O que fazer quando acaba a luz?
por Natália Maria Monteiro Muniz @nathymare
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O que fazer quando acaba a luz?
História e Ilustrações por Natália Muniz
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Daniel era um garotinho de dez anos que adorava jogar no computador de sua casa.
Mal chegava da escola e já corria para seu quarto, ligava em algum jogo online ou em uma sala de bate papo da internet e passava horas e horas na frente do monitor. Às vezes, até mesmo recusava o convite de seus coleguinhas para brincar lá fora em dias ensolarados, perfeitos para um pique-esconde, uma amarelinha ou outras brincadeiras que as crianças do bairro costumavam fazer em suas tardes livres.
Uma certa noite, uma chuva muito forte caía sobre a cidade, tão forte que Daniel conseguia ouvir os trovões até de fones de ouvido!
“Puxa, que chuvaral!”, pensou, mas não deu tanta importância, pois já era bem grandinho para ter medo de tempestades. Além do mais, estava quase passando para a próxima fase de seu jogo preferido e não tinha como prestar atenção em qualquer outra coisa naquele momento que não fosse o chefão que seu personagem estava prestes a enfrentar.
De repente, um terrível estrondo ecoou pela casa e todas as luzes se apagaram, deixando o menino no escuro completo, a não ser pela luz dos relâmpagos lá de fora.
- Tudo bem, Daniel? – Perguntou seu pai, entrando no quarto com uma lanterna.
- Papai, o que aconteceu? Eu estava quase ganhando! – disse chateado.
- Parece que um raio caiu perto daqui e acertou um poste de energia. O bairro todo está sem luz. Mas não se preocupe, daqui a pouco volta. – confortou o pai. – Não fique sozinho ai no quarto, venha pra sala ficar com a gente.
Daniel, emburrado, caminhou até a sala e se sentou no chão ao lado de sua irmã mais nova, que parecia tão chateada quanto ele. Lá também estavam sua mãe e seu avô, balançando tranquilamente na cadeira de balanço.
- E agora, o que a gente faz? – perguntou.
- Agora a gente espera. – respondeu o pai.
- E vai demorar muito? – dessa vez foi sua irmãzinha quem perguntou.
- Não tem como saber, temos que esperar consertarem. – disse a mãe.
- Mas que chatice! Se eu pelo menos pudesse estar jogando agora... – falou Daniel emburrado.
- Mas nós podemos jogar sim, quem disse que não? – O avô, que estava quieto até o momento, se manifestou.
- É mesmo? – perguntaram impressionadas, as duas crianças. Talvez o vovô na verdade fosse um gênio da ciência e soubesse como fazer um computador funcionar sem energia! Ele só não tinha ainda contado pra ninguém.
- Quando eu era moço pequeno e morava numa fazendinha no interior, nossa casa nem tinhas essas coisas de energia elétrica! Nossa vida era simples e tranquila. - Daniel, diante disso, ficou se perguntando como alguém podia morar em condições assim, sem computador e sem internet? Sem video game nem televisão? Não parecia nada divertido. - Então eu e meus irmãos tínhamos que inventar coisas diferentes para fazer durante a noite, à luz dos lampiões e dos vagalumes. Aqui, vejam:
O avô pediu para que o pai apontasse a lanterna para suas mãos e com elas começou a fazer alguns gestos, que na parede formavam a sombra de um pássaro batendo as asas.
- Uau! Um passarinho! – disse a irmãzinha surpresa. – Como faz?
- É só botar um polegar por cima do outro e movimentar os outros dedos pra dentro e pra fora, viu só?
A menina, empolgada, começa a imitar o avô, mas seu passarinho de sombra batia as asinhas bem mais rápido que o dele.
- Isso não é nada demais. – diz Daniel de braços cruzados.
- Que tal esse aqui. – A mãe também entra na brincadeira, coloca uma mão virada pra cima e outra para baixo. – Olha, um coelho!
O coelho de sombras era tão completo que tinha até perninhas! Imagina se ela também conseguisse fazer uma cenoura para ele segurar! Mas ai a mamãe teria que ter três braços.
- Vejo que temos uma profissional na família – falou o avô – Tinha que ser minha filha.
- Nossa, parece mesmo um coelhinho! – Agora Daniel nem conseguia esconder o quanto estava impressionado. – Me ensina?
Algum tempo passou e a família continuou brincando de fazer figura nas sombras. Fizeram cisnes, touros, cervos, até que uma hora já estavam cansados da brincadeira.
- Tá bom, até que foi divertido... – Daniel ficou emburrado de novo. – Mas a luz ainda não voltou, e agora?
- Alguém tem mais alguma sugestão? – o pai perguntou.
- Eu tenho! – A menininha levantou entusiasmada. – Ontem lá na escola nós brincamos de uma coisa chamada “Adivinha o que é”. É assim: a gente pega e dá um objeto pro coleguinha que tá vendado e ai ele tem que adivinhar o que é! É bem legal e a gente nem precisa colocar venda porque já tá escuro!
