E se eu cair?
de Catilina Moreira @cati_moreira2
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O Tiago adora andar na sua bicicleta. Ela é a melhor bicicleta do mundo: é azul, tem as rodas com raios amarelos, como o sol, que condizem com os punhos e é super rápida. Mas ela é mesmo mesmo a melhor do mundo, porque é a bicicleta que o pai do Tiago lhe ofereceu quando fez cinco anos.
Só que… a bicicleta do Tiago ainda tinha rodinhas.
– Mãe, quando é que posso andar sem rodinhas na minha bicicleta?
– Podes andar sem rodinhas quando estiveres pronto para isso Tiago. – respondeu calmamente a mãe do Tiago.
– Mas mãe, como é que eu sei quando vou estar pronto?
Era realmente uma boa questão, pensou a mãe do Tiago. – Bem, só vendo. Queres me mostrar como estás a andar de bicicleta?
– Sim! – gritou o Tiago enquanto descia a correr as escadas até à garagem onde estava a sua bicicleta.
Depois de estar todo equipado com o seu capacete especial e as suas joelheiras a condizer, chamou a mãe para ir vê-lo a dar voltas de bicicleta no pequeno largo em frente a casa. A mãe ficou a vê-lo com um ar satisfeito e de sorriso na cara. Será que o Tiago estava pronto?
– Então? Já estou pronto? – perguntou o Tiago, travando a fundo na sua bicicleta com rodinhas, parando mesmo em frente à mãe.
– Bom, segundo o que vi eu diria que… - a mãe fez uma pausa abrindo muito os olhos – Sim! – disse, abrindo o sorriso.
O Tiago mal podia acreditar: estava pronto! Quase a rebentar de felicidade e com a ajuda da mãe retirou as rodinhas da sua bicicleta. Voltou a montar a bicicleta e inspirou fundo pronto para começar. Estava mesmo satisfeito com a sua “nova bicicleta”, sentia-se maior até, quase que apostava que já tinha crescido uns centímetros. – Agora já vou poder ir ter com os outros meninos no fim da rua.
Estava prestes a começar quando…
– Eu agora já posso cair. – disse o Tiago baixinho. – Mãe e se eu cair? Sem rodinhas eu já posso cair não é?
– Sim Tiago, cair é um dos riscos de andar de bicicleta.
– Riscos! – o Tiago nunca tinha pensado que haveria riscos. – Eu não quero cair. E se eu cair?
O Tiago começou a sentir um aperto muito forte no peito. Pela primeira vez desde que tinha começado a andar de bicicleta o Tiago estava com medo. A mãe vendo que o filho estava paralisado perguntou: – Tiago, o que se passa? Para onde foi toda a tua vontade de finalmente andares de bicicleta sozinho e sem rodinhas?
O menino não respondeu. Sentiu as lágrimas a formarem-se nos olhos. Não conseguia acreditar que depois de ter esperado tanto tempo, agora que estava pronto, agora que a sua bicicleta ia ser mesmo a melhor do mundo, não conseguia andar de bicicleta. Tudo porque estava paralisado com medo de cair.
– É normal termos medo. Toda a gente tem medo de alguma coisa, ou de muitas coisas. Eu tenho muito medo de me esquecer de coisas importantes, já que passo a vida a esquecer-me da chave do carro em sítios estranhos. Não faz mal termos medo, é sinal que pensámos sobre o assunto e que não é uma tarefa fácil e pode ter consequências más. Mas é ao ultrapassarmos os nossos medos que vamos ser realmente valentes.
O Tiago ouviu a mãe com atenção e passado um bocado disse: – Mas se eu cair posso magoar-me…ou não conseguir levantar-me e os outros meninos vão rir-se de mim.
– Se eles se rirem é porque foi engraçado.
– Mas eu não quero ser engraçado!
– E também não queres cair. – disse a mãe. – Às vezes acontecem coisas que não queremos. Mas temos de aprender com essas coisas também.
– Então tenho de aprender a cair?
– Eu acho que tens de aprender a conviver com esse medo.
– Como assim? – o Tiago estava a ficar confuso.
– Olha uma coisa boa do medo é que ao sabermos que ele existe podemos evitar que se concretize. Tu já percebeste que estás com medo de cair e assim vais fazer de tudo para que tal não aconteça. Vais ter cuidado e isso é o mais importante.
O Tiago ficou a pensar no que a mãe lhe disse e começou a sentir o seu coração mais leve. Se tivesse cuidado, talvez nunca caísse… – Acho que percebi o que queres dizer mãe.
– Queres que te ajude e segure no assento enquanto começas devagar? – o Tiago sorriu anuindo e colocou-se novamente em posição na sua bicicleta, pronto para arrancar.
A mãe segurou no assento da bicicleta, contou até três e depois seguiu com o Tiago, ajudando-o a manter-se em posição.
Com o movimento da bicicleta o Tiago foi se sentido cada vez mais confiante e seguia agora a pedalar com um sorriso de orelha a orelha. Seguia já com alguma velocidade e começou a rir. Afinal ia mesmo conseguir, mais um bocadinho e pediria à mãe que lhe largasse o assento, pensou.
– Mãe acho que já me podes largar.
– Eu já larguei. – disse a voz da mãe lá longe.
~FIM~
4 comentários
ibrenman
Professor PlusEm primeiro lugar, obrigado por compartilhar sua história conosco.
Eu gostei muito da sua história, muito mesmo. Parabéns.
cati_moreira2
Muito obrigada Ilan pelo feedback :) fico mesmo muito contente de saber que gostou da história, é bastante importante ter esse feedback proveniente de alguém muito experiente nesta área. Procurei aplicar grande parte dos conselhos que partilhou neste curso, que foram bastante úteis para a elaboração desta história, e que vou certamente adotá-los para a criação de mais histórias. Quem sabe um dia alguma seja publicada ... :)
Mais uma vez muito obrigada por tudo!
verasilvacorpus
Gostei da história,muito linda
cati_moreira2
@verasilvacorpus_1 Muito obrigada. Fico contente de saber que gostou :)
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