7 obras da arquitetura mundial que traduzem o século XXI

Professores da Domestika escolhem os projetos que, na sua opinião, definem melhor a vanguarda e o espírito das duas últimas décadas

Como qualquer outra manifestação do engenho humano, a arquitetura é uma arte em constante transformação, intrinsecamente relacionada ao momento histórico em que se insere. Para comemorar o Dia Mundial da Arquitetura e o Dia do Arquiteto – celebrações estabelecidas pela União Internacional de Arquitetos (UIA) sempre para a primeira segunda-feira do mês de outubro –, apresentamos sete projetos que simbolizam a vanguarda e o espírito do nosso tempo, na visão de diferentes professores da Domestika ligados a essa disciplina.

Não é um ranking nem uma lista definitiva, mas, antes, um conjunto de impressões dos nossos especialistas baseadas nas características distintivas e inovadoras que, para eles, se refletem nessas criações.

Museu de Arte Contemporânea do Século XXI, Kanazawa, Japão

Desenhado em 2004 pelo estúdio SANAA (de Kazuyo Sejima e Ryue Nishizawa), o projeto é a escolha de Isabel Martínez Abascal (@isabelmabascal), cofundadora do ateliê LANZA, da Cidade do México. “O SANAA é um estúdio em cujo trabalho sempre existe um interesse por questionar as relaciones entre interior e exterior”, explica a arquiteta, e isso se verifica claramente no desenho do museu de planta circular de 112,5 metros de diâmetro, que permite aos visitantes entrar a partir de diferentes pontos.

A estrutura é composta de vigas de aço e colunas tubiformes que sustentam uma cobertura de concreto armado rodeada por uma fachada de vidro, o que permite um diálogo constante entre o que está dentro e a paisagem ao redor. O museu, assim, se converte num grande parque, num ponto de encontro.

Biblioteca Pública de México José Vasconcelos, Cidade do México

Um imenso parque de cerca de 30 mil metros quadrados contém, no seu centro, uma joia, "uma arca portadora do conhecimento humano e imersa num exuberante jardim botânico". Asim descreve o projeto o seu criador, o prestigioso arquiteto mexicano Alberto Kalach. Liderado por ele, o time do Taller Arquitectónico X (TAX) desenhou, em 2005, esta obra que, para a arquiteta espanhola e professora da Domestika María Alarcón (@mariaalarcon_), é um projeto simplesmente excelente, pela leveza das suas estruturas metálicas, do concreto armado e do vidro, pelo uso da luz natural e a beleza que convida à visita – e à permanência ali.

"Estive no México no começo do ano e visitei a biblioteca. Foi toda uma experiência, pelo tamanho do projeto, a amplitude interior, a maneira de gerar espaços, a vontade de querer ir estudar, trabalhar ou ler ali. É como o sonho de um diagrama, um conceito, tornado realidade", comenta Alarcón.

Anno Museum, Hamar, Noruega

Concluídas em 2005, mas iniciadas muito antes, em 1967, as obras de adaptação de uma antiga fortaleza episcopal do século XII num museu foram inteiramente desenhadas pelo norueguês Sverre Fehn, vencedor do Prêmio Pritzker em 1997. Com uma construção em etapas, a transformação do lugar, que hoje em dia abriga vários edifícios, reflete não só a visão particular do arquiteto sobre seu tempo, mas também antecipa soluções arquitetônicas futuras, como a integração completa com o entorno, o respeito pela história do lugar, a beleza amparada na extrema simplicidade.

"É um edifício um tanto anônimo que, longe de buscar protagonismo, converte as ruínas do sítio e a topografia no ator principal. Com poucas intervenções, o arquiteto dá ao visitante uma experiência quase espiritual", opina Diego Escamilla, do estúdio PALMA (@palmamx).

Capela do Irmão Klaus, Merchenich, Alemanha

Este projeto privado encomendado por um casal de agricultores de uma pequena aldeia rural perto de Colônia, na Alemanha, foi desenvolvido em 2007 pelo famoso arquiteto Peter Zumthor. Trata-se de uma capela que homenageia o santo suíço Nicholas Von Der Flüe (1417–1487), mas que, nas palavras de Zumthor, "é um lugar para a meditação pessoal, não um lugar de culto consagrado ao serviço religioso. Para mim, foi o correto a fazer, como se fosse uma capela que questionasse sua própria existência."

Para o arquiteto Juan Luis Rivera, também do estúdio PALMA, que a escolheu para a nossa lista, "reúne-se nesta capela o melhor da obra de Zumthor, que, ao mesmo tempo, deveria se refletir em qualquer obra contemporánea: o entendimento do processo construtivo como ferramenta de desenho e suas impecáveis reinterpretação e aplicação, provocando emoções dramáticas no usuário."

The Angophora House, Waverton, Austrália

Um dos mais conhecidos projetos do arquiteto australiano Richard Leplastrier, cuja estrutura é de concreto armado, madeira, vidro, aço e pedras, é um ícone da integração entre natureza e criação humana, com um uso notável da luz natural. Desenhada em 2004, esta casa de uma "familia normal" tem quatro quartos, dois banheiros e duas vagas de garagem. O que a distingue são a graça e a grande beleza dos detalhes. "Minhas casas são tesouros secretos a serem descobertos pelos poucos privilegiados que podem visitá-las", disse certa vez Leplastrier, sem uma gota de falsa modéstia, referindo-se a seus projetos.

"Não sei qual é o edifício mais icônico do século XXI, mas esta casa é minha surpresa favorita. A casa mais bela que vi em muito tempo, meticulosa, simples e divertida. Sobretudo cuidadosa com o lugar, a casa poderia estar pra sempre ali ou já não estar mais, dentro de uns anos, sem deixar rastro, e isso a torna ainda mais relevante", comenta Ilse Cárdenas, do estúdio PALMA.

The High Line, Nova York, Estados Unidos

Este parque nova-iorquino elevado, construido sobre um ferroduto desativado, inspirou-se num projeto similar de Paris, o Coulée verte René-Dumont. Marco da revitalização do Meatpacking District de Manhattan, foi desenhado em 2006 por James Corner, Diller Scofidio + Renfro.

"Esta obra é o melhor exemplo de aonde deveria se dirigir a arquitetura do nosso século: ao resgate e à reciclagem de estruturas antigas que ganham vida com novos usos. Um espaço vivo que se transforma com a passagem do tempo e que convida a percorrer a cidade em outro nível, relacionando-se com o entorno construído de uma forma completamente diferente", define a arquiteta Regina de Hoyos, do PALMA.

Vivienda Social de Quinta Monroy, Iquique, Chile

Projeto desenhado pelo arquiteto Alejandro Aravena e pelo estúdio Elemental em 2003, é um interessante exemplo de aproveitamento inteligente do espaço com um orçamento limitado. Materiais baratos como o concreto armado dão forma a casas de beleza simples e dotadas de boas soluções térmicas e lumínicas, cuja conclusão ficou a cargo dos seus próprios ocupantes.

"Escolhi este projeto pela maneira como o escritório afrontou a encomenda, preocupando-se pelo mais importante: as pessoas que habitariam os espaços", diz Arturo Bustíos Casanova (@arturo_bustiosc). "Quando o orçamento joga contra, o melhor que o escritório pôde fazer foi o desenho de uma casa e meia, e que os próprios moradores criassem uma identidade para seus lares. Isso adicionou valor às propriedades e ajudou a potencializar as comunidades, que elaboraram seus próprios desenhos e suas construções. Único."

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