Nathan Ams
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Ilustração

A aventura de publicar seu primeiro livro infantil, por Flavia Z Drago

  • por Nathan Ams @ntams

Conversamos com esta talentosa ilustradora mexicana

Flavia Z Drago (@flavia_zdrago) estudou design gráfico, mas se especializou em ilustração e livros infantis. Já ilustrou mais de 10 livros, um carré (lenço) Hermès, uma cafeteira Frida Kahlo e xícaras para Chocolate Abuelita, entre muitas outras coisas.

Conversamos com ela sobre sua paixão por contar histórias, suas influências e a experiência de preparar o primeiro livro.

Ilustração de Flavia Z Drago
Ilustração de Flavia Z Drago

De onde vem seu interesse pela ilustração e a paixão por contar histórias?

Desde criança gostava de desenhar o tempo todo e ler sobre pintura. Minha mãe tinha muitas enciclopédias e eu adorava folheá-las. Porém, quando tive que ir para a universidade, não quis estudar Belas Artes porque supus que, se fizesse isso, terminaria criando instalações ou arte conceitual.

Minha irmã, que é 11 anos mais velha, estudou Design Gráfico e suas tarefas me pareciam divertidas, eu vivia grudada nela, vendo como tirava fotos, desenhava logos ou usava o Photoshop, por isso a imitei e estudei a mesma coisa. Depois de me formar, pensei que queria me dedicar ao branding e às embalagens, mas descobri que me entediava. Na verdade, o que queria era desenvolver meu estilo como ilustradora e escrever os livros que gostaria de ter lido quando criança.

Desenho de Flavia Z Drago quando criança
Desenho de Flavia Z Drago quando criança

Quais são suas influências?

Mais do que influências, eu as chamaria de exemplos a serem seguidos. Primeiro, minha irmã, porque graças a ela estudei design e conheci muitas coisas maravilhosas, como a música dos Balcãs, a URSS, os homens-solitários-que-cantam-canções-atrozes (Leonard Cohen, Tom Waits e Nick Cave), a leitura de livros sobre livros etc. Ela é meu ídolo.

Meus ilustradores favoritos costumam ser os que também escrevem seus livros: Carson Ellis, Jon Klassen, Keith Negley, Isol, Paloma Valdivia, Beatrice Allemagna, Sara Fannelli, Anushka, Allepuz, Marta Altés, Tomi Ungerer, Juan Palomino, são muitos. Todos têm estilos muito diferentes, mas admiro sua capacidade de imaginar histórias que me façam rir, surpreendam ou deixem pensando e que, além disso, sejam visualmente belas.

Além disso, sou fascinada pelos manuscritos iluminados da Idade Média, Art Brut, arte Naïf, artesanato mexicano e russo. Amo Bosch, Brueghel, o Velho, Matisse e Chagall. Gosto de assistir muitos filmes de terror e, obviamente, adoro o trabalho de Guillermo del Toro.

Alguns dos livros favoritos de Flavia Z Drago
Alguns dos livros favoritos de Flavia Z Drago

Como definiria seu estilo?

Acredito que o estilo é a mistura das forças e fraquezas de um artista e como ele tira proveito delas; assim como o imaginário que surge da sua experiência, interesse e gosto pessoal.
Visualmente, como sei que a perspectiva não é um dos meus pontos fortes, gosto de distorcer os planos e brincar com a anti perspectiva nas minhas composições, um pouco cubistas, e me concentro mais na abstração do que no realismo. Acredito que o uso da cor seja um dos meus pontos fortes e adoro prestar atenção aos detalhes e à psicologia dos meus personagens, tudo que os cerca tem uma razão de ser.

Ilustração de Flavia Z Drago
Ilustração de Flavia Z Drago

E quanto à temática?

Acredito que meus editores e agente diriam que gosto do obscuro e do cômico. Sou fascinada por contos de fadas, mas em suas versões originais, tenebrosas e distorcidas, cheias de canibalismo, abandono, bruxas, morte e duras lições. Muito do que faço ultimamente está cheio de monstros e seres sobrenaturais.

O que é o melhor da ilustração como meio de comunicação artística e criativa?

A ilustração, ao contrário da arte (especialmente a pós-moderna), não costuma intimidar o público. Não é necessário ir a galerias ou museus onde a obra é tratada como se fosse uma entidade suprema, divina e inalcançável. Não estou dizendo que uma coisa seja certa e outra errada, ou que uma seja superior e outra inferior, simplesmente são diferentes.

Para mim, o maravilhoso da ilustração é que, em geral, trata-se de uma expressão artística acessível em muitos níveis; você pode encontrar e curtir em qualquer lugar, desde livros, tecidos, roupas e tatuagens, até uma animação no seu celular, inclusive na publicidade.

A ilustração forma o mundo cotidiano e vive nele.

