Um exercício de Telepatia!
de Anne Quiangala @pretaenerd
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Olá
Às vezes, a empatia assume ares de telepatia: transmissão de pensamento ou sensação sem que haja toque, visão ou audição envolvidos. Quem sente dor de dente, não quer e não precisa que lhe ofereçam um doce duro (que precisa ser mordido, somando à dor um esforço). Quem sente fome, não precisa que lhe ofereçam pedras (ou livros, mesmo que livros sejam ótimos artefatos, eles não curam tudo). Exemplos isolados fazem parecer óbvio (tipo análise sintática de frases soltas), mas nem toda pessoa telepata é equipada com este upgrade.
A empatia é o menor traço entre o Eu (disposto a se conectar com) o Outro. Uma real disposição que é saber discernir entre "o que desejo entregar" e o que é "necessário receber" em dado tempo e espaço. Eu sei, não é fácil, porque é mais sobre intuição (a atenção no Outro levada a sério e enraizada no Eu) que estranhamente sabe (e quer) enviar aquele sabor de pizza, áudio, verso ou proposta de companhia. Na hora certa.
Junguianos chamam também de sincronicidade.
Quanto mais o sistema nos isola em micro problemas, lutas por pão e direito à vida, mais lutamos pra mantermos as chamas do nosso propósito coletivo acesas, durante e apesar do vendaval. Neste contexto, é grande a chance de nos perdermos umas das outras, sabe? Mas vale lembrar que os laços reais são a verdadeira fibra óptica, não as boas intenções.
Telepatia é entregar o seu melhor, proporcional às necessidades e contextos da outra pessoa. Já a hiperempatia, a despeito de ser uma síndrome, na Parábola do Semeador (Octavia Butler), nos informa sobre a importância de olharmos mais para o que os outros sentem. Algo sobre tomar pra si a dor, o prazer do Outro e se familiarizar com sua condição. Não quero com isso fazer parecer que tudo se resolve com o descentramento do "eu": a ideia é buscar o melhor caminho para o outro mesmo quando nos faltam palavras "corretas", porque em situações-limite caminhamos no território do indizível. Nestes momentos, precisamos interrogar nossa "boa intenção" e entender sobre quem é nossa atitude apaziguadora, afetuosa ou assertiva.
Então, sim, a telepatia é a linha que conecta necessidades reais - raríssimo fenômeno.
Falar em sincronicidade, há tempos senti o desejo de voltar à escrita não-ficcional. Dei alguns passos e me deparei com o curso sobre escrita da Aline Valek na Domestika. Os exercícios me ajudaram a desbloquear ideias que pairavam, e, mais do que desbloquear, movimentaram. E fiquei pensando sobre a menor distância entre o indizível, o "quero dizer" e o que o Outro precisa. Empatia? Telepatia!
"O que é a escrita? Telepatia, é claro"
(Stephen King)
Além de escrever, não sei você, mas sempre penso no que eu adoraria consumir. Desde que temos Octavia Butler sendo traduzida pro português, eu venho pensado que preciso me preparar pra quando tiverem publicado tudo, então queria consumir ficção científica com uma perspectiva diversa, bem escrita, e me deparei com o conto Oculi de Clarice França (que é tudo isso!). E como um pára-raio de boas novas, recebi a notícia de que Waldson Souza tem livro novo em pré-venda na Amazon: O homem que não transbordava! Tudo o que a gente pensar, pode de alguma forma, existir e chegar até nós!
A partir desse momento de potência criativa, compartilho contigo uma tentativa de conexão telepática (me deixe saber se a telepatia funciona, se faz sentido pra você!) que é inédita e exclusiva pra você!
Da minha mente pra sua,
beijo
Anne
2 comentários
alinevalek
Professor PlusAnne, que maravilha seu projeto final ser em forma de zine!
Claro que imprimi e montei aqui para ler e mergulhar na experiência :)
Criativa, poética, envolvente. Talvez a telepatia funcione mesmo: a autoescavação marítima foi bem fundo na mente.
Continue a escrever!
Um beijo,
Aline
pretaenerd
@alinevalek Uau, muito obrigada pelo feedback! Depois desse curso incrível, me sinto motivada a voltar a escrever continuamente !
beijo!
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