Arte

10 referências de Rosalía ao mundo da arte

Goya, Botticelli, Frida Kahlo... comentamos 10 obras de arte que inspiram os clipes e imagens de Rosalía em Motomami

Rosalía lançou Motomami, seu aguardado terceiro álbum, em 18 de março e já é número 1 em plataformas como Spotify. O disco despertou interesse tanto da crítica especializada quanto dos usuários das redes sociais.

Dentre aqueles que se dedicaram a analisá-lo, os especialistas em arte foram os mais celebrados por descobrirem símbolos e referências ao mundo da arte clássica no trabalho da artista catalã. A mais destacada é a historiadora espanhola Clara González Freyre de Andrade (@Claramore_ no Twitter) que analisou a obra de Rosalía para interpretar a complexidade e riqueza de suas influências artísticas.

A seguir, resgatamos algumas alusões da cantora à arte clássica e recuperamos revelações surpreendentes sobre o poderoso simbolismo de sua criatividade.

O novo álbum 'Motomami' e o universo de Rosalía são repletos de referências artísticas complexas
O novo álbum 'Motomami' e o universo de Rosalía são repletos de referências artísticas complexas

Motomami: as influências visuais do novo álbum

As influências artísticas na obra de Rosalía são múltiplas e complexas. A arte clássica é uma referência onipresente, mas há muito mais por trás das escolhas estéticas e artísticas deste novo trabalho. A arte do álbum Motomami se alimenta de quatro influências:

a) Estética oriental: a música Chicken Teriyaki é influenciada, segundo a cantora, pelo estilo Kawaii, estética japonesa que busca despertar a ternura.

b) Cinema de autor: referências a filmes clássicos podem ser encontradas em quase todos os trabalhos de Rosalía. Um exemplo disso pode ser visto no novo videoclipe Candy in Motomami, que se passa em Shibuya, Japão, e alude ao filme Lost in Translation (Encontros e Desencontros em português).

Rosalía também usa referências do cinema de autor
Rosalía também usa referências do cinema de autor

c) Conceitos espirituais: além das evidentes referências católicas e espanholas, Rosalía apela a conceitos espirituais de outras filosofias. Em um interessante fio no twitter, o usuário @carl_mart se aprofunda em algo que ele chama de "a morte do eu" e a necessidade da artista de renascer através de símbolos.

d) Poesia: a obra de Rosalía é repleta de metáforas. Em Motomami, o conceito da flor de sakura é um recurso poético usado para encerrar o álbum. Nesta música, ela evoca a imagem da flor da cerejeira para se referir à sua carreira como popstar "que es muy bella pero dura poco" (que é muito bonita, mas dura pouco". Rosalía se desassocia de seu sucesso, não só ao encerrar o álbum com essa afirmação, mas também lançando o novo trabalho justamente na semana em que a Sakura floresce.

10 referências à arte na obra de Rosalía

Se quiser descobrir a influência da arte clássica nas imagens de Rosalía, aqui apresentamos 10 referências, das mais recentes às mais antigas.

1. Capa de Motomami (2022)

Referência: O Nascimento de Vênus, de Sandro Botticelli e a capa de Originals, o álbum de Prince

Na capa da Motomami, Rosalía aparece com um capacete de moto, uma tatuagem no peito e, na região pubiana, podemos ver um rabisco feito com caneta. Aqui já existe, no entanto, uma referência a um quadro clássico.

Com uma mão no peito e outra no púbis, a cantora evoca o pudor da deusa da beleza e da fertilidade retratada pelo célebre artista renascentista Sandro Botticelli.

Rosalía, 'O Nascimento de Vênus' de Botticelli e Prince
Rosalía, 'O Nascimento de Vênus' de Botticelli e Prince

O nome do álbum, em estilo stencil, contrasta com a suavidade da referência, que também dá pistas da sonoridade e incorpora outra alusão: Originals, compilação dos maiores sucessos de Prince, lançada em 2019, três anos após a morte do artista pop que também amava as motocicletas.

Sobre a obra: O Nascimento de Vênus ou La nascita di Venere de Botticelli foi pintado entre 1482 e 1485, em pleno Renascimento. É a primeiro quadro em tela pintado na Toscana, Itália. A obra está atualmente no Museu Uffizi em Florença.

