Domestika Mestres: Chip Kidd

Conversamos com o escritor, editor, designer gráfico e um dos especialistas em capas de livros mais influentes da história
É difícil que não exista em uma de suas prateleiras um livro com alguma de suas criações. Chip Kidd (Pensilvânia, 1964) trabalhou em mais de 3.000 capas de livros de todos os gêneros, estilos e autores.
De Cormac McCarthy a Haruki Murakami, suas imagens ilustram histórias há mais de três décadas. Sua capa para o mítico Jurassic Park, a silhueta do esqueleto de um T-Rex, tornou-se parte de nossa imaginação cultural.
Chip Kidd nos abre as portas de seu estúdio em Nova York e compartilha conosco reflexões acumuladas no decorrer de sua longa carreira.
Dos quadrinhos ao design
Desde a infância, as imagens têm um lugar muito importante na vida de Kidd. Seu primeiro grande amor foram os quadrinhos, especialmente os dedicados aos super-heróis da DC Comics Batman e Superman, os quais “lia antes de saber ler”. Essa foi, para ele, uma introdução precoce à ideia de que as imagens organizadas e ordenadas de uma determinada maneira poderiam contar uma história.
As lições que aprendeu com esse gênero, ele aplicou ao longo de sua trajetória, tanto em sua carreira no mundo dos quadrinhos ("The Complete History of Batman", "Superman", "Wonder Woman", "The Golden Age of DC Comics"), como em seu posterior trabalho na editora Penguin Random House.


Embora possa parecer que Kidd estivesse interessado no design de capas desde o primeiro momento, confessa que veio a Nova York com a intenção de desenvolver seu talento em alguma das grandes agências de design e publicidade de então.
Sua carreira, no entanto, acabou levando-o à editora Penguin Random House. Imediatamente, reconheceu o potencial dessa disciplina: das poucas dentro do design que lhe permitiam assinar seu trabalho — e na qual segue trabalhando quase 30 anos depois.


Uma linha muito fina
Kidd concebe e trabalha o design de um livro como um objeto 3D: não tem somente que se preocupar em criar uma capa, mas precisa também levar em conta a orelha, a lombada, a contracapa e a quantidade de materiais e texturas que essa indústria permite e que vão além de uma simples imagem plana.
O design das capas de livros é uma disciplina muito específica, mas isso não quer dizer que com menos desafios. Kidd confessa que o fato de elaborar um trabalho criativo a serviço do que é, por sua vez, outro trabalho da mesma natureza, significa transitar por uma linha muito fina. Sendo também escritor, Kidd entende o que significa para um autor ceder sua obra para que uma terceira pessoa a ilustre, o que o tornou consciente de que é necessário encontrar um equilíbrio entre o critério do escritor e do designer.

O design é mais do que "fazer coisas bonitas"
Apesar de sua longa carreira na mesma disciplina, Kidd se declara encantado por continuar trabalhando e aguarda com animação novos livros de autores veteranos que, como ele, planejam continuar exercendo sua profissão pelo maior tempo possível.
É claro que, embora continue ativo nesta época em que o design gráfico é, em grande parte, uma disciplina digital, assegura não ter interesse por esse caminho e que, se necessário, será o "último dos designers analógicos".
Partindo da perspectiva de um mundo do design totalmente digitalizado, Kidd reflete: ter um bom olho e saber fazer coisas "bonitas", embora importante, é algo que possivelmente não esteja, em alguns anos, fora do alcance das máquinas. Por isso, acredita que, para ser um bom designer, é vital a capacidade de resolver problemas de maneira criativa e pensar conceitualmente, habilidades puramente humanas que asseguram um trabalho de valor.


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