Meu projeto do curso: Escrita criativa para iniciantes: dê vida à sua história

Meu projeto do curso: Escrita criativa para iniciantes: dê vida à sua história

Uma segunda-feira qualquer, trajada pelo enorme apego ao tempo da manhã, é como começo o meu dia. Coloco a minha playlist no carro. Canto e canto mais alto, enquanto abro as janelas. Noto que por mais que a maioria das vezes passemos despercebidos uns pelos outros, me sinto conectada a história de algumas pessoas. O mesmo rapaz correndo com a sua camisa regata preta, o mesmo carteiro com seu penteado engraçado e sua bicicleta antiga, o casal moderno com suas inúmeras tatuagens e a moça com seu cabelo verde e mochila preta. Eu, notando cada um deles pela minha pequena janela do carro enquanto dirijo no mesmo caminho, indo trabalhar como um dia qualquer.
Eu vejo cada detalhe, até não conseguir enxergar mais nada.
Não consigo me mexer. Cada movimento que eu faço uma dor que eu não conheço aumenta. Consigo perceber que a ambulância está vindo em minha direção. Várias pessoas ao meu redor aparentam estar gritando e eu não consigo raciocinar direito. Tento manter a minha mente funcionando, mas é como se eu sentisse uma dor tão enorme que mal posso descrever. É como se ela fosse rígida, tendo sua face montada, me encarando e tirando sarro de mim enquanto fico mais fraca. Me sinto tonta e bamba, como se nada do que eu estivesse vendo ou sentindo fosse real. Um pesadelo.
Tudo parece diferente, até mesmo a dor.
Nunca estive tão perto da morte como agora. A luz verde do sinal refletia antes uma paz. Liberdade. Mas nunca conseguiria imaginar que ao ultrapassá-la, veria um trecho de minha vida. A batida soou tão forte que eu conseguia enxergar o vidro quebrando aos poucos, como se estivesse em câmera lenta.
A velocidade intensa parecia querer me jogar para fora o mais longe possível.
“Seja aberta a surpresas”, é o que a minha mãe dizia. Se tratando de um conselho materno, entendo que seria explorar um pouco mais da vida. Não programar tanto e estar aberta a novos caminhos, por mais doloridos que fossem. Só isso passa pela minha mente agora. Tudo o que eu tinha até o momento parecia algo calculado. Ações que foram medidas mais pelas suas consequências do que pelo desejo de fazê-las. É como se meus desejos fossem algo que permanecesse escondido e nada conseguia libertar. Lembrei de todas as vezes em que eu me sentava e escrevia na madrugada. Pensava em como a casa se tornava silenciosa e todos os meus pensamentos pareciam se tornar organizados e mais claros.
Não consigo sentir mais nada. Estou completamente imóvel e olho para o lado. Vejo a minha câmera jogada no chão a minha frente. Apesar de estar quase quebrada, é lá que eu guardava as minhas melhores lembranças. É onde eu posso olhar de novo e ver todos aqueles que já saíram da minha vida. Sempre tive a sensação de que as fotos me transportassem para aquele dia novamente.
Mas agora as fotos não são tão relevantes.
Não há como guardar as fotos, sem que eu esteja aqui para observá-las.