Isaque Criscuolo
Isaque Criscuolo
@isaque_criscuolo
Artes manuais

O que é xilogravura e quais são suas aplicações?

  • por Isaque Criscuolo @isaque_criscuolo

Descubra as origens da técnica de impressão, como se aplica e os materiais básicos para começar a gravar na madeira

A xilogravura - ou xilo como também é conhecida - é uma técnica de impressão criada pelos chineses no século VI, passando pelo Japão, Europa, Brasil, país onde tem especial relevância, e daí ganhando o mundo.

Nesta técnica manual, a madeira serve como base para a criação de uma matriz, que será reproduzida com tinta em papel, ou outros materiais, como um carimbo.

A palavra xilogravura tem origem no grego, composta pelos termos xilon e grafó. Respectivamente, significam madeira e o ato de gravar ou escrever. Simplificando, xilogravura é uma gravura feita com uma matriz de madeira.

O artista plástico e professor da Domestika, Pablo Salvaje, é especialista em xilogravura
O artista plástico e professor da Domestika, Pablo Salvaje, é especialista em xilogravura

Apesar da matéria prima relativamente simples, este é um método longo que exige tempo, atenção e dedicação. Afinal, é necessário criar a matriz artesanalmente, uma por uma.

Origem da xilogravura

As informações mais confiáveis a respeito das origens da xilogravura mostra que os chineses utilizavam a técnica para imprimir orações budistas, cartas de baralho, papel-moeda e estampar tecidos. Os registros datam de 220 D.C., enquanto no Japão a xilogravura começou a ser utilizada em 770 D.C. para estampagem de talismãs.

Foi através da xilogravura que surgiram os primeiros livros impressos da humanidade, muito antes da prensa de Gutenberg. Sutra Diamante, editada por Wang Chieh, foi publicado 587 anos antes da Bíblia de Gutenberg.

'Sutra Diamante', editada por Wang Chieh antes da 'Bíblia' de Gutenberg
'Sutra Diamante', editada por Wang Chieh antes da 'Bíblia' de Gutenberg

Na Europa, as primeiras impressões xilográficas foram utilizadas para estampar tecidos. O fragmento de matriz mais antigo foi encontrado na Borgonha, próximo a Dijon, França, com data entre 1370 e 1380.

Entre os séculos XIV e XV, xilogravuras de imagens sacras e cartas de baralho começaram a ser produzidas em grande escala. Antes, tais cartas precisavam ser desenhadas e coloridas uma a uma, tornando o processo lento e caríssimo, mas as reproduções pelo sistema xilográfico baratearam sua produção e venda.

Matriz de cartas de baralho
Matriz de cartas de baralho

No Japão, a xilogravura já era uma técnica milenar antes de marcar de forma extraordinária os séculos XVII ao XIX. Os artistas mais famosos foram Utamaro Kitagawa (1753-1806), Hokusai Katsushika (1760-1849) e Utagawa Hiroshige (1797-1858).

Era comum também que obras xilográficas japonesas fossem trabalhos coletivos. Um artista desenhava e a equipe se dividia na tarefa do entalhe das matrizes e impressões.

'Lovers in the upstairs room of a teahouse' (1788), de Utamaro Kitagawa
'Lovers in the upstairs room of a teahouse' (1788), de Utamaro Kitagawa
'A grande onda', de Hokusai Katsushika
'A grande onda', de Hokusai Katsushika

A influência da xilogravura japonesa no Ocidente

As xilogravuras japonesas chegaram ao Ocidente dando origem ao Japonismo, inspirando artistas como Claude Monet, Edouard Manet, Edgar Degas, Georges Seurat, Mary Cassatt, Henri Matisse, ou Vincent van Gogh.

Este último foi um dos mais reconhecidos amantes da estética e da arte tradicional japonesa, que teve grande influência em sua obra. Van Gogh se sentia especialmente atraído pela arte ukiyo-e, as xilogravuras. Em pouco tempo, o pintor se tornou um ávido colecionador de gravuras japonesas. Em 1886, em apenas dois meses, comprou 660 xilogravuras.

’Esplendor de borboletas e peônias no jardim’, Utagawa Kunisada (1849). Parte da coleção do Van Gogh Museum, Amsterdam
’Esplendor de borboletas e peônias no jardim’, Utagawa Kunisada (1849). Parte da coleção do Van Gogh Museum, Amsterdam

Suas peças favoritas não eram as mais caras, mas sim aquelas com cores e padrões ousados. Van Gogh colocava essas obras em seu estúdio e as contemplava constantemente.

