@isaque.criscuolo
Super-heróis e nostalgia: a fanart fantástica de Thobias Daneluz
Conheça o ilustrador brasileiro que transformou sua paixão por personagens de HQs em uma carreira de sucesso
Thobias Daneluz sempre foi apaixonado por super-heróis. E através desta paixão criou uma carreira promissora com traços e cores singulares, capazes de prender o olhar de qualquer pessoa com riqueza de detalhes e emoções.
Já passou pelo Omelete, um dos maiores veículos de entretenimento do Brasil, deu vida a cartazes da maior Comic Con do mundo, a CCXP, é autor de três HQs e sócio do canal Sociedade da Virtude, no YouTube. Em seu trabalho autoral, valoriza a nostalgia como uma ferramenta de conexão e catarse.
Nesta entrevista à Domestika, Thobias fala sobre sua história com a ilustração, seus processos criativos, referências, ferramentas favoritas e o que é preciso para se tornar um ilustrador de sucesso.
Como começou sua história com a ilustração?
Comecei muito cedo, embora eu tenha dificuldade para entender onde é que começou a parte profissional e onde ficou o hobby. É uma parada que hoje não gosto de separar. Fui uma criança que desenhou desde o jardim de infância e minha mãe disse que até antes disso eu já fazia algumas coisas e tinha interesse com tinta, por exemplo.
Passei minha infância inteira desenhando, adolescência inteira desenhando e agora que entrei na vida adulta, que pago minhas contas, continuo desenhando.
E como foi essa chegada ao mundo profissional?
Na época de colégio, fiz curso de desenho, mais voltado para pintura e algumas técnicas tradicionais, e cheguei a ser convidado por uma psicóloga da escola para ilustrar um livro. Esse foi meu primeiro trabalho, em 2011.
Depois disso, consegui uma bolsa de estudos na Quanta, uma escola em São Paulo muito renomada, mas ainda achava que não tinha a base profissional que precisava.
Por isso, resolvi fazer uma faculdade de Design, no Mackenzie, e nessa época conheci o Marcelo Forlani do Omelete. Ele me deu a chance de trabalhar como estagiário e o Omelete foi o meu lança míssil, porque consegui entrar numa empresa que tinha tudo a ver com o que eu queria fazer, que é ilustrar heróis.
Foi um trabalho que me fez ganhar destaque no meio, quando me tornei Thobias Daneluz, o ilustrador do Omelete. Foi assim que comecei a desenhar profissionalmente.
Depois, saí do Omelete para criar o Sociedade da Virtude, um canal no YouTube junto com o Ian SBF, do Porta dos Fundos, e desde então temos trabalhado com personagens originais, produtos licenciados e histórias originais.
Como funciona o seu processo criativo?
Gosto sempre de começar pelas referências. Quando recebo um briefing, para entender o que tenho que fazer, procuro referências para ter o domínio da direção do desenho. Ilustrar tem muito a ver com organização: primeiro você organiza tudo, planeja e depois é só desenhar. Quanto mais planejado estiver, o desenho, mais fácil vai ser para você seguir em frente com o resto da sua criação.
Uso bastante o Google e o Pinterest para isso, crio esboços e transformo em thumbnails. Depois escolho uma opção para fazer um rascunho mais finalizado, que passa então pela linha, arte final, cor e um tratamento final. Eu sempre vou trabalhando nesse processo enquanto estou ouvindo música, às vezes tomando alguma coisa, assistindo vídeos e ouvindo podcasts.
Quais suas referências e onde busca inspiração?
Muita gente me pergunta sobre isso e sempre fui um cara ligado aos artistas que tenho como referências.
Gosto bastante do Bruce Timm, criador da série Batman dos anos 90, responsável por todo o conceito de animação da DC Comics daquela época e com um traço que marcou minha geração. Will Eisner, um dos maiores quadrinistas de todos os tempos...