A obra transmite a sensibilidade característica do Renascimento, renovando a representação dos mitos da Antiguidade Clássica, nos quais os renascentistas encontravam verdades ocultas sobre a natureza humana. Uma verdadeira defesa do humanismo antropocêntrico contra o teocentrismo do passado.

Botticelli pintou 'O Nascimento de Vênus' entre 1482 e 1485 no período renascentista
Botticelli pintou 'O Nascimento de Vênus' entre 1482 e 1485 no período renascentista

2. Chicken Teriyaki (videoclipe, 2022)

Referência: Arroz e frango, de Jean Michel Basquiat

Antes de Motomami ser lançado para o mundo, vazou a informação de que Rosalía havia criado uma conta no Twitter, @holamotomami, que reunia referências artísticas para seu novo trabalho.

Na conta, a artista compartilhou uma imagem da obra Arroz e frango, de Jean Michel Basquiat.

Basquiat e comida chinesa
Basquiat e comida chinesa

Embora naquele momento ninguém pudesse prever exatamente quais elementos serviriam de inspiração, hoje parece claro que o clipe de Chicken Teriyaki também saiu dessa paleta de cores.

Sobre a obra: Nos anos 1970, Jean-Michel Basquiat (Nova York, 1960-1988) produzia grafites enigmáticos na cidade de Nova York ao lado do parceiro Al Díaz e os assinava com o pseudônimo SAMO©, sigla para Same Old Shit.

Além dos grafites, Basquiat pintava cartões postais, roupas, portas e grandes telas. Hoje, o artista inconformista e autodidata é visto como um dos grandes nomes da arte na segunda metade do século XX. Arroz e frango foi pintado em 1981.

'Arroz e frango' de Basquiat é uma das referências à arte no novo álbum de Rosalía
'Arroz e frango' de Basquiat é uma das referências à arte no novo álbum de Rosalía

3. La noche de anoche (2020)

Referência: Arquitetura à luz da lua, de René Magritte (1956)

Embora a sonoridade deste hit de Rosalía - feito em colaboração com Bad Bunny - tenha pouco da arte clássica, a artista se manteve fiel ao seu estilo, evocando influências culturais europeias para estabelecer uma conexão entre seu universo e essa colaboração com o artista latino-americano.

Alguns especialistas também apontam referências à obra de Giorgio de Chirico em algumas das paisagens e na paleta de cores em que os protagonistas desenvolvem seu romance ardente.

Magritte poderia estar presente nesta canção de Rosalía
Magritte poderia estar presente nesta canção de Rosalía

Sobre a obra: durante a segunda década de 1900, o pintor surrealista belga René Magritte reproduziu objetos e pessoas convencionais usando uma técnica semelhante aos renders de hoje, dotando suas pinturas de uma aparência realista.

Magritte, no entanto, caracterizou-se por agrupar esses objetos reais de forma paradoxal através da livre associação, buscando criar uma sensação estranha e misteriosa.

Como em outros de seus quadros, em Arquitetura à luz da lua ele usa a lua como foco de inspiração e evoca, segundo a crítica especializada, uma estética futurista que gera inquietação, sensação que o artista procurava explorar deliberadamente.

A obra 'Arquitetura à luz da lua', de René Magritte
A obra 'Arquitetura à luz da lua', de René Magritte

4. A palé (2019)

Referência: A Duquesa de Alba, de Francisco Goya

Uma das características mais fortes da primeira etapa da carreira de Rosalía é a intenção de se aprofundar em suas raízes espanholas.

Não só o flamenco e os trajes típicos estão presentes em sua obra, mas também as constantes referências às pinturas mais importantes da arte clássica espanhola. Rosalía flerta com antigos padrões estéticos, embora geralmente interfira ou os simplifique para atualizá-los.

Goya e trap
Goya e trap

No videoclipe de A palé, Rosalía usa o mesmo vestido da Duquesa de Alba nesta obra de Goya, limitando-se a usar um único laço, mas isso já é o suficiente para que a obra seja reconhecida como referência.