"Caperucita Roja gore", de Flavia Z Drago
"Caperucita Roja gore", de Flavia Z Drago

Falemos do seu primeiro livro. Como foi o processo da ideia inicial compartilhada com a editora, até a preparação para publicação?

Ao terminar o mestrado, eu já tinha três ou quatro projetos escritos e estava em negociações para ver com quem assinaria o contrato. Uma pequena editora em Londres (que faz livros lindos) já havia feito uma oferta; por outro lado, há anos eu sonhava em fazer livros com a Walker Books, mas nenhum dos projetos os convencia.

Numa reunião, antes de me despedir, mencionei que tinha outras ideias, entre elas a história de um fantasma muito tímido que, para se proteger, se escondia debaixo de um lençol, mas quando finalmente conseguia vencer a timidez, o lençol ia embora para descobrir o que ele ocultava. Eles riram muito e acharam que poderia ser uma boa ideia, principalmente se misturássemos com o Dia dos Mortos. Foi quando me fizeram uma oferta que não pude nem quis recusar.

Esboços de "Gustavo, the Shy Ghost"
Esboços de "Gustavo, the Shy Ghost"

No início não tinha muito claro como a história se desenrolaria, o que eu sabia é que meu personagem seria um fantasma muito tímido. Comecei desenhando o Gustavo em todas as situações possíveis para saber o que ele gostava de fazer e como reagiria a determinadas situações. Quando criança, eu era muito tímida e tinha dificuldade em fazer amigos, então comecei a escrever sobre minhas experiências e a pensar no que me ajudou a fazer amigos.

Esboços de "Gustavo, the Shy Ghost"
Esboços de "Gustavo, the Shy Ghost"

Depois passei tudo a um storyboard, que é montado organizando os esboços com os textos para ver como funciona a sequência. Normalmente, é preciso editá-lo várias vezes. Para a arte final fiz os desenhos a lápis e tinta em camadas e editei as cores no Photoshop.

Foi um processo muito longo que durou mais ou menos um ano, mas minha equipe me ajudou muito quando eu não sabia como avançar. Agradeço muito que este seja meu primeiro livro porque me representa como autora, tem tudo que gosto: monstros, Dia dos Mortos e cores brilhantes.

Primeiras ilustrações de "Gustavo, the Shy Ghost"
Primeiras ilustrações de "Gustavo, the Shy Ghost"

Quais os problemas que enfrentou e considera mais difíceis durante o processo? Podem ser evitados ou são essenciais para o crescimento, tanto do livro como pessoalmente?

Houve vários erros e acertos durante o processo criativo, mas fomos resolvendo aos poucos. É ingênuo pensar que tudo ficará bem na primeira vez, pois geralmente não é assim. Você tem que ser autocrítico e avaliar seriamente o que funciona e o que não funciona. Às vezes, mesmo que gostemos muito de uma ideia (como o primeiro final do lençol), não é necessariamente o que funciona melhor para a história e temos que aprender a encontrar outros caminhos.

Quais foram os maiores acertos, na sua opinião?

É sempre uma boa ideia confiar que você é capaz de fazer um bom trabalho, acreditar em seu personagem, na importância de contar essa história e que sua equipe também pode ter muita coisa boa a agregar.

Cor final de "Gustavo, the Shy Ghost"
Cor final de "Gustavo, the Shy Ghost"

Do que você mais gosta, criar histórias ou dar vida a elas através do desenho?

Não trabalho como a escritora que se senta para criar sua história até que termine e depois comece a ilustrar. Na realidade, trata-se de um processo simultâneo, muitas vezes as imagens surgem antes do texto. Ambos são inseparáveis e são aproveitados, mas de maneira diferente. O mais difícil é a criação da história porque você quer que tudo faça sentido, que tenha coerência, ritmo e um final surpreendente e quando se alcança isso é incrivelmente satisfatório. Por outro lado, a ilustração é um processo mais relaxado se você souber organizar bem o seu tempo e não deixar tudo para a última hora.

"Rapunkcel", de Flavia Z Drago
"Rapunkcel", de Flavia Z Drago

Tem alguma obsessão como ilustradora?

Por alguma razão descobri que curto, de maneira recorrente, desenhar coisas "medievalosas", animais estranhos, personagens com tapa-olhos, princesas punk, mulheres com pernas peludas e peixes com pernas.

Do que mais gosta em seu trabalho?

O processo criativo, com todas as suas dificuldades. Acho que também é muito bom para mim saber que esse tipo de história aproxima as crianças da leitura, sinto que estou fazendo algo valioso com meu tempo. Também me fascina ver os desenhos que as crianças fazem inspiradas em meus desenhos.

Algum anti-conselho que queira dar aos que queiram começar a ilustrar?

Nunca termine o que já começou.

Detalhe do carré Hermès de Flavia Z Drago
Detalhe do carré Hermès de Flavia Z Drago
Ilustração de Flavia Z Drago
Ilustração de Flavia Z Drago

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