Eu choro, tu choras, ela chora

Eu choro, tu choras, ela chora

Nina era uma menina sensível. Qualquer coisinha, e a fonte dos seus olhos jorrava.

- Mãe ! Eu quebrei a xícara que o papai mais gosta. Que desastrada! Buáááááááá !

E dona Carla, a mãe de Nina, recolhia os cacos, trazia cola, e juntas elas recompunham a xícara quebrada, o nariz de Nina ainda vermelhinho de tanto chorar. Dona Carla dizia:

- Não fique triste, Nina, é apenas uma xícara, e tem conserto !

Nina reencontrava então seu sorriso e concentrava-se na reparação da xícara

Num outro dia, Nina pelejava com o vestido de sua boneca tentando abotoar os botões, sem conseguir, com seus dedinhos desajeitados. Depois da décima tentativa, não viu outra solução: abriu o berreiro.

- Buáááááááááá, mãe, eu não consigo abotoar o vestido da minha boneca ! Não consigo, não consigo e não consigo !

Com toda a paciência do mundo, dona Carla ia lá, mostrar à filha como passar o botão para dentro da casa dando um empurrãozinho nele com o dedo polegar. Nina pegava prática, e já conseguia abotoar sozinha.

Um dia, Nina chegou da escola com os olhos bem vermelhos. Contou para a mãe aos soluços:

- A Márcia não convidou a Isidora para o aniversário dela. Convidou a mim, mas deixou a Isi de fora! Tadinha mãe, ela queria tanto ir!

Dona Carla teve uma ideia:

- E se a gente convidasse a Isidora para vir dormir aqui no sábado ?

Nina pulou nos braços da mãe, beijou-a com um estalo e disse:

- Que boa idéia ! Você é a melhor mãe do mundo!

No sábado então, Isidora veio com sua malinha passar o fim-de-semana com sua amiga Nina. Chegou na hora do lanche, e dona Carla serviu bolo de cenoura e suco fresco de maçã.

Em seguida, as meninas foram para o quarto brincar de escolinha, pular da beliche e desenhar bonecas de papel.

Depois do jantar, escovaram os dentes, e Nina foi ao quarto da mãe para lhe pedir que viesse contar uma história. Foi quando percebeu que a mãe estava...chorando !

Nina ficou paralisada. A mãe estava com o rosto debruçado nas mãos, e soluçava como a gente soluça no final de um choro grande. Nina deu meia volta e entrou pálida em seu quarto, onde Isidora a esperava.

- Que foi Nina ? Você viu um fantasma?

- Não. Muito pior. Eu vi a minha mãe… chorando! Eu não sei o que fazer! Então fugi do quarto dela.

Isidora ficou pensativa.

- Nina, eu acho que você tem que consolar a sua mãe, igual ela consola você!

- Mas eu não sei fazer isto… Eu só sei… chorar!

Isidora olhou bem para a cara de Nina.

- Você vai chorar agora?

Nina abriu a boca, franziu o cenho, fez cara de choro mas no último instante, se reteve.

- Acho que não é hora…

Andando de um lado pro outro do quarto, Nina ensaiou todas as maneiras que ela conhecia de fazer alguém parar de chorar. Nina fez uma palhaçada e Isidora riu. Nina estendeu uma caixa de lenços, Isidora fingiu que assoava o nariz. Nina perguntou se Isidora queