Escrita

O que é ficção especulativa? 4 exemplos de livros e filmes

Explore a literatura não realista e descubra exemplos icônicos de ficção científica, fantasia e realismo mágico

Toda obra de ficção exige imaginação para dar vida a palavras e personagens, mas algumas, além disso, transportam o leitor para dimensões paralelas.

Ficção especulativa é um termo polivalente para se referir à literatura sobre mundos não realistas. A seguir, vamos explorar como é definida, seus subgêneros e onde encontrar inspiração para suas histórias com Andrea Chapela (@alcs99).

Obras literárias de Andrea Chapela

Andrea é autora da tetralogia fantástica Vâudïz. Nascida no México, possui mestrado em escrita criativa pela Universidade de Iowa. Publicou coletâneas de ensaios (Grados de miopía) e contos (Un año de servicio a la habitación) e colaborou com revistas como Este País e Literal Magazine.

Embora atribua um rótulo específico, como "ficção científica" ou "fantasia", a cada um de seus livros, engloba todo seu trabalho sob o termo "ficção especulativa".

O que é ficção especulativa?

A ficção especulativa é um termo polivalente para se referir a gêneros não realistas. Em suma, toda ficção se pergunta "o que aconteceria" e imagina mundos diferentes do nosso. Frequentemente, explora uma ideia específica partindo do ponto de vista de outro mundo.

Pode ser uma história ambientada no futuro ou em um planeta alienígena, ou inclusive em nosso mundo, mas com uma realidade distorcida. A diferença pode ser pequena: Andrea explica que em MIB - Homens de Preto, por exemplo, Nova York funciona mais ou menos como em nossa realidade, mas com alienígenas.

Cena de "MIB - Homens de Preto"
Cena de "MIB - Homens de Preto"

O que não é ficção especulativa

Também podemos definir a ficção especulativa em oposição ao que Andrea chama de "ficção mimética". Tudo o que “acontece em nosso mundo real, assim como é”, é mimético. Romances e histórias que são unicamente romance, ação, ficção policial etc. estariam nesta categoria. São histórias sobre eventos que, embora pouco frequentes, poderiam acontecer no mundo como o conhecemos.

Qual é a diferença entre ficção científica, fantasia e ficção especulativa?

Se a ficção especulativa inclui toda a ficção não realista, ela certamente possui muitos subgêneros. A ficção científica e a fantasia podem ser consideradas subgêneros da ficção especulativa. Outros exemplos são cyberpunk, steampunk, fantasia, horror e realismo mágico. Cada um desses gêneros, é claro, conta com as próprias convenções, embora tenham muito em comum.

Livros e filmes recomendados por Andrea em seu curso
Livros e filmes recomendados por Andrea em seu curso

Estes são alguns dos subgêneros que têm em comum a pergunta central “o que aconteceria”:

1. A ficção científica se pergunta “o que aconteceria” se a ciência e a tecnologia fossem utilizadas (muitas vezes é ambientada no futuro).

2. A fantasia se pergunta “o que aconteceria” com a magia, os cenários imaginários e criaturas mitológicas.

3. O horror se pergunta "o que aconteceria" se eventos sobrenaturais ocorressem, frequentemente com uma abordagem gótica ou sangrenta.

4. O realismo mágico se pergunta “o que aconteceria” com os problemas do mundo real e da experiência humana, mas expressos através do uso da magia (mais informações na próxima seção).

As definições são breves e incompletas, pois cada gênero é repleto de história e diversidade.

É preciso levar em conta que esses gêneros são ambíguos, e muitos escritores adaptam as definições ao seu trabalho. Há quem fale de fantasia e ficção científica, há quem fale de “ficção não-mimética” como termo que englobe tudo. O renomado autor Alberto Chimal (@albertochimal) cunhou o termo “gênero da imaginação”.

Alguns escritores não se sentem à vontade com o termo ficção especulativa: ícone da ficção científica, Ursula K. Le Guin temia que diluísse a ficção científica dura, tentando torná-la "mais palatável" para o público massivo, apagando assim uma rica tradição.

Ursula K. Le Guin, fotografada em 2009 por Marian Wood Kolisch, via Wikipedia
Ursula K. Le Guin, fotografada em 2009 por Marian Wood Kolisch, via Wikipedia

O realismo mágico é ficção especulativa?

O realismo mágico é um movimento surgido na América Latina no século XX e, embora seja complicado dar uma definição exata, costuma se referir a histórias que incluem elementos mágicos e eventos sobrenaturais integrados ao realismo da vida cotidiana. Geralmente, a magia reflete um problema do mundo real.

O realismo mágico é um gênero interessante dentro da ficção especulativa. Andrea compartilha um ensaio de Alberto Chimal no qual afirma que a ficção especulativa pode ser um termo útil para ficção científica, realismo mágico e outras obras não realistas em “países e culturas onde não há mercados que possam apoiar autores especializados e nos quais a imaginação fantástica é usada, geralmente, por outros motivos”.

A ficção que confronta o futuro “concreto” proposto por certos políticos e ideologias extremistas existe há décadas, e inclusive séculos, na literatura latino-americana, e costuma recorrer à paródia ou à fantasia para examinar a corrupção e a falta de liberdade.

Exemplos de ficção especulativa

A ficção especulativa emprega uma série de estratégias narrativas fantásticas para distintos propósitos. A seguir, Andrea recomenda alguns livros, séries e filmes que ajudarão você a entender a variedade de possibilidades:

1. Studio Ghibli

Os filmes do Studio Ghibli oferecem experiências de animação etéreas, muitas vezes através dos olhos de uma criança ou jovem. A relação do ser humano com a natureza é um tema central e a sabedoria e a divindade do mundo natural são apresentadas na forma de criaturas mágicas e deuses. Experimente Princesa Mononoke, O Castelo no Céu e A Viagem de Chihiro.

Cena de "Princesa Mononoke"
Cena de "Princesa Mononoke"

2. Ursula K. Le Guin

Conhecida pela abordagem antropológica e filosófica, Le Guin explorou a vida dos humanos em circunstâncias políticas radicalmente diferentes em suas galáxias fictícias. O taoismo, o feminismo e a subversão de temas tradicionais são uma constante em seu trabalho. Comece por A Mão Esquerda da Escuridão, a série Terramar ou Os Despossuídos.

3. Jorge Luis Borges

Com explorações oníricas da humanidade através da mitologia e da filosofia, as histórias de Borges são parte essencial do realismo mágico latino-americano. Seus livros mais conhecidos são os volumes de contos Ficções e O Aleph.

4. Ted Chiang

O premiado autor de ficção científica Ted Chiang explora a ideia do livre arbítrio através de conceitos científicos e filosóficos. Leia História da Sua Vida, uma novela sobre linguagem, memória e alienígenas, que deu origem ao filme A Chegada.

Humanos e alienígenas tentam se comunicar em “A Chegada” (2016)
Humanos e alienígenas tentam se comunicar em “A Chegada” (2016)

Há outros exemplos: explore as obras de George Orwell, Gabriel García Márquez, Haruki Murakami, N. K. Jemisin, entre milhares de autores dessa tradição.

Embora a ficção especulativa esteja em constante evolução, o termo é útil para entender a relação entre ficção e realidade, e sua flexibilidade permite a experimentação.

Versão em português de @ntams.

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