Com o passar do tempo, assimilou certas características estilísticas em seu próprio trabalho. Sua pintura ganhou cores mais vivas e incluiu padrões decorativos.

’Ponte na chuva’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)
’Ponte na chuva’ (a partir de Hiroshige), Vincent van Gogh (1887)

Outro nome importante na xilogravura europeia é o inglês Thomas Bewick, que foi um dos primeiros precursores da chamada xilografia de topo.

Esta técnica é uma variação que permite mais riqueza de detalhes e levou a xilogravura para ilustrações de jornais, livros e revistas.

Thomas Bewick (1753-1828)
Thomas Bewick (1753-1828)

Xilogravura e estampagem têxtil

Atualmente, a xilogravura é muito praticada na criação de estampas através de Block Print, uma técnica de estampagem têxtil que utiliza blocos de madeira esculpidos manualmente como carimbos.

A estampagem, também manual, é feita a olho, alinhando cada bloco no tecido de forma a criar um padrão. É uma das técnicas mais antigas de impressão e tudo indica ser original da China, onde foram encontrados os exemplares mais antigos, em seda, que datam do ano 220 d.C.

O Block Print oferece um método simples e fácil de impressão e criação de padrões em tecido, por isso é utilizada até os dias de hoje, sendo na atualidade mais associada à cultura indiana por aí continuar a ser um método bastante comum.

Se quiser aprender mais sobre estamparia manual com carimbos, não perca o curso Block printing e design de padrões digitais, ministrado pela designer têxtil e ilustradora portuguesa Marta Afonso (@martajmafonso).

Marta Afonso é especialista em Block Print, uma técnica de estampagem têxtil que utiliza blocos de madeira como carimbos
Marta Afonso é especialista em Block Print, uma técnica de estampagem têxtil que utiliza blocos de madeira como carimbos

Xilogravura no Brasil - Arte e Literatura de Cordel

No Brasil, os índios já utilizavam matrizes de madeira para imprimir desenhos rituais na pele e estampar vestimentas. As etnias canelas, apinajés e xavantes são bons exemplos da prática.

No entanto, na época em que a Coroa Portuguesa trouxe a imprensa ao Brasil, todos os xilógrafos eram estrangeiros. Somente com a criação em 1872 do Liceu de Artes e Ofícios é que surgiram os primeiros xilógrafos brasileiros.

Os precursores da xilogravura no Brasil foram Lasar Segall (1891-1957), Oswaldo Goeldi (1895-1961) e Lívio Abramo (1903-1992), influenciados pelo movimento expressionista. Mas poucos influenciaram tão decisivamente as gerações seguintes quanto Fayga Ostrower.

Fayga Ostrower produziu sobretudo gravuras (xilogravuras, gravuras em metal, litografias e serigrafias)
Fayga Ostrower produziu sobretudo gravuras (xilogravuras, gravuras em metal, litografias e serigrafias)

Fayga, gravadora, pintora e crítica de arte, foi também professora no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro a partir dos anos 1950, quando a instituição carioca, então recém-inaugurada em 1948, ocupava o centro do pensamento modernista nacional. Ali, ajudou a implementar um conceito de museu-escola que rompia as fronteiras entre passado e presente, apresentando o processo de criação como um fluxo contínuo e tornando o espaço de exibições um anexo do bloco de aprendizagem, mais vivo e pulsante.

Ostrower deu aulas a Anna Bella Geiger e Lygia Pape, por exemplo, e incutiu nelas e nos seus outros alunos a necessidade de buscar um rigor artístico, um método de criação, sem se deixar prender por formalismos ou ideias preconcebidas.

Abstrata “radical” num momento em que seus pares eram quase todos figurativistas, Fayga foi, antes de tudo, uma libertária e embora a principal parte de sua obra tenha se concentrado na produção de gravuras (xilogravuras, gravuras em metal, litografias e serigrafias), desenhos e aquarelas, ela experimentou outras técnicas, como a concepção de grandes murais, a esmaltação de metais, o desenho de joias, a criação de cartazes, capas, ilustrações de livros e discos e a padronagem de tecidos.

