Arte

O amor de Vincent van Gogh pela arte do Japão

Descubra a influência das gravuras japonesas tradicionais no trabalho do pintor

O fascínio do Ocidente pelo Oriente não é algo recente. No final do século XIX, a comunidade artística ocidental cultivou um enorme interesse por todas as coisas orientais.

Vincent van Gogh (1853-1890) foi um grande amante da estética e da arte tradicional japonesa, que teve grande influência em sua obra.

Autorretrato com impressão japonesa, Vincent van Gogh (1887)
Autorretrato com impressão japonesa, Vincent van Gogh (1887)

Van Gogh se sentia especialmente atraído pela arte ukiyo-e, as xilogravuras que se tornaram muito populares no Japão entre os séculos XVII e XIX.

Essa influência da arte japonesa - em Van Gogh e outros artistas - ficou conhecida como Japonismo e, no caso dele, se refletiu no uso de técnicas, motivos e cores. Outros expoentes do movimento foram grandes artistas da arte europeia, como Gauguin, Toulouse-Lautrec, Degas e Rodin.

’Amendoeira em flor’, Vincent van Gogh (1890). Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation)
’Amendoeira em flor’, Vincent van Gogh (1890). Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation)
’Orquídea florescendo’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)
’Orquídea florescendo’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)

Em pouco tempo, Van Gogh se tornou um ávido colecionador de gravuras japonesas. Em 1886, em dois meses ele comprou 660 xilogravuras. Suas peças favoritas não eram as mais caras, mas sim aquelas com cores e padrões ousados.

’Esplendor de borboletas e peônias no jardim’, Utagawa Kunisada (1849). Parte da coleção do Van Gogh Museum, Amsterdam
’Esplendor de borboletas e peônias no jardim’, Utagawa Kunisada (1849). Parte da coleção do Van Gogh Museum, Amsterdam

Van Gogh colocava essas obras em seu estúdio e as contemplava constantemente. Com o passar do tempo, ele assimilou certas características estilísticas em seu próprio trabalho. Sua pintura ganhou cores mais vivas e incluiu padrões decorativos. Em uma carta a seu irmão Theo, ele escreveu:

“Depois de um tempo, sua visão muda e você começa a ver com um olhar mais japonês, sente as cores de forma diferente.”
Vincent van Gogh, Carta a Theo, 5 de junho de 1888
’Ponte na chuva’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)
’Ponte na chuva’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)

Para Van Gogh, o estudo da arte tradicional japonesa se apresentava como um claro contraste entre a modernidade, a metrópole e a industrialização.

Sem visitar o país, ele traçou um ideal do Japão como uma utopia alheia à modernidade, um símbolo de pureza e relação com o mundo natural. Ao se mudar para Arles, ele expressou que sua vida seria mais parecida com a dos impressores japoneses, por estar próximo da natureza:

“Não é quase uma religião nova que nos ensinam esses japoneses, que são tão simples e que vivem na natureza como se fossem flores? Não é possível estudar arte japonesa, me parece, sem ficar mais feliz e alegre, e isso nos faz retornar à natureza, apesar de nossa educação e de nosso trabalho em um mundo de convenções.”
Vincent van Gogh, Carta a Theo, 24 de setembro de 1888
’O semeador’ Vincent van Gogh (1888). Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation)
’O semeador’ Vincent van Gogh (1888). Van Gogh Museum, Amsterdam (Vincent van Gogh Foundation)

Durante seu período de Japonismo, ele copiou imagens de gravuras japonesas, adicionando sua própria interpretação e cores.

Confira abaixo um dos trabalhos que van Gogh imitou.

Página da Paris Illustré “Le Japón”, baseada em uma impressão de Keisai Eisen (1886)
Página da Paris Illustré “Le Japón”, baseada em uma impressão de Keisai Eisen (1886)
’Cortesã’ (a partir de Eisen), Vincent van Gogh (1887)
’Cortesã’ (a partir de Eisen), Vincent van Gogh (1887)

Uma peça chave é o retrato de Père Tanguy, um dos negociantes de arte que deu a Van Gogh acesso à arte japonesa, e com quem ele discutia certas ideias utópicas do universo japonês.

Alguns críticos comparam a pose do sujeito com a de um Buda sorridente, complementada pelas gravuras japonesas atrás dele.

Retrato de Père Tanguy, Vincent van Gogh (1887)
Retrato de Père Tanguy, Vincent van Gogh (1887)

Em 1888 pintou um autorretrato dedicado a Paul Gauguin, no qual se apresenta como um monge japonês, modificando traços de sua fisionomia.

Autorretrato dedicado a Gauguin, Vincent van Gogh (1888)
Autorretrato dedicado a Gauguin, Vincent van Gogh (1888)

Com o tempo, e talvez sob a influência de Gauguin, Van Gogh escreveu cada vez menos sobre os japoneses, enquanto sua saúde mental começou a se deteriorar.

Você pode ver aqui a coleção de arte japonesa de Vincent van Gogh do Museu Van Gogh em Amsterdã.

Mais informação:
- Janet Al. Walker. Van Gogh, Collector of “Japan”. The Comparatist, 2008.
- Clive You. Looking East: Vincent Van Gogh and Japan. Australian National University, 2016.

Ver cursos recomendados

Caderno de retratos: explore o rosto humano. Curso de Ilustração por Gabriela Niko

Caderno de retratos: explore o rosto humano

Um curso de Gabriela Niko

Descubra os fundamentos do retrato aprendendo a desenhar expressões faciais e acompanhando seu progresso em seu caderno de desenho

  • 151,648
  • 95% (2.8K)
98% Desc.
Preço original $49.99USD
Comprar $0.99USD
Desenho para principiantes nível -1. Curso de Ilustração por Puño

Desenho para principiantes nível -1

Um curso de Puño

Crie seu primeiro caderno de artista aplicando técnicas básicas de desenho à mão

  • 270,267
  • 99% (10K)
98% Desc.
Preço original $49.99USD
Comprar $0.99USD
Sketching diário para inspiração criativa. Curso de Ilustração por Sorie Kim

Sketching diário para inspiração criativa

Um curso de Sorie Kim

Melhore seu processo de desenho explorando, imaginando e experimentando em seu sketchbook diariamente

  • 168,306
  • 98% (4.1K)
98% Desc.
Preço original $49.99USD
Comprar $0.99USD
2 comentários