- Ótima ideia! Fechem os olhos que eu vou buscar os objetos! – disse a mãe, saindo em direção à cozinha.
Daniel fechou os olhos e recebeu um objeto macio, plano, com um dos lados redondos e um outro lado que dava pra vestir. O que podia ser?
- É um chapéu de cozinheiro?
- Não, mas chegou perto! – ouviu o pai dizer – Tente de novo!
- O meu é uma galinha! - Ouviu sua irmã dizendo. – Tem duas patinhas e duas asinhas! É uma galinha com certeza!
- Não pode ser uma galinha! – riu Daniel. – Não temos uma galinha em casa!
- Acertou filhinha! É uma galinha! – disse a mãe.
- O que? – O menino abriu os olhos e viu que sua irmã segurava o enfeite de porcelana que ficava em cima da geladeira, que era em formato de galinha. Já na sua mão, o que achava ser um chapéu na verdade era uma luva de assar pão.
- Não é justo, quero uma revanche!
E assim, jogaram várias partidas, até que os irmãos ficaram empatados em três a três. Pensaram em uma partida de desempate, mas a essa altura a brincadeira já tinha ficado chata.
- E nada dessa luz voltar... – reclamou a irmãzinha.
- Pelo menos a chuva já passou, não deve demorar muito mais. – falou o pai.
– E agora o que a gente vai fazer? – resmungou novamente Daniel deitando no chão.
- Podemos contar algumas histórias. Aposto que o vovô tem vários 'causos' de quando morava no interior, não é? – comentou o pai.
- Ah, sim... Eu já aprontei muito quando era moleque. Gostariam de ouvir?
Mesmo não muito interessado, Daniel concordou com a cabeça. Era melhor do que ficar em silêncio até a luz voltar.
O avô então contou várias de suas peripércias, desde a vez em que caiu da árvore quando foi colher goiabas até o dia em que se mudou para a cidade grande e conheceu a vovó. As crianças escutavam com atenção. Daniel começou a pensar que talvez as coisas no tempo de seu avô não eram tão ruins quanto ele imaginava. Ele poderia pescar, correr na floresta, brincar com os bichos da fazenda e muito mais. Talvez viver sem luz não fosse tão chato quanto ele pensava ser. Quem sabe nas próximas férias eles até podiam visitar aquela tal fazenda do interior...
Quando o avô estava prestes a contar a parte em que caiu do jumento quando estava voltando pra casa, tão de repente quanto foi embora, a luz voltou, ofuscando todo mundo que já estava com os olhos acostumados com o escuro.
- Finalmente! – Disse a mãe. – Já podem parar de reclamar.
- Mas e a história do vovô? – perguntou a irmãzinha.
- Eu posso terminar depois. Sei que seu irmão está agoniado pra terminar o joguinho dele, amanhã continuamos então...
- Não! – Interrompeu Daniel. – Quer dizer... é que eu quero saber o final.
- Mas e o jogo filho? – o pai perguntou.
- Ah, eu posso terminar depois. Não é como se ele fosse sair correndo do meu quarto. - riu.
Daniel e sua irmã ficaram escutando as histórias do avô até caírem no sono, quando finalmente seus pais os levaram para a cama.
No outro dia após a escola, Daniel chamou alguns de seus coleguinhas de bairro e os ensinou algumas daquelas maravilhosas brincadeiras que tinha aprendido na noite anterior, quando não tinha luz.
FIM
5 comentarios
ibrenman
Profesor PlusHola, Natalia.
En primer lugar, gracias por compartir tu historia con nosotros.
Me gustó tu historia, tiene todos los elementos para atraer lectores. La vida cotidiana es una huella que está muy presente en la narrativa, casi todo el mundo ha pasado por la situación de no tener luz en casa. Aquí hay una pregunta que quisiera analizar. Como es una experiencia muy frecuente (apagón leve), investigaré otros proyectos literarios que también han abordado este tema. No hay problema para encontrar una historia con la misma temática, el problema es cuando la estructura es similar, esto ya me pasó y tuve que rehacer mi proyecto.
Espero haberte ayudado.
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balieiroingrid18
Me gustó mucho la historia, me recordó cuando estaba de vacaciones en el campo con mis abuelos, me encantaba escuchar sus historias. ❤❤
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nathymare
@ibrenman Muy buen profesor, me encantó el curso y el comentario S2
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loufernandes10
PlusUno de los cursos más maravillosos a los que he asistido. Me ayudó mucho, en este momento estoy teniendo una resaca creativa.
Ya publiqué 3 libros pero estoy en un reparto.
Seguiré tus instrucciones 🧡 y siento que algo bueno está por venir.
Gratitud
Lou
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marialeoniatulio
Fue un maravilloso regalo de Navidad. Disfrutando mucho, sin prisas, porque he corrido demasiado y ahora solo es cuestión de vivir.
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