Rosa da Costa

Rosa da Costa

Guarujá, Brasil

Rosa da Costa

Onde é local físico tangível e legítimo, mas eu vim do ilegítimo. Eu vim das estrelas, vim de onde vocês chamam de céu. Tenho aversão à crueldade humana diária, aquela disfarçada de bem, de coisa boa, de gente que está preocupada em se destacar buscando ascensão social o tempo todo. Tenho aversão a humanos megalomaníacos. Eles estão em toda parte, em cada ingênuo post de uma rede social à postura ereta do “olhem pra mim” do bonitão que anda na praia. Prefiro os desleixados, os que fluem como rio, que caíram fora das armadilhas do sistema do “olhem pra mim” e entendem a vida por aqui como uma óbvia brevidade de fazer de conta que é. Prefiro os que riem largados, os que não usam Linkedin, nem leem ou leram a revista Você S/A. Você é muito mais que S/A. Não é sociedade anônima e ou anômala. Você é livre, mesmo que nem imagine e são estes ‘vocês’ que ainda me contagiam como irmãos do mesmo lugar. Fora isso, acho tudo uma necessidade algoz. Ter que querer pra ser ou estar e parecer ser e estar na cara de quem lê, vê ou ouve.
Minha jornada de heroína até aqui é a de um anjo de luz que nasceu cantando embaixo da laranjeira, que morria de medo dos estouros dos rojões de festas de São João, quando criança. Tinha(e tenho) pânico de um irmão psicopata que atirava filhotes de gatos embaixo dos carros, chamava todos pra ver e ria sem culpa ao ver as vísceras dos coitadinhos estatelados nomeio da rua. Sou sobrevivente de gente ruim. Tenho medo de muita coisa. Muitos medos superados, mas um monte ainda por aí, feito fantasma.
Estudei em escola pública num tempo em que se entrava na escola com sete anos de idade no primeiro ano, sem jardim de infância ou outra frescura qualquer. A escola era minha realização. Tinha de tudo. Fanfarra com instrumentos engraçados e grandes, feito tuba e zabumba e uniformes azuis claros de tecido brilhante e com textura, além de franjas douradas e chapéus, estilo cartola. A fanfarra era legal. Marchar e cantar. Na escola tinha poesia em todas as datas comemorativas do calendário. Aliás, tinha um sarau inteiro com algumas pompas com abertura, apresentação e convidados. Eu era uma das que subiam no palco improvisado no saguão do pátio da escola, já escalada com a poesia ou poema já decorados na ponta da língua. Que memória, decorar aquilo tudo.
Na escola tinha coral, melhor parte da vida até ali. Cantar me salvava da maldade do mundo enfiada dentro da minha casa, dentro da família. Aliás, nunca tive casa. A casa era da minha mãe; ela fazia questão de deixar isso muito bem marcado até o dia em que eu fui embora tentar achar meu espaço no mundo.
Estudei música, canto, violão, trabalhava em um banco e pagava minhas contas. Não tinha Internet e não havia televisão onde eu morei e não sentia falta nenhuma. Fazia Yoga, TaichiChuan, não comia carne era razoavelmente feliz só pelo fato de só aos 19 anos entender que eu podia ir e vir sem ninguém me agredir ou xingar.
Quando achei que seria uma musicista ou cantora a vida apertou o cerco. Quando vi já tinha uma filha e depois outra. Nem filosofia, graduação que queria fazer, consegui.
Em paralelo a isto trabalhava ou fazia freelas para o próprio marido. Com caneta nankin fazia arte final de coisa chata pra ajudar. Quando fiz 30 anos fui estudar letras, mas não concluí, aliás, nem passei do primeiro semestre. Um problema grave de saúde me tirou do páreo mais uma

vez. Fui trabalhar, de novo, com o marido. Fazia contatos publicitários e levava clientes pra agência dele. Assim seguia a vida num corre-corre danado, entre cuidar de casa, de filhas, do trabalho, tomar meu pileque e ainda ter tempo pra cantar. Ufa!
Só aos 36 do primeiro tempo fui pra graduação de jornalismo. Concluí, fiz estágio, ainda no primeiro semestre. Depois outro estágio em um local louco e barulhento, dizem que é assim mesmo, que a adrenalina é boa, se não quer tem fila pra entrar. E assim, trabalhos desumanos são glamourizados todos os dias. Aliás, foi neste trabalho policialesco de ler boletim de ocorrência, monitorar tvs, rádios, e sites ao mesmo tempo já, com plantões bem loucos, entre outras loucuras que desenvolvi mais ainda meu lado TDAH e eu que estava escrevendo crônicas e poesias fui pro saco com uma crise absurda de labirintite e um bloqueio pra escrever coisas que não me interessam de verdade.
Filha com depressão, marido enfartado e fui parar numa escola de terapias integrativas. Também sou mestre em Reiki. Não sabe o que é, procura no Google. Muita meditação aqui e ali pra tentar por a vida, aquela de verdade, nos trilhos.
Daí que por necessidade e sem quase vaidade, hoje, preciso escrever coisas técnicas chatas pra gente chata de novo. Então, estou tentando reaprender por aqui certo pra ser menos doloroso.
Mas, tudo bem. Meu escritório é na praia. Ando de bicicleta e faço alongamento e yoga olhando o mar todos os dias. Sou 13 e hoje moro em Guarujá, litoral de São Paulo.

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Ingressou em Junho de 2021