A “sustentabilidade” no Design de Objetos: algumas estratégias

Olá, sou Andrea Bandoni, designer e pesquisadora apaixonada pela criação de objetos. Ao longo dos anos, tenho buscado realizar pesquisas aprofundadas antes de fazer objetos para que eles tenham um forte propósito, provocando, assim, reflexões e novas percepções através do design.

Nosso mundo, hoje, apresenta diversas urgências, e uma delas é causada pela crise ambiental. É preciso que todos os criativos lembrem que seus projetos geram impactos - bons ou ruins - nos ecossistemas que nos rodeiam. Já nos anos 70 o designer Victor Papanek em seu livro “Design para o Mundo Real” nos alertava: há poucas profissões mais prejudiciais do que o design industrial.
Apesar do desgaste do termo “sustentabilidade” - um termo vago que tem sido usado nas mais diversas ocasiões, entendo aqui o “design sustentável” como aquele que começa a indicar mudanças necessárias visando melhorar nossa relação com o planeta. Por isso compartilho, a seguir, algumas estratégias que considero básicas ou fundamentais ao pensar em objetos “sustentáveis”, ou seja, que façam sentido no mundo atual.
1. Prolongar a Vida dos Objetos
O lixo urbano é um dos mais graves problemas da atualidade, está diretamente relacionado à poluição. Diante dessa realidade, uma estratégia é buscar prolongar a vida dos objetos, e uma abordagem que me fascina é a reutilização ou reuso. O projeto "A Extinção dos Copos de Requeijão", por exemplo, mostra como uma mera embalagem pode ganhar nova vida como objeto cotidiano, evitando desperdício. No Brasil, o reuso dos copos de requeijão de vidro (semelhante aos de Nutella) foram um fenômeno em massa, até que foram susbtituidos quase totalmente por embalagens plásticas - uma mudança sem nenhuma participação do design.

De uma maneira diferente, a ideia de "upcycle" ou "reproposição" envolve modificar o produto original, revendo sua função ou forma. O projeto "You Can't Lay Down Your Memories" do designer holandês Tejo Remy é um exemplo inspirador desse conceito. Ele recolheu gavetas de móveis de segunda mão e propôs um gaveteiro feito de gavetas diversas, num formato totalmente novo, que mistura ordem e desordem. O objeto nos faz refletir sobre como guardamos nossas memórias e fica no limite entre arte e design.
2. Enfoque Circular
Abraçar uma abordagem circular é essencial para reduzir o impacto ambiental, e aqui eu destaco a metodologia "Cradle-to-Cradle", que foi explicada num importante livro do início dos anos 2000. Em vez de projetar para a reciclagem – que na visão dos autores significaria tornar os produtos “menos ruins” - os designers são estimulados a buscar projetar produtos de forma que, após suas vidas úteis, tornem-se ‘alimento’ para novos produtos. Essa abordagem rejeita a ideia de lixo, os materiais são “emprestados” da natureza, e devem retornar como “nutrientes".

Desta maneira, todos os produtos têm de fazer parte de ciclos, sejam eles biológicos ou tecnológicos. No ciclo tecnológico os materiais devem ser vistos como produtos de serviço. Uma TV, por exemplo, após ser utilizada e ficar obsoleta, retornaria à fábrica para ser desmontada e ter seus componentes reaproveitados.
Já no ciclo biológico, os materiais dos produtos são devolvidos diretamente à biosfera na forma de composto ou outros nutrientes, a partir dos quais novos materiais podem ser criados. Uma embalagem biodegradável ou um tecido feito de fibras naturais são exemplos desse tipo de produto.
3. Materiais e Processos
O ciclo biológico proposto em "Cradle-to-Cradle" está alinhado com o trabalho de diversos designers contemporâneos que utilizam materiais orgânicos, além de adotar processos limpos. Muitas vezes esses processos são artesanais, como o da designer brasileira Inês Schertel, que usa em seus projetos a lã das ovelhas que ela mesmo cria.
É cada vez mais comum entre os designers criar seus próprios materiais 100% biodegradáveis, com organismos como algas, micélio e bactérias, e a partir daí desenvolver objetos - como faz o estúdio Klarenbeek&Dros. Colaborar com organismos vivos com forte apoio da tecnologia, como faz a designer Neri Oxman, é também uma promessa de interação harmoniosa entre design e natureza.

Refletindo e Imaginando Novos Mundos
Estamos vivenciando uma grande transformação no design, onde a preocupação com o meio ambiente e com a justiça social têm papel crucial. Como designers, temos o poder de influenciar o futuro, e essa é uma oportunidade única. Ao criar objetos, a responsabilidade mencionada por Papanek ressoa profundamente: "você é responsável pelo que coloca no mundo” - e pelos efeitos que essas coisas têm sobre o ele. O pensamento crítico no design de objetos vai além de uma tendência; é uma necessidade: vamos juntos imaginar novos mundos, onde o design não apenas encanta, mas também cuida do planeta. Estou curiosa para ver como você, assim como eu, será capaz de integrar criativamente esses conceitos em seus projetos.
Quer saber mais? Conheça meu curso Design de Objetos Além da Estética na Domestika
0 comentários