Cati Gayá
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@cati.gaya
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Ilustração

História da ilustração botânica

  • por Cati Gayá @cati.gaya

Descubra como a ilustração botânica passou de ferramenta médica a uma forma de se conectar com a natureza

As flores são parte do planeta, mas também de nossa sociedade e cultura. São utilizadas para dizer "desculpa", "eu te amo", "melhoras" e "adeus". Decoram nossos cadernos, roupas e casas e são, provavelmente, uma das primeiras coisas que aprendemos a desenhar, antes mesmo de aprender a escrever.

Mas, embora pareça que tenhamos pintado flores desde sempre, na verdade a história da ilustração botânica é relativamente recente. De fato, poderia ser dito que praticamente não pintamos nenhuma planta por quase toda a humanidade. Como essa disciplina começou? E o que as flores que pintamos ao longo da história dizem sobre nós?

Descubra neste vídeo!

O início da ilustração botânica

O início da agricultura foi a primeira mudança a inspirar os humanos a retratar plantas em ilustrações. Não foi, no entanto, por sua beleza ou algum motivo estético, mas por sua capacidade de nos curar ou causar mal.

Para verificar isso, basta observar um dos exemplos mais antigos do uso da ilustração botânica, um livro de Dioscórides chamado De Materia Medica, de 50 d.C., realizado graças aos estudos de filósofos da Grécia Antiga, como Aristóteles e Teofrasto. Neste livro, as plantas são classificadas de acordo com seu uso: remédio, veneno ou alimento.

Página de 'De Materia Medica', de Dioscórides (50 d.C)
Página de 'De Materia Medica', de Dioscórides (50 d.C)

Essa forma prática de abordar a ilustração botânica dominou a disciplina até o Renascimento na Europa trazer consigo uma nova forma de entender o mundo natural e a arte. Foi durante esta etapa da história entre os séculos XV e XVI que os artistas perceberam o potencial expressivo que a natureza oferecia, indo muito além do uso medicinal.

Artistas como Leonardo da Vinci transformaram suas pinturas religiosas na desculpa perfeita para criar estudos e esboços úteis e bonitos. Assim, as flores e plantas começaram a encontrar seu lugar na arte.

Esboço de Leonardo da Vinci (XV-XVI)
Esboço de Leonardo da Vinci (XV-XVI)

Plantas a preço de ouro

Quando os impérios europeus começaram a crescer e expandir-se a terras distantes, as plantas e flores efêmeras se transformaram em verdadeiros símbolos de poder e prestígio. Para exibir sua riqueza e poder, não era preciso usar ouro e joias: uma flor podia comunicar seu status da mesma forma.

Na verdade, a primeira antologia de ilustrações de flores ornamentais do mundo ainda conservada é um livro de Basilius Besler que documenta as plantas exóticas do Príncipe Bispo Johann Konrad. O livro, que levou cerca de 16 anos para ser concluído, é essencialmente um códice das plantas que adornavam os belos jardins em volta de seu palácio, Willibaldsburg.

Embora os jardins tenham sido destruídos em um ataque das tropas suecas no século XVII, seu conteúdo permaneceu preservado para sempre nas ilustrações de Basilius Besler.

Ilustração de Basilius Besler em 'Hortus Eystettensis'
Ilustração de Basilius Besler em 'Hortus Eystettensis'

Pela primeira vez na história, as plantas eram pintadas simplesmente por sua beleza e isso despertou um apetite insaciável. Na Holanda, no século XVII, a tulipomania (ou crise das tulipas) fez com que o preço dos bulbos de tulipas disparasse devido à euforia especulativa do momento.

Foi neste contexto que o artista Jan Brueghel viu uma oportunidade, tornando-se a primeira pessoa a pintar naturezas mortas compostas exclusivamente por flores.

'A Loucura da Tulipa', Jean Leon Gerome (1882)
'A Loucura da Tulipa', Jean Leon Gerome (1882)

Ao invés de decoração supérflua, as flores eram as protagonistas de suas pinturas. Brueghel, apelidado de “Flor” Brueghel devido ao tema de quase todas as suas pinturas, viajava constantemente para encontrar novas flores que pudessem aparecer em suas naturezas-mortas.

