Anielizabeth

Eu sou a Anielizabeth.
Nome de batismo. Não é nenhuma junção de nomes de parentes e nem homenagem à família real britânica. Durante muito tempo, um nome difícil de ser pronunciado e motivo de vergonha na escola e outros locais onde era necessária alguma exposição pessoal. Talvez ainda cause algum embaraço, senão não estaria dedicando um parágrafo inteiro a ele. Hoje eu gosto desta figura do trem.
Demorei a escrevê-lo sem algum auxílio. Aprendi a ler e escrever sem dificuldade, mas meu nome não... Precisava copiá-lo, usava duas linhas a partir da letra z e o comparava a um trem. Cada letra um vagão. Nunca acabava.
Sempre gostei de correr e de dançar. E de ler, entre uma coisa e outra. Gostava também de desenhar. Era tudo meio junto, como uma linha contínua. Tudo meio transposto e tudo em movimento. Pelo menos essa é a minha lembrança.
Lembro também que não havia muito uma hierarquia entre escrever e desenhar. Uma coisa completava a outra, então acho que desde cedo eu já criava livros ilustrados, com narrativas verbais e visuais se interpondo. Uma brincadeira muito comum com a minha Barbie era desenhar tudo o que ela ia viver na brincadeira. Quando o desenho não bastava, escrevia. E vice-versa. Depois costurava as roupinhas que queria que ela vestisse e modelava um ou outro cenário com massinha de modelar. Isso durava dias...
Isso me atenta para o quanto eu sempre coloquei a palavra lida e escrita no meio de atividades puramente manuais e hoje compreendo que nada é puramente uma coisa só. Neste caso, gesto e pensamento se alimentam um do outro e meu prazer criativo reside aí, nesta relação. Talvez por isso desenhe tanto, talvez por isso escreva tanto... talvez por isso recentemente tenha voltado a dançar também. Gosto das histórias que meu corpo me proporciona.
Minha escrita é corporal e também digressiva. E é imagética. Costumo dizer que nem gosto de desenhar. Gosto mesmo é de narrar e, na maioria das vezes, isto acontece por meio da forma.
Bom... Estudei ilustração na Scuola Internazionale de Illustrazione Stepan Zavrel, Sàrmede - Itália. Desde 2008 atuo como ilustradora, com ênfase em livros de literatura infantil e juvenil, com cerca de 50 livros publicados no Brasil e alguns no exterior. Já escrevi algumas coisas, mas profissionalmente, lancei apenas uma pequena coleção para a Primeira Infância. A palavra publicada me assombra. Mas, desde a escrita da minha dissertação tenho gostado da ideia do desafio de escrever. E o corpo tem solicitado dar fim a alguns silêncios.
Recentemente realizei a Oficina de Criação e Experimentações em Papel, desenvolvida em formato on line e presencial. Esta Oficina nasceu inspirada em minha pesquisa de Mestrado, que envolve a exploração da ideia de poética como o ato de fazer e pensar através das mãos. Adoro investigar processos de criação, pensando na formação da materialidade daquilo que criamos.
Acredito também que estilo não é definir se se prefere ilustrar com esta ou aquela técnica. Estilo tem a ver com um discurso próprio, pessoal e intransferível. Tem a ver com as histórias que vivem dentro de nós e que desejamos mostrar ao mundo. A escolha da técnica dialoga com este estado interior. Pensar sobre isso é o que me instiga a criar e trabalhar com texto escrito e imagético, em qualquer espaço onde seja possível. Daí a minha escolha por cursar a faculdade de História.
Acredito na fluidez das fronteiras e caminho me desequilibrando entre elas. Gosto do que transita, do que não é binário e exploro cada vez mais as multiperspectivas e a multidisciplinaridade. Atuo repensando as ferramentas do status quo e sei que as ferramentas do senhor nunca derrubaram a casa grande, para citar Audre Lorde. Assim, minha imagem, meu discurso e meu interesse caminham por descolonizar meu conhecimento, aproximando-o do meu corpo, transformando gesto e pensamento em uma coisa só, ao contrário da lógica vigente no norte global.
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I'm Anielizabeth.
Baptism name. It's not a combination of family names or a tribute to the British royal family. For a long time, a name that was difficult to pronounce and a source of embarrassment at school and other places where some personal exposure was needed. Perhaps it still causes some embarrassment, otherwise I wouldn't be dedicating a whole paragraph to it.
It took me a while to write it without some help. I learned to read and write without difficulty, but not my name... I had to copy it, I used two lines starting from the letter z and compared it to a train. Each letter a wagon. It never ended. Today I like this figure of the train.
I always liked running and dancing. And to read, between one thing and another. I also liked to draw. It was all sort of together, like a continuous line. Everything half transposed and everything in motion. At least that's my recollection.
I also remember that there wasn't much of a hierarchy between writing and drawing. One thing complemented the other, so I think that from an early age I already created illustrated books, with verbal and visual narratives interposed. A very common game with my Barbie was to draw everything that she would experience in the game. When drawing wasn't enough, he wrote. And vice versa. Then he sewed the clothes he wanted her to wear and modeled one or two sets with modeling clay. It lasted for days...
This makes me aware of how much I have always placed the read and written word in the midst of purely manual activities and today I understand that nothing is purely one thing. In this case, gesture and thought feed each other and my creative pleasure lies there, in this relationship. Maybe that's why he draws so much, maybe that's why he writes so much... maybe that's why he recently started dancing again too. I like the stories my body gives me.
My writing is corporal and also digressive. And it's imagery. I often say that I don't even like to draw. What I really like is narrating and, most of the time, this happens through form.
Well... I studied illustration at Scuola Internazionale de Illustrazione Stepan Zavrel, Sàrmede - Italy. Since 2008 I work as an illustrator, with emphasis on children's and youth literature books, with about 50 books published in Brazil and some abroad. I've already written a few things, but professionally, I've only released a small collection for Early Childhood. The published word haunts me. But since writing my dissertation I have liked the idea of the challenge of writing. And the body has asked to put an end to some silences.
I recently held the Paper Creation and Experimentation Workshop, developed in an online and face-to-face format. This Workshop was born inspired by my Master's research, which involves exploring the idea of poetics as the act of doing and thinking through the hands. I love to investigate creation processes, thinking about the formation of the materiality of what we create.
I also believe that style is not defining whether one prefers to illustrate with this or that technique. Style has to do with its own, personal and non-transferable discourse. It has to do with the stories that live inside us and that we want to show the world. The choice of technique dialogues with this inner state. Thinking about this is what instigates me to create and work with written and imagetic text, in any space where possible. Hence my choice to attend the Faculty of History.
I believe in the fluidity of borders and I walk unbalanced between them. I like what transits, what is not binary and I explore multiperspectives and multidisciplinarity more and more. I work by rethinking the tools of the status quo and I know that the Lord's tools never brought down the big house, to quote Audre Lorde. Thus, my image, my discourse and my interest aim to decolonize my knowledge, bringing it closer to my body, transforming gesture and thought into a single thing, contrary to the prevailing logic in the Western world.