Obviamente, Frank Miller, que fez Cavaleiro das Trevas do Batman, Demolidor e um cara que tive o prazer de conhecer numa das Comic Cons no Brasil. Esta foi uma experiência alucinante, um dos momentos mais marcantes da minha vida.
Ainda, Drew Struzan, criador de vários cartazes de filmes famosos dos anos 80, como De Volta Para o Futuro, Star Wars, Blade Runner, mas também Harry Potter... um artista incrível. Jamie Hewlett, o criador do desenho dos Gorillaz. Existem muitos outros, mas esses são os que me influenciam de maneira mais intensa.
Tenho também muita referência de música, que me ajuda a criar, especialmente trilhas sonoras de filmes. Acho que dá um up na hora que estou criando alguma história ou cena. É o que me ajuda a criar uma experiência completa.
Busco inspiração nas pequenas coisas da vida, na música, numa conversa de WhatsApp, no filme que assisti, alguém que me diz algo... A inspiração aparece numa hora em que você não está tão preparado e tem que saber lidar com isso, como usá-la.
O que os super-heróis significam para o seu trabalho?
Se não fossem os super-heróis, talvez eu nem estivesse desenhando. Esta é uma pergunta muito fácil de responder, pois quando eu era moleque, adorava esse tipo de conteúdo. O primeiro desenho que vi na minha vida foi o meu pai que desenhou, num dia que acabou a luz e estávamos à luz de velas.
Ele desenhou o Batman, Robin, Mister Freeze, Charada e o Coringa, copiando os desenhos do Bruce Timm. Cresci vendo o Batman do Tim Burton, Um Herói de Brinquedo, com Arnold Schwarzenegger. Tudo isso muito antes do cinema ser tomado por essa geração de heróis da Marvel.
Quais os temas mais recorrentes na sua obra?
Os temas que mais trabalho são cinema e o universo nostálgico, especialmente filmes dos anos 90, da Sessão da Tarde. Sou uma pessoa muito nostálgica e todos os dias lembro de alguma coisa do passado ou de um filme que vi quando criança.
Quero que o meu trabalho traga esse conforto para as pessoas, quero que relembrem um momento legal. Faço isso tanto no meu trabalho autoral quanto na Sociedade da Virtude.
O que é, em sua opinião, criatividade?
Criatividade é uma coisa muito difícil de definir. Para mim, é uma ação. Uma pessoa criativa é aquela que está no momento e não se deixa definir pelo fato de ter poucos recursos. É quem não vai desistir, pois criatividade está muito ligada à determinação.
Quanto mais determinado eu for num projeto, mais criativo estou me tornando. Quanto mais "nãos" você ouve da vida, mais criativo se torna, porque você vai conhecendo várias formas de superar os momentos difíceis. A criatividade nasce com todo mundo, mas é um processo que precisa ser trabalhado diariamente.
Você acredita que existe bloqueio criativo?
Acredito que existe bloqueio criativo sim. Já tive e todo mundo tem. O segredo é não usar esse bloqueio criativo para parar de produzir, pois todo artista terá este momento de trava. Quando isso acontecer, talvez é a hora de estudar outras coisas, ir além das coisas de sempre para conhecer novas vertentes.
Bloqueios acontecem quando estou num nível de estresse absurdo e obviamente não vou conseguir criar coisas legais da mesma forma que quando estou 100% bem. É preciso entender que o bloqueio não vai durar para sempre.
Um conselho que dou com frequência: sempre termine uma ilustração. Depois disso, você pode criar algo novo. Senão você nunca termina nada e isso vai se tornando um bloqueio eterno dentro de você. É importante ter finais. E é uma boa estratégia para quebrar o bloqueio criativo.
Para você, o que é ilustrar?
Ilustrar é tudo. É um exercício para a mente, um exercício de saúde mental. É aquele momento em que me relaciono com o papel em branco e sei que algo vai sair dali.
Ilustrar é um hábito muito pessoal que tenho, pois apesar de ser um profissional da área, toda vez que começo um trabalho novo, fico pensando no quanto é maluco começar algo do zero e, de repente, ter algo pronto. Uma criação que você nem imaginava como seria.
