Cati Gayá
Cati Gayá
@cati_gaya
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Artes manuais

História do Bordado: de Tutancâmon ao século XXI

  • por Cati Gayá @cati_gaya

Antes de ser relegado ao lar pelas máquinas, o bordado foi uma linguagem que nos ajudou a entender o mundo

Quando o bordado começou? E onde? Embora pareçam simples, são perguntas muito difíceis de responder. Exemplos de bordado foram encontrados em todo o mundo, em culturas muito diferentes, e suas técnicas e pontos têm permanecido constantes ao longo dos séculos.

É uma arte intrinsecamente humana e cultural que sobreviveu aos séculos para ressurgir com mais força em anos recentes. Tradicionalmente, o bordado sempre foi associado ao mundo "feminino". Essa consideração o relegou a um papel de passatempo aos olhos da sociedade, mas ao mesmo tempo o tornou algo íntimo: uma técnica pela qual a história foi transmitida secretamente.

Quer conhecer sua história? Descubra no vídeo a seguir.

Uma arte global e milenar

O objeto bordado mais antigo foi encontrado, surpreendentemente, em um local cercado de mistério, mitos e lendas: a tumba do faraó Tutancâmon.

Mas essa não é a única descoberta antiga. No continente americano, milhares de anos antes dos grandes impérios, já se trabalhava o bordado, como demonstram os itens encontrados em uma necrópole na costa peruana.

Quando a dinastia Han, na China, expandiu suas rotas comerciais através da Ásia Central e estabeleceu a Rota da Seda, o comércio desse material cobiçado e precioso criou um intercâmbio cultural que ficaria refletido nos bordados da época: os padrões chineses se misturaram com a arte persa e árabe, criando uma linguagem universal escrita com motivos florais e padrões geométricos.

Bordado do século XIX. China.
Bordado chinês do século XIX

Na França, usava-se o bordado para decorar as bordas das vestimentas, mas seu uso não se limitava às roupas, era também um meio de imortalizar a história.

É o caso, por exemplo, da mais antiga tapeçaria bordada que se conserva: a tapeçaria de Bayeux, 70 metros bordados em comemoração à Batalha de Hastings.

Detalhe da tapeçaria de Bayeux (entre 1082 e 1096)
Detalhe da tapeçaria de Bayeux (entre 1082 e 1096)

O bordado como status social

O minucioso trabalho de bordar padrões nas roupas era muito valioso, por isso eram os ricos e poderosos que usavam tecidos bordados para demonstrar seu status social.

Os mestres anglo-saxões criaram o Opus Anglicanum, uma mistura de fios de ouro e prata com veludo, reservada a objetos religiosos e sagrados. O bordado com metais preciosos se tornou um símbolo de poder.

No entanto, a rainha Catarina de Aragão, a primeira esposa de Henrique VIII, introduziu o bordado blackwork na Inglaterra, um estilo monocromático de bordado cuja beleza reside em sua complexidade e padrões elegantes, não em sua aparência chamativa.

Retrato de Mary Cornwallis, Condessa de Bath, de George Gower (1580)
Retrato de Mary Cornwallis, Condessa de Bath, de George Gower (1580)

Nem sempre um sinal de riqueza e opulência

Embora o bordado fosse em muitas ocasiões e culturas um símbolo de status e poder, esta disciplina também esteve a serviço dos mais humildes.

Por exemplo, o huipil mesoamericano, caracterizado por seus desenhos coloridos, era uma vestimenta comum a todas as classes sociais.

O huipil mesoamericano se caracteriza por seus desenhos coloridos
O huipil mesoamericano se caracteriza por seus desenhos coloridos

Por outro lado, muitos outros estilos tradicionais de bordado apareceram por questões práticas, como o Sashiko japonês, que era, na essência, uma forma de consertar roupas rasgadas através do bordado.

Estes bordados, que não vestiam reis, não decoravam igrejas e não utilizavam ouro ou seda, integravam a cultura de cada lugar e sua tradição era transmitida de geração em geração até ser transformada em legado cultural. Muito além do luxo e da ostentação, o bordado era um sinal identitário.

O Sashiko japonês era, na essência, uma forma de consertar roupas rasgadas
O Sashiko japonês era, na essência, uma forma de consertar roupas rasgadas

A chegada da industrialização e dos teares

A chegada da industrialização afetou o mundo do bordado. O tear de Jacquard (um tear mecânico inventado por Joseph Marie Jacquard em 1801) tecia complexos padrões de brocado e damasco com um sistema de cartões perfurados, precursores dos primeiros sistemas de dados, usados ​​desde telégrafos até os primeiros computadores.

Esta máquina revolucionou a indústria e acelerou a produção de bordados que, até então, eram trabalhos minuciosos e que exigiam muito esforço.

Posteriormente, a máquina de bordar Schiffli (1863) completaria o processo de automação, até que as mãos não fossem mais necessárias para o bordado.

A chegada da industrialização afetou o mundo do bordado
A chegada da industrialização afetou o mundo do bordado

Progressivamente, as máquinas foram se impondo em todo o mundo e o bordado manual foi relegado ao ambiente doméstico, passando a fazer parte da longa lista de qualificações que caracterizavam a considerada “esposa ideal”.

Mas bordar oferecia um espaço de expressão pessoal e artística em que muitas mulheres imprimiam a própria marca nos objetos ao redor e criavam suas obras de arte.

Os cadernos de padrões e motivos facilitavam o aprendizado da técnica, praticada com a criação de amostras. Alguns incluíam versículos da Bíblia, ditos ou reflexões pessoais que refletiam a evolução da mentalidade e as mudanças sociais da época.

'Lydia at the Tapestry Loom', de Mary Cassat (1881)
'Lydia at the Tapestry Loom', de Mary Cassat (1881)

A nova onda do bordado

As primeiras ondas do feminismo rejeitaram os papéis impostos durante séculos e os avanços tecnológicos, a invenção das fibras sintéticas e o minimalismo do mundo moderno causaram um desinteresse pelo bordado, que passou a ser considerado coisa do passado.

Porém, após décadas de avanços tecnológicos, em que a industrialização tornou os objetos e seus designs reproduzíveis e comuns, criar algo com as mãos passa a ser um ato radical.

O bordado permite criar peças únicas, autênticas e pessoais com as próprias mãos
O bordado permite criar peças únicas, autênticas e pessoais com as próprias mãos

Na última década, o ato de bordar voltou com força, recuperando seu lado mais contestador. Permite-nos criar peças únicas, autênticas e pessoais com as próprias mãos.

E apesar de o que captamos seguir a estética do momento, estaremos usando a mesma técnica que escreveu, desde tempos imemoriais, séculos e séculos de história.

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