Ações criativas para conter a mudança climática
Profissionais explicam como realizar trabalhos criativos e, ao mesmo tempo, reduzir a pegada ecológica
Há muito tempo que a questão da crise climática do planeta está na agenda política internacional. Mesmo assim, infelizmente, não deixa de ser um assunto da atualidade que, cada vez mais, ocupa as manchetes, provoca grandes manifestações e impulsiona as iniciativas populares que buscam uma maneira de implementar medidas para frear o avanço de um futuro que todos os prognósticos consideram que será catastrófico.
A mudança climática é um problema mundial, que afeta o planeta Terra como um todo. Embora seja complicado as pessoas atuarem em uma mesma direção, há muitas ações individuais que podemos tomar agora, também no âmbito criativo, para impedir ou tentar não contribuir com o problema climático.
Por isso falamos com vários criativos para saber, em primeira mão, quais ações colocar em prática na hora de desenhar, trabalhar e criar uma consciência em relação ao meio ambiente.
O artista plástico Pablo Salvaje (@pablosalvaje); a bordadeira e designer gráfico Señorita Lylo (@SrtaLylo) e Ana Hernández e Christophe Penasse, do estúdio de interiores Masquespacio (@masquespacio), compartilham com a Domestika algumas ideias criativas para lutar contra a mudança climática.
"Somos a espécie mais invasiva que já pisou no planeta e este é o momento de agradecer e somar vozes. Ou seja, de somar cada grão de areia para que o ser humano forme parte de um todo, e não que tudo esteja à disposição do ser humano." - Pablo Salvaje
Reutilizar sempre que possível
Criar nem sempre significa utilizar materiais novos; na verdade, muitas vezes o mais criativo é dar uma vida nova – talvez inesperada – a um objeto aparentemente inútil.
No Masquespacio, os criativos seguem essa máxima ao pé da letra: “Nos projetos do Valencia Lounge Hostel e Kaikaya, tanto no chão quanto no teto e paredes, tudo foi mantido e recuperado. Dessa forma, evitamos comprar materiais novos que podem ter um impacto negativo sobre o meio ambiente, tanto na sua produção como na contaminação gerada durante o transporte”.
Mas, isso não se aplica exclusivamente a casos tão literais como os do exemplo anterior. No estúdio de interiores é muito comum fazer uso de sobras de materiais e sucatas (de mármores e peles, por exemplo) que são reutilizados para criar peças incríveis e originais como lâmpadas e elementos decorativos.
Señorita Lylo, por seu lado, tem por costume o uso de algum tecido com valor simbólico como suporte para bordar, reutilizando algo que já não tem serventia como base dos seus trabalhos de bordado: “Tento não comprar tecido novo. Quase todos os tecidos que uso provêm do meu armário, ou da minha família. Além disso, no meu caso, ao bordar sobre um tecido com história sinto que dou outro valor simbólico à peça”.
Consuma de maneira local
A equipe do Masquespacio, sempre que possível, contrata fornecedores locais. “Não somente ajuda a economia como também evita transportes de longa distância, que geram mais poluição”, dizem.
Além disso, os criativos chamam a atenção para algo que acontece em escala em todos os âmbitos: as grandes cadeias fazem pouco esforço para ajudar a melhorar nosso planeta. “Para comprar um simples cabo, por exemplo, em vez de enviá-lo em um envelope, o enviam em uma caixa com dimensões fora do comum na qual podiam caber facilmente 30 ou 40 cabos”, sublinham.
Inspire-se na natureza
Para Pablo Salvaje, é imprescindível observar a natureza e tomá-la como musa na hora de desenvolver trabalhos.
“A criatividade necessita ser alimentada e a natureza nos oferece uma imensa quantidade de formas, texturas, cores, estados, focos e perspectivas sempre diferentes, que tornam mais acessível o caminho a este estado em que a criatividade flui melhor, seja qual for a técnica usada”, diz.
Às vezes a influência da natureza é mais óbvia e, em outras, menos, mas sempre está aí. Trabalhar pensando na Terra é fazer uma homenagem a ela.
Escolha as técnicas e materiais que respeitam o meio ambiente
Hoje em dia há uma infinidade de recursos a nosso alcance: de materiais reciclados às ferramentas nobres de qualidade e durabilidade. E é fácil comprá-las graças às lojas de arte e ao comércio eletrônico – embora este último não seja a opção mais sustentável.
Existem muitas opções de tintas e materiais ecológicos para belas artes. Além disso, é necessário ter consciência e evitar as técnicas abrasivas, não somente por causa do meio ambiente como também pelo nosso bem-estar na hora de se trabalhar com elas. "Temos acesso aos certificados que nos indicam a procedência do material, se é de comércio justo, se respeita a natureza, por exemplo”, enfatiza Pablo.
E o criativo acrescenta: "Colocar atenção nesta parte do nosso processo de trabalho também é tomar consciência da nossa pegada e movimentar-se para a mudança. No Salvaje, um dos nossos lemas é 'Criar para deixar pegada', no sentido mais positivo da mensagem, como semear uma planta pensando em deixá-la de presente para o futuro".
Pratique o artevismo
O desenho é uma arma muito poderosa que a comunidade criativa tem a seu alcance para chegar a uma consciência e promover uma reação. Pablo Salvaje é um grande entusiasta do artevismo em prol da defesa do meio ambiente.
Em muitos de seus projetos, como Save the Artic ou Agonía, utiliza tinta e tipografias como elementos para captar a atenção e transmitir suas ideias. Alma Animal, o livro em que Salvaje fala de valores e coloca animais como protagonistas, lembra, “foi e segue sendo uma recompensa infinita a essa maneira de criar a partir de um olhar crítico e que comova o espectador, que o desperte para a ação".
Pablo convida você para que, neste momento de mudança e estado de alerta a uma situação de perda de recursos, mudança climática e extinção das espécies, você use sua arte, seu poder criativo e os meios a seu alcance para fazer uma peça com algo que realmente te comova, te preocupe, te inquiete, te leve para dentro e te faça querer compartilhá-la.
“Não se julgue, não se bloqueie no processo. O importante é o final, é somar seu grão de areia ao de outras pessoas que vibram na sua mesma sintonia, que necessitam vozes que se somem a um discurso para que nos escutem bem alto, sem ter que gritar”, conclui.
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