Dificilmente crio algo que que tenho certeza de como vai sair. Sempre sai diferente, é uma loteria. Ilustrar está há tanto tempo comigo que não consigo pensar em não desenhar. É o que me define.
Quais são suas ferramentas favoritas? E softwares?
Ainda gosto de ir trabalhar muito com materiais tradicionais como pincel, tinta nanquim, lápis, carvão, aquarela. São os materiais que mais uso. Gosto bastante de trabalhar com desenhos em preto e branco, embora nos últimos tempos eu esteja fazendo coisas mais digitais, por causa do tempo e espaço.
No digital você não precisa ter folhas gigantes para criar. Uso bastante o iPad Pro há pelo menos quatro anos e considero uma ferramenta muito eficiente. Como sou designer, uso bastante o Photoshop, Illustrator e Procreate. O que preciso para fazer o que faço é basicamente pincel, nanquim e Photoshop.
Quais artistas brasileiros você admira e recomenda?
Roger Cruz, um monstro dos quadrinhos e um mestre. Acompanho o trabalho dele desde que era muito pequeno e pude conhecê-lo, é uma pessoa incrível. Gosto do Marcelo Braga, que também tem um trabalho incrível.
Weberson Santiago (@webersonsantiago), que me ajudou a seguir um caminho de ilustração editorial. Hoje posso chamá-lo de parceiro e amigo. E tem o Rafael Grampá, um monstro dos quadrinhos e um dos maiores desenhistas do mundo.
Quais dicas daria para quem quer começar a ilustrar?
Primeiro, desenhe todos os dias. Quanto mais você conseguir desenhar, melhor. Ouvi uma vez de um professor que é preciso criar 999 desenhos ruins para chegar em um bom. Você precisa eliminar os desenhos ruins de você para começar a achar os bons. E todo mundo tem desenhos ruins, não dá para começar a ilustrar sem ter um processo, sem desenhar, sem criar.
Não existe isso. Ilustração toma bastante tempo e dedicação, especialmente para você descobrir o que gosta, os estilos que prefere. Portanto, tenha paciência que a arte de desenhar é como um músculo: quanto mais você trabalha, mais eficiente fica.
A segunda dica é: tenha humildade para ouvir crítica. Muita gente não gosta, mas o que faz o seu trabalho crescer é ouvir críticas e ir além do seu campo de visão para ter outras perspectivas.
Como você enxerga o futuro da sua carreira? E o futuro da ilustração?
Para o futuro, quero que meu trabalho seja reconhecido internacionalmente. Quero transpor essa barreira e pegar mais trabalhos internacionais, publicar alguma coisa lá fora e sair um pouco do Brasil.
Sobre o futuro da ilustração, vejo como algo extremamente promissor, pois com a internet e as redes sociais, o número de pessoas que trabalham na área aumentou bastante.
É uma área que só vai crescer com linguagens novas e interessantes.
O que você não aguenta mais ouvir a respeito da sua carreira?
A coisa mais chata de ouvir, como artista, é: "Seu trabalho é um dom". Sim, é um dom, mas muita gente não enxerga o caminho para chegar aqui, para aprender a criar uma ilustração.
Dom nada mais é do que uma facilidade para fazer algo, mas se não houver treino, disciplina e técnica, este dom vai desaparecendo.
Se você não trabalhar, não investir tempo, não buscar técnicas diferentes, não treinar... não vai dar certo. E é chato para caramba quando alguém diz que é tudo simplesmente um dom. Nós artistas sabemos muito bem que não é só isso.
Se você gostou dessa entrevista e quer aprofundar seus conhecimentos nesta disciplina criativa, não deixe de conferir os cursos de ilustração da Domestika.
Acompanhe o trabalho de Thobias Daneluz no Instagram e fique de olho na seção Ilustração do nosso blog para descobrir mais sobre esta área artística.
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