Além disso, nos arranjos florais que pintava, ele se assegurava de que não houvesse sobreposição de flores para que todas pudessem ser igualmente apreciadas.

'Vaso de Flores', Jan Brueghel (1606-1607)
'Vaso de Flores', Jan Brueghel (1606-1607)

A era de ouro da ilustração botânica

Embora o afã por tulipas tenha diminuído após o fim da bolha especulativa em 1637, o fascínio pelas plantas e flores não desapareceu. Na verdade, na França, os reis exigiam que os melhores artistas do país pintassem o mundo natural.

Ao longo de dois séculos, foram pintados quase 7000 velinos que capturavam a grande variedade de flores valorizada na época: rosas, girassóis, lírios e todo tipo de flores e plantas entraram para a história graças à iniciativa.

Aquarela de Nicolas Robert (1614-1685)
Aquarela de Nicolas Robert (1614-1685)

Mas, seria um alemão quem definiria a era de ouro da ilustração botânica e um sueco quem acabaria por moldá-la. O artista Georg Dionysius Ehret, botânico e entomologista alemão, começou sua carreira trabalhando como aprendiz de jardineiro no século XVIII, mas acabou pintando e estudando a natureza em vez de trabalhar nela. Ehret aprendeu com os mestres franceses a reproduzir plantas com seus pincéis, e tal foi sua contribuição que um gênero de plantas com flores pertencentes à família Boraginaceae foi batizado de Ehretia em sua homenagem.

No entanto, apesar de sua marca na história da ilustração botânica, foi o sueco Carl Linnaeus, considerado o pai da taxonomia, quem mostrou a Ehret exatamente o que pintar em suas composições. Lineu idealizou um sistema no qual os detalhes científicos importantes de uma planta ou flor eram pintados ao lado das ilustrações principais.

Na verdade, é possível que esse estilo de representação soe bastante familiar: isso porque seu sucesso o levou a perdurar ao longo do tempo e aparecer inclusive nos livros didáticos atuais.

Exemplo de sistema de ilustração botânica idealizado por Carl Linnaeus, ilustrado por Georg Dionysius Ehret
Exemplo de sistema de ilustração botânica idealizado por Carl Linnaeus, ilustrado por Georg Dionysius Ehret

A natureza num mundo industrializado

Na arte, as flores e plantas logo começariam a ir além das molduras. No final do século XIX e no início do século XX, o "Art nouveau" floresceu e tentou trazer a natureza de volta à vida moderna.

Da arte à moda, design e arquitetura, em um mundo onde a indústria e o metal começavam a ganhar espaço, a natureza e suas formas orgânicas se transformaram num descanso e fonte de inspiração importantíssima para os artistas.

'Flor', Alfonse Mucha (1897)
'Flor', Alfonse Mucha (1897)

Mesmo depois que a fotografia facilitou a captura de imagens botânicas detalhadas com lentes macro, os artistas não pararam de reproduzir a natureza com seus pincéis. Um exemplo disso são os ilustradores botânicos do século XX, como Margaret Mee, que combinou a arte com uma mensagem ecológica.

A pintora dedicou sua vida a registrar a flora da floresta amazônica e suas pinturas são o testemunho de um ecossistema em perigo.

'Bromeliaceae, Ananas bracteatus', Margaret Mee (1964)
'Bromeliaceae, Ananas bracteatus', Margaret Mee (1964)

Embora a humanidade tenha demorado milênios para tentar capturar a beleza das plantas pelo simples prazer de fazê-lo, desde que começamos, foi impossível parar.

A ilustração botânica nos ensinou, nos alertou, nos inspirou e agora é uma forma crucial de nos mantermos conectados a um planeta que pode desaparecer logo.

'Tabebuia umbellata', Margaret Mee (1964)
'Tabebuia umbellata', Margaret Mee (1964)

Na verdade, embora todos carreguemos uma câmera no bolso e tenhamos um arquivo infinito de imagens de todo tipo de flor e folhas à nossa disposição, é muito revelador que ainda queiramos capturar o mundo natural através de nossos olhos, pincelada a pincelada.

Folha da planta conhecida como Costela-de-adão, Luli Reis
Folha da planta conhecida como Costela-de-adão, Luli Reis

Versão em português de @ntams.

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