar algum detalhe do que está por vir?
Será uma temporada muito viajada, pois vou do Norte ao Sul do país meio que literalmente. De um dos pontos mais ao Sul do país a um dos pontos mais ao Norte. Um meme que desapareceu e ninguém sabe onde está. A temporada ainda está sendo gravada, mas terá muita coisa legal!
Gostou de conhecer melhor o processo criativo de Chico Felitti? Não perca o curso Escrita de roteiro de não ficção para podcast narrativo, e aprenda a identificar e contar histórias reais que despertem a atenção e envolvam seus ouvintes.
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