Meu projeto do curso: Escrita de romance policial
Meu projeto do curso: Escrita de romance policial
ile Luiza Caporalli @luizahelenacaporalli
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CRIMES PERFEITOS DEIXAM SUSPEITOS
Estou acendendo o que penso ser o meu sétimo cigarro da manhã enquanto observo a jovem desajeitada tentando se sentar de uma forma que a faça parecer menos uma adolescente curiosa e mais uma jornalista investigativa.
Ver uma garota tão sem classe e com a mínima noção de moda me faz sentir um pouco de pena dela, mas não estou em meus momentos mais generosos desde que recebi a notícia que estou sendo incriminada por assassinar um garçom qualquer da cidade.
Observo-a olhando ao redor de minha sala e ajeitando seu óculos verde escuro enquanto tira a tampa da caneta para começar a escrever em seu pequeno bloco de anotações.
Sento-me na poltrona em frente ao sofá branco em que minha convidada ainda está procurando uma posição que a faça parecer menos patética e deixo meu cigarro de lado por alguns minutos.
- Isabela, correto? - pergunto, olhando-a de cima para baixo.
- Sim senhora Amaral. Antes de começarmos gostaria que você soubesse que sou uma grande fã de seu trabalho e… - ela se enrola com as palavras e gesticula demasiadamente enquanto fala - e sinto muito por estar sendo acusada de tudo isso.
- Então você acredita em minha inocência? - respondo com desdém.
- Ah mas é claro, digo, porque é que alguém como a senhora cometeria um crime daqueles? - diz nervosa a jovenzinha.
- Não é isso que você deveria estar me perguntando? - volto o cigarro à boca.
- Sim, justamente por isso achei melhor me desculpar antes de começar - responde ela assertivamente, enquanto endireita suas costas e adota um tom mais dominante - Certo, vamos lá. Senhora Amaral, a senhora é responsável pelo assassinato de Miguel Oliveira?
Olho para a jovem que está vestindo um suéter verde e amarelo, calça jeans, meias coloridas e um all star branco encardido e realmente sinto pena dela.
- Não - cruzo os braços.
- Certo, então onde estava na noite da última sexta-feira?
- Aqui em casa.
- Alguém pode comprovar isso?
- Meus gatos - digo seriamente. A garota arregala os olhos enquanto me olha, não sabendo ao certo se fiz ou não uma piada, percebendo o que acabei de fazer, tento mudar de assunto - Minha vez de fazer uma pergunta, qual a sua idade?
- Eu tenho 19 anos, senhora - responde ela, ainda sem entender.
- Ah, então pode me acompanhar em uma dose de martini, correto? - Levanto e sigo em direção à bancada que divide a sala da cozinha.
- Agradeço, mas não bebo - diz ela, ajeitando novamente os óculos.
- Nunca é tarde demais para começar - pego o gim da geladeira e separo alguns cubos de gelo na bancada.
- Me preocupo mais em ser muito cedo para começar - responde ela, olhando o relógio na mesinha ao lado do sofá.
- Bobagem - respondo, entregando-lhe a bebida, a qual ela olha com curiosidade.
Dou um gole em minha bebida e volto a falar.
- Olha só, eu não matei esse cara. Eu não teria motivo algum para matar esse cara, eu nem ao menos o conheci. Decidi falar com o jornal que você trabalha por ser um dos principais da cidade e porque meu advogado acha que eu deveria tentar “limpar” um pouco minha imagem - reviro os olhos enquanto falo as últimas palavras.
A jovem pigarreia.
- Então por que é que você, sei lá, não faz uma matéria bem legal dizendo como eu sou limpinha, educada e tenho uma casa do caralho?
Suas bochechas coram ao meu ouvir falando um palavrão.
- Eu não poderia senhora…
- Chega dessa coisa de senhora, eu não tenho nem 30 anos, me chame de Alana, tudo bem? - interrompo-a.
- Certo, Alana, sendo a primeira entrevista que a senhora.. quer dizer, você, concede, precisamos que seja rica em detalhes… sabe como é, o pessoal da cidade tem certeza que foi você que cometeu o homicídio, então o maior número de informações que você puder me dar sobre o caso… sabe, será melhor para você - discorre ela entre pausas.
Respiro fundo.
- Eu não conheço o cara. Eu sei que estão vazando imagens de segurança de um posto de combustível em que aparecemos discutindo, mas eu não o conheço. Ele chegou brigando comigo por algo que eu nem entendi ao certo, mas como pôde ver nas filmagens, também não fiquei por muito tempo para tentar entender.
Malditas filmagens de uma maldita câmera de segurança. Na última sexta-feira fui abastecer meu carro, aproveitei para comprar um maço de cigarros na cafeteria do posto, quando do nada surgiu um rapaz me xingando.
Estava com uma puta ressaca e não entendi nada do que ele estava falando, só me lembro de ter gritado de volta com ele por ele ter tocado em meu ombro, mas não sei quem ele era ou porque estava gritando comigo.
Não fiquei muito tempo para descobrir quando percebi que a gritaria daquele imbecil estava atraindo um grande grupo de curiosos. Entrei no meu carro e saí correndo para longe dali.
Havia publicado meu livro há alguns meses e tinha acabado de atingir o top 1 de vendas no país, a última coisa que eu queria era ser associada a uma briga qualquer em uma cidade patética.
Meu futuro inteiro dependia da minha reputação e não ia deixar essa cidade idiota arruinar isso.
Mas aparentemente aquele imbecil do posto de gasolina estava disposto a arruinar isso por mim, tão comprometido com o objetivo que decidiu tirar a própria vida usando a exata técnica que eu usei para escrever meu best-seller.
É claro que eu não poderia dizer isso. De acordo com o advogado que contratei para me defender diante dessas acusações idiotas, me aconselhou que culpar a vítima seria uma péssima jogada e que deveríamos focar em provar minha inocência, não solucionar o caso de um mal-amado que foi encontrado sozinho em sua casa dias após sua morte.

1 yorum
Congratulations. The story starts very well and has rhythm. In addition, the construction of the atmosphere from the perspective of the main character is seductive. Go ahead, I feel a good novel.
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