Padronagem de tecidos foi uma das técnicas exploradas por Fayga Ostrower
Padronagem de tecidos foi uma das técnicas exploradas por Fayga Ostrower

Curiosamente, foi na Literatura de Cordel, gênero literário popular escrito em rimas, que em meados do século XX a xilogravura ganhou o centro das atenções. As histórias populares passaram a ser publicadas em folhetos impressos principalmente com xilo, com o pico de sua produção entre 1930 e 1940.

A xilogravura de cordel conta com grandes nomes como Abraão Batista, José Costa Leite, J. Barros, J. Borges, Jerônimo, José Costa Leite, José Pacheco, Marcelo Soares, Mestre Dila (José Soares da Silva), Stênio e José Lourenço.

Literatura de Cordel. Foto de Jean Marconi.
Literatura de Cordel. Foto de Jean Marconi.
'O Bicho Maior Come O Menor E O Sabido Come Os Três', de Abraão Batista
'O Bicho Maior Come O Menor E O Sabido Come Os Três', de Abraão Batista

Materiais básicos para xilogravura

O espanhol Pablo Salvaje (@pablosalvaje) é um ilustrador e gravador de selos, que na Domestika ministra os cursos Gravura em relevo e estampagem contemporânea e Escultura de carimbos e técnicas de estampagem.

Pablo uniu sua paixão pela tinta, o papel e a ilustração com o antigo negócio de impressão da família e se especializou em diversas técnicas de gravura, design, ilustração e serigrafia. Tendo a natureza como musa, o artista pretende deixar uma marca, de maneira literal e figurada, com cada uma das suas peças.

Pablo Salvaje uniu sua paixão pela tinta, o papel e a ilustração com o antigo negócio de impressão da família
Pablo Salvaje uniu sua paixão pela tinta, o papel e a ilustração com o antigo negócio de impressão da família

Para fomentar a criação com essas técnicas, Pablo Salvaje compartilha uma lista com algumas ferramentas básicas e ao alcance de todos, para que você possa começar a trabalhar com xilogravuras. Todas são fáceis de encontrar e de trabalhar e assim, você pode pôr mãos à obra com as ideias que tiver em mente.

Estes são os materiais básicos, mas alguns podem ser opcionais e dependem da ideia que você quer desenvolver. Lembre-se que você pode buscar e usar sua criatividade para encontrar outras ferramentas que permitam dar volume e criar com o que tiver ao redor.

Goiva

A ferramenta mais importante para talhar. Deve se adaptar às suas necessidades e ao material com o qual vai trabalhar.

Lápis

É essencial ter um 2HB, para que deixe a quantidade de grafite necessário no papel vegetal. Um H seria muito duro, você não veria muito bem o esboço, e o B muito mole.

Estilete de precisão

Para realizar os cortes pertinentes e atingir cantos mais complicados.

A goiva é a ferramenta mais importante. O lápis 2HB é também muito útil
A goiva é a ferramenta mais importante. O lápis 2HB é também muito útil

MDF

Para você trabalhar com suas matrizes nele. É fácil de achar, mas você também pode utilizar um pedaço de madeira nobre.

Papel especial

Necessário para a estampa. Pode usar um papel de seda ou qualquer específico para xilogravuras. Depende do resultado e textura que você quer obter.

Papel vegetal

Para passar o seu esboço, fazer o cálculo e transferi-lo à matriz.

A govia é usada para talhar a madeira
A govia é usada para talhar a madeira

Tecido

Pode ser qualquer um que você tiver em casa. Não precisa ser de grande qualidade, já que você apenas fará alguns testes para que a matriz fique cheia de tinta.

Tinta de gravura

Se utiliza tanto no papel como no tecido. Pablo sugere a marca Speedball, uma marca internacional fácil de encontrar.

Rodinho

Você usará para a tinta e não precisa ser nenhum específico.

Objetos naturais

Úteis para obter texturas. Use sua imaginação e o que tiver em casa.

O rodinho é utilizado para espalhar a tinta
O rodinho é utilizado para espalhar a tinta

Gostou de saber mais sobre a xilogravura? Se quiser descobrir outros materiais e ferramentas para começar, confira este artigo. E se desejar aprofundar seus conhecimentos na área da estampagem, não perca os cursos da Domestika, ministrados pelos melhores especialistas!

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