Sobre a obra: O Retrato da Duquesa de Alba é uma pintura a óleo realizada em 1795 por Francisco de Goya e que integra a coleção dos Alba, localizada no Palácio de Liria, em Madrid.

Trata-se de uma obra muito valiosa. Nela, a dama da corte é representada com um vestido branco simples e laços vermelhos.

'Retrato da Duquesa de Alba', de Goya
'Retrato da Duquesa de Alba', de Goya

5. A palé (2019)

Referência: Autorretrato com cabelo solto, de Frida Kahlo (1947)

Embora inicialmente as referências estéticas de Rosalía em relação às artes visuais tenham sido espanholas e reforcem sua identidade, a única exceção é a incorporação de citações e homenagens a Frida Kahlo.

Muito antes da artista catalã se abrir para influências orientais e sons latinos, esse tipo de referência marcou sua abertura a outras culturas e características globais que hoje caracterizam Motomami.

A referência do clipe de Rosalía se encontra principalmente no enquadramento, na seriedade e nas clássicas monocelhas.

Rosalía e Frida
Rosalía e Frida

Sobre a obra: este autorretrato de Frida Kahlo é um dos mais famosos da artista. Foi pintado enquanto se recuperava de uma cirurgia na medula espinhal e acredita-se que seja um desejo de agradar seu amor, Diego Rivera, que costumava elogiar os longos cabelos da artista.

Um fato curioso sobre essa pintura é que, embora Frida afirme no texto ter 37 anos, tinha 40 quando a pintou.

Autorretrato de Frida Kahlo
Autorretrato de Frida Kahlo

6. Yo X Ti Tu X (2019)

Referência: A Dança e a série Nu Azul (1910 e 1952)

No clipe que Rosalía rodou em Osuna, os especialistas em arte conseguiram detectar uma referência particularmente complexa: a dos dançarinos azuis que giram em volta da cantora.

Esses elementos foram interpretados como uma citação dupla. Trata-se de uma evocação da coreografia pintada por Matisse no quadro A Dança e, simultaneamente, outra que se refere a um clássico: a série Nu Azul, do mesmo artista.

Rosália e os Nus Azuis
Rosália e os Nus Azuis

Sobre a obra: ao lado de Picasso, Matisse é considerado um dos grandes artistas do século XX. Em A Dança, ele pinta um de seus fetiches: o retorno à mítica Idade de Ouro.

Segundo sua visão, o ser humano tinha uma forma menos complicada de encarar a vida e poderia ser feliz dançando e cantando. Nesta obra é possível ver seu fascínio pela arte primitiva. Também alcança, de acordo com especialistas, o objetivo de transmitir o dinamismo da dança.

Na outra referência, Nu Azul, Matisse exibe seu uso magistral da cor e outra de suas paixões: o voyeurismo.

'Nu Azul', de Henri Matisse
'Nu Azul', de Henri Matisse

7. El mal querer. Cap 2: Boda - Que no salga la luna (2018)

Referência: As Duas Fridas, de Frida Kahlo (1939) e Ángeles e Fuensanta, de Julio Romero de Torres (1909)

A apresentação de El Mal Querer consistiu numa narrativa de 11 capítulos cujas representações foram criadas por Rosalía em colaboração com Filip Custic, reconhecido artista hispano-croata radicado em Madri.

Cada capítulo evoca obras de arte e simbolismos especiais, mas, sem dúvida, um dos mais celebrados pelos fãs foi esta citação do famoso quadro de Frida Kahlo, As Duas Fridas.

A obra foi criada pela pintora mexicana durante uma de suas separações de Diego Rivera. Nela, representou seus dois eus: a Frida que Diego havia amado e a atual, abandonada.

Rosalía e Frida
Rosalía e Frida

Sobre a obra: a segunda obra que esta imagem de Rosalía evoca é Ángeles e Fuensanta, considerada um retrato magistral de Julio Romero de Torres.

Sua força está na sutileza ao revelar a individualidade e a conexão das personagens simultaneamente. Devido aos gestos das mulheres pintadas, a pintura foi considerada erótica para a época.

