Escrita criativa: técnicas para começar uma história

O telefone do quarto 515 tocou sete vezes. Charlotte começou a ficar nervosa. Eles estavam atrasados para a gravação e não podiam se atrasar no primeiro dia. Carlota gostaria de pensar mal de Adrián, mas havia algo naquele personagem misterioso que lhe causava certa ternura. Ou algo que talvez não fosse ternura. Mas também não queria insistir nisso. O recepcionista limpou a garganta em um pedido de desculpas e perguntou se ele queria que ele tentasse novamente. Carlota disse-lhe que sim, que tentasse de novo. O recepcionista assentiu e pegou o fone, mantendo o olhar fixo no olhar de Carlota. O recepcionista deu de ombros, como se estivesse insinuando, e Carlota (que entendeu imediatamente) bufou. Ela estava começando a se sentir irritada com Adrian. Até aquele momento, ele parecia um professor exemplar, atento a todas as instruções, um tanto tímido, mas amigável, e sempre acolheu propostas de melhoria ou mudanças sugeridas pela equipe. Além disso, ele costumava participar das reuniões anteriores com um senso de humor particular. Seu curso parecia muito bom, pelo menos no roteiro. Essa seria sua primeira gravação, mas ele sempre sustentou que era algo que não o preocupava ou o deixava nervoso. Mas não era verdade. Embora isso parecesse a Carlota algo habitual. Alguns professores estavam nervosos nos dias que antecederam a gravação e fazia parte de seu trabalho apoiá-los nesse processo e deixá-los tranquilos, explicando que, de fato, era algo normal; e que tudo ia ficar bem. Que eles tinham confiança em seu excelente trabalho anterior e na equipe. "A estrutura do seu curso é impecável", Carlota lhe garantira duas semanas antes. "Tudo é perfeito". E era exatamente isso que pensava Adrián ao sair do hotel, justamente na hora em que teria que se maquiar para a gravação, pronto para descer às profundezas do labirinto subterrâneo da cidade. A primeira estação de metrô que ele encontrou naquela manhã o engoliu em uma mordida.