Carlos Rodríguez Casado: o ilustrador que arrasa com suas capas editoriais

Revisamos os momentos mais importantes da trajetória profissional do ilustrador espanhol
Um simples olhar sobre a trajetória de Carlos Rodríguez Casado (@carlosrodriguezcasado) impressiona qualquer pessoa com interesse no mundo da ilustração. O ilustrador espanhol já publicou seus cartuns em revistas como Interviú, Jot Down, El Jueves e Líbero, entre outras publicações internacionais.
É também habitual vermos seu trabalho nas páginas do jornal espanhol El Mundo, retratando celebridades e personalidades do mundo da política, com desenhos que costumam chegar até a ser capa. Recentemente conquistou com seu portfólio a medalha de ouro no 2020 ÑH Awards, prêmio de design jornalístico em mídias da Espanha, Portugal e América Latina.
Conversamos com Carlos Rodríguez Casado, professor da Domestika, sobre sua carreira, seus melhores trabalhos, seu caminho para se tornar um ilustrador profissional, mas também de sonhos - como o de conseguir publicar uma das capas míticas da The New Yorker - e sobre como atingiu o nível de concentração que lhe permite viver fazendo sempre aquilo que ama. Algo que, diz ele, aprendeu muito cedo.

Olá Carlos, você tinha apenas 22 anos quando uma de suas peças se tornou a imagem oficial da quinta temporada da série da MTV Teen Wolf, nos Estados Unidos. O trabalho foi até mesmo exibido em Times Square e no Art Directors Club de Nova York. Como é entrar por uma porta tão grande?
Foi maravilhoso conseguir isso. Tudo começou em uma viagem a Nova York, que também foi minha primeira saída sozinho pelo mundo. Tinha na mala uma pasta com os meus primeiros trabalhos para mostrar e através de contactos que fiz quase por acaso conheci a pessoa que abriu essa porta enorme para mim.
Na época eu pensava “agora vou decolar e muitas propostas virão”. Foi um projeto de uma grande exposição, que até tinha meu nome escrito embaixo, e esperava que tivesse muito impacto, mas no final não ajudou a divulgar meu trabalho como eu queria. A princípio isso me decepcionou um pouco, mas logo percebi que foi melhor assim. Estava ainda muito verde.

O que você quer dizer exatamente com “estava ainda muito verde”?
Na Espanha meu trabalho estava apenas começando, meu portfólio não era sólido, eu tinha três ou quatro trabalhos importantes e estava um pouco desequilibrado. Precisava de solidez em tudo, no estilo, na variedade de clientes... Precisava me conhecer mais e interagir mais com os outros.

Você entendeu isso cedo?
Tive que entender, porque ter alguma rodagem é muito necessário, não só para amadurecer como ilustrador, mas também para entender a nossa profissão, que pode ser muito instável. Certa vez, deixei de publicar regularmente para me dedicar a empregos mais estáveis e poder me sustentar.
Lembro-me de um desses trabalhos decorando cestas de Natal em uma promoção de supermercado. Era muito chato e ninguém parava, mas quando comecei a desenhar personagens nas cestas, as pessoas começaram a se interessar e a pedir para desenhar retratos de seus parentes. Foi divertido e me fez perceber que, se eu não me afastasse do desenho, não estava me afastando de meus objetivos. No processo, aprendi coisas como desenvolver meu portfólio e gerenciar melhor minhas redes sociais.

Como podem as redes sociais ajudar a polir o estilo de um ilustrador?
Parte de expor seu trabalho envolve interagir com as pessoas que o seguem, entendendo o que elas gostam de ver, sabendo que respostas você tem para o que você faz. Por exemplo, faço muitos diretos e ouço reações ao vivo, isso me ajuda a conhecer meu público, mas procuro não condicionar minha forma de trabalhar ou produzir apenas baseado nas coisas que funcionam nas redes.
Costumo colocar stickers para que as pessoas sugiram quem desenhar e assim gerar material extra. Para o meu trabalho editorial estou bastante condicionado com o que posso mostrar e como. Em geral, não mostro o que venho trabalhando até que seja publicado, o que me obriga a gerar material específico para redes, e esse material não faz parte da interação.

No seu Instagram tem muita ilustração queer, algo que nunca vemos de você oficialmente…
Tento fazer com que apareça nos meus projetos, mas é verdade que gostaria de desenvolver uma linha de trabalho mais queer. Não só porque, como pessoa LGBT, é um mundo que me fascina, mas também porque estou comprometido com a sua visibilidade. Por causa da forma como as agendas são definidas na grande mídia, geralmente não tenho a oportunidade de incluir essa paridade e diversidade em meu portfólio, então, sempre que posso, faço isso em minhas redes.
Como você lida com as divergências ideológicas próprias do trabalho de um ilustrador em uma grande mídia?
Selecionar é um luxo. Se essa é a sua forma de sustento, nem sempre pode esperar coincidir com tudo. Às vezes me pergunto qual será o tom e consigo encaixar, mas tenho a sorte de até agora ter trabalhado mais do que qualquer coisa com personagens esportivos e culturais, que gosto muito de desenhar porque me permitem explorar outras dinâmicas e evoluir no meu trabalho. Eles geralmente não me trazem grandes dilemas morais.

Você pode expressar o que pensa sobre um personagem por meio de sua ilustração?
Se não gosto do personagem, é inevitável que algo se note. Mas eu nem faço de propósito, acho que sai do inconsciente e se você sabe olhar, dá para ver.
Você se sente pressionado quando precisa ilustrar pessoas que você sabe que verão o que você está fazendo? Como quando você fez a ilustração do Rei Felipe VI...
O trabalho do Rei. Uff sim. Esse trabalho foi uma loucura, porque era uma capa, uma contracapa e três páginas duplas. Em três ou quatro dias nessas três páginas duplas, fiz a cabeça dele, o tronco, as pernas, os pés, fui juntando quase em tamanho real e tive que colocar as peças na cama enquanto fazia porque não cabiam mais na mesa. Não estava nervoso com o personagem em si. Estava muito focado em seguir minha linha e responder bem à tarefa. Foi um trabalho desafiador, mas me excito quando pedem algo diferente (risos).



Você tem uma rotina especial para ser mais produtivo em dias agitados?
Quando tenho dias de muito trabalho, tento conseguir fazer alongamentos e comer de forma saudável, mas me concentro apenas em tentar fazer o trabalho, essa é a prioridade. Em geral, te dizem quantas horas uma encomenda vai demorar, mas ninguém leva em conta que você tem de comer, tomar banho, fazer a barba. Eu pulo tudo, como o suficiente e deixo a casa no caos.

Qual kit de materiais e quais técnicas você está usando?
Curiosamente, ainda são os mesmos de quando comecei: aquarela combinando trabalho sobre seco e sobre úmido. Minha paleta de cores não mudou nada, embora tenha experimentado novas marcas e aprendido sobre a importância de escolher materiais para que suas obras sejam preservadas ao longo do tempo com a melhor qualidade possível.
Eu uso muito as marcas Winsor & Newton e Daniel Smith para as cores (estou especialmente apaixonado), e quanto ao papel, o meu preferido é o Arches de granulação fina, às vezes em bloco colado outras vezes em folhas soltas, mas sempre me certifico de que seja 100% algodão ou com a maior porcentagem possível de algodão em sua composição. Ultimamente também estou tentando usar pincéis que carreguem mais água do que os que estou acostumado, como os da marca Princeton.
Vamos revisar alguns dos trabalhos que você mais se orgulha?
Vamos...
1. Rafa Nadal
Este trabalho foi uma noite sem dormir. Tinha muito claro a pose que queria e sabia que a raquete tinha que ficar em primeiro plano. Embora eu tivesse uma foto com essa pose, não queria plagiar o fotógrafo, então resolvi combinar várias imagens para conseguir aquela expressão de esforço.
Em geral, não preciso ir muito longe com uma imagem para saber se vou gostar ou não do meu trabalho. Quando não funciona, reconheço e recomeço. Mesmo assim, quando acabo, nunca gosto do que faço. Acho difícil estar confortável com um trabalho ao fazê-lo. Eu o entrego sem estar convencido e sentindo que precisa ser amadurecido. Mas, no final, a pressa talvez seja até melhor, porque você mantém uma certa espontaneidade. Com o tempo, eu acabo olhando para um trabalho e pensando, "bem, não está tão ruim".

2. Joe Biden
Tive um dia para este projeto e não tinha nenhuma certeza de que Biden iria vencer as eleições. Como muitos de meus colegas de profissão, eu queria que Trump desaparecesse do cenário político e não precisasse mais desenhá-lo, e é daí que vem aquela expressão feliz e confiante, e até mesmo de alívio.
Quando você trabalha com tão pouco tempo, a espontaneidade às vezes conta mais do que você pensa, e quando terminei achei que me lembrava um pouco as peles rosadas das pinturas de Norman Rockwell, que é uma referência da ilustração política americana. É engraçado como a cabeça combina influências quase automaticamente.

3. Stephen Hawking
Esta é uma ilustração que adoro. Me permitiu sair de uma época de poucos trabalhos e, além disso, com esta ilustração meu estilo começou a mudar. Tecnicamente, encontrei uma maneira de usar texturas e, em respeito ao caráter, busquei capturar sua personalidade inteligente e a calma que irradiava ternura. Fiz um acréscimo digital, uma galáxia que no final decidiram cortar. Isso também faz parte do trabalho editorial: cortarem suas imagens.
O designer de uma publicação pode ser seu melhor amigo ou pior inimigo quando chega a hora de publicar o trabalho. Felizmente, me dou bem com as pessoas que estão encarregadas do meu trabalho e passei a compreender que não posso controlar tudo.

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Versão em português de @sergiofelizardo.
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