'Ángeles e Fuensanta', obra de Julio Romero de Torres (1909)
'Ángeles e Fuensanta', obra de Julio Romero de Torres (1909)

8. El mal querer. Cap 4: Disputa - Tú de aquí no sales (2018)

Referência: Ofélia, de John Everett Millais (1851)

No capítulo quatro da narração de El Mal Querer, Rosalía revisita uma iconografia bastante espanhola para falar de uma história de amor sufocante e patriarcal.

Esta é a parte mais agressiva do álbum, assim como a mais arriscada e experimental. Embora o contexto remeta à estética cyberpunk, seguem existindo símbolos nacionais como os moinhos de vento e, claro, referências à arte clássica.

No clipe de Tú de aquí no sales, Rosalía retoma o drama da famosa obra de Millais e o combina, segundo outros especialistas, com cenas do filme Apocalypse Now.

Rosalía como a Ofélia de Millais
Rosalía como a Ofélia de Millais

Sobre a obra: realizada em 1851, Ofélia aborda a morte da personagem homônima do dramaturgo britânico William Shakespeare em Hamlet, uma de suas peças mais emblemáticas.

Traduzindo a linguagem de Shakespeare em uma imagem marcante que evoca a tragédia de Ofélia, Everett consegue representar o gesto atordoado da moça e seu transe diante da morte, que a encontra quando está no campo colhendo flores, sobe em um galho de árvore e cai na água.

A obra Ofélia, de John Everett Millais
A obra Ofélia, de John Everett Millais

9. El mal querer. Cap 6: Preso (2018)

Referência: Laranjas e limões, de Julio Romero de Torres (1927)

A obra citada nesta outra colaboração com Filip Custic destaca mais uma vez a natureza sensual e transgressora de um retrato de Julio Romero de Torres.

Neste caso, laranjas e limões representam simbolicamente a delícia dos seios de uma jovem. Rosalía não mostra seu torso nu nesta imagem, porém, ao contrário do original, deixa o dedo afundar em uma das frutas em um gesto também ousado.

Laranjas, limões e Rosalía
Laranjas, limões e Rosalía

Sobre a obra: como a própria Rosalía, Julio Romero de Torres foi um artista espanhol integral. Nasceu em uma família de artistas, era apaixonado pelo flamenco e tocava violão divinamente.

Sua obra se caracterizava por conhecer as raízes profundas dos temas que pintava e é considerada um emblema do andaluz que se afasta do clichê turístico para retratar um lado mais sombrio.

A partir de 1905, alimentado por muitas viagens, seu trabalho começou a mudar e incorporou a presença da mulher fatal.

'Laranjas e limões', obra de Julio Romero de Torres
'Laranjas e limões', obra de Julio Romero de Torres

10. El mal querer. Cap 8: El éxtasis. Di mi nombre (2018)

Referência: A Maja Vestida, de Francisco Goya (1800 - 1808)

Embora pareça que Rosalía simplesmente assume a pose de A Maja Vestida, a evocação vai além. É sua atitude sexy e provocante que manifesta desejos sensuais de forma direta e invoca a polêmica despertada pela obra.

Rosalía e 'A maja vestida'
Rosalía e 'A maja vestida'

Sobre a obra: A Maja Vestida é uma obra de referência na arte espanhola, mas não se sabe muito sobre ela. Na época, foi transferida para o Depósito General de Secuestros da Rua Alcalá, em Madri, onde foi confiscada por ser considerada uma pintura obscena.

Especialistas em história explicam que o aspecto obsceno dessa pintura pode ser encontrado na maneira como a mulher se deita, como se se oferecesse e, sobretudo, olhando diretamente para o observador, algo nada comum para a época.

'A Maja Vestida', uma das obras mais reconhecidas de Francisco Goya
'A Maja Vestida', uma das obras mais reconhecidas de Francisco Goya

Existem muitas outras influências fascinantes na obra de Rosalía, incluindo a pinturas renascentistas da Imaculada Conceição e alguns retratos de Francis Picabia (todos no álbum El Mal Querer).

Motomami acaba de ser lançado e certamente revelará mais da riqueza criativa de Rosalía. Você conhecia essas referências? Conhece outras? Deixe seus comentários no final do artigo.

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Versão em português de @ntams.

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