Conversa interrompida
por Ana Clara Schindler @anaclara_schindler
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Parabéns! - Ouvimos de um completo desconhecido.
Aos domingos, a maior, mais bonita e mais famosa avenida de São Paulo é interditada para a circulação de veículos e aberta para a população caminhar livremente. Na avenida Paulista acontecem todos os tipos de expressões, seja de arte, de relacionamento, pra ganhar um dinheiro, se divertir ou manifestar a respeito dos seus ideais. Ela é a cara e o coração de São Paulo, cheia de cor, construções, diversidade e movimento. É um programa que normalmente os turistas gostam de fazer, por essa razão levei aqueles amigos que estavam de passagem, se hospedando na minha casa sempre cheia de gente trazida por mim, é claro.
Não pela segunda nem terceira vez, pedi aos meus pais que recebessem dois amigos do interior de Goiânia que estavam indo fazer uma escola missionária de 6 meses no interior de São Paulo. Seriam apenas dois dias e queríamos passar um tempo juntos naquele dia. A avenida paulista é praticamente o único lugar externo da cidade em que é possível andar sem complicações em uma cadeira de rodas. As calçadas da minha cidade parece que foram atingidas por uma chuva de meteoros. Elas não são nem um pouco favoráveis para nós, deficientes físicos, devido à coisas que não consigo compreender racionalmente, como por exemplo a arte de construir degraus em uma calçada ou até mesmo instalar um poste bem no meio da rampa de acesso para cadeirantes. Não entendo o que se passa na cabeça de quem constrói esse tipo de coisa, ainda que acessibilidade seja um tema escondido no subconsciente do ser humano, não é difícil pensar que construir uma pequena escada no meio da rua é, no mínimo, estranho. Assim como pode soar estranho pra você que, apesar da minha vida não ser trivial, gosto de pensar que posso ter esses momentos. Não preciso ser profunda, pensativa e questionadora o tempo inteiro, o trivial faz parte também.
Assim, os 4 amigos caminharam em direção a uma tarde na Avenida paulista. Entre os diferentes barulhos de passos, conversas, barraquinhas de comida, músicas acústicas, karaokês ou tambores, entre o vermelho do MASP e o cinza dos muitos prédios da região, um barulho chamou nossa atenção. Uma voz desconhecida que não sabia ao certo para quem estava se direcionando.
- Parabéns!
- Pelo que? - Respondeu a enfermeira da camisa azul.
Os dois meninos faziam um olhar de total incompreensão enquanto eu me fingia de desentendida.
- Por trazer ela pra passear.
Já me acostumei com as reações e atitudes de pensamento heróico ao meu respeito, eu sempre termino com um sorrisinho e um "muito obrigada", mas tem dias que só quero ter uma tarde comum ou imaginar como uma vida comum se parece. Pensar no calor do sol, no sorriso despretensioso, na paz que existe em saber que a vida é mais leve do que a gente pensa e na possibilidade de ser, somente. Aquele era um desses dias e entre uma conversa interrompida, nasceu uma piada que perdura até os dias atuais. Parabéns virou cumprimento de bom dia, boa noite, saudades, parabéns.
2 comentarios
shaun_levin
Profesor Plus@anaclara_schindler Hola Ana Clara, ¡Esto me hizo sonreír! Me encanta la forma en que te mueves a lo largo de la historia, una historia que, en realidad, trata sobre el movimiento. Nos llevas en un viaje y nos presentas un lugar, y en cierto modo, de eso se tratan las historias, un lugar y un mundo interior. Me gusta como empiezas la historia, con esa voz de forastero, y luego nos enseñas la avenida Paulista. Gracias por compartir su historia con nosotros. Espero que hayas disfrutado el curso y que sigas revisándolo. ¡Un abrazo desde Madrid!
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juridicocondominial
Me encantó tu historia Ana Clara! Y por cierto: ¡Buenos días! ¡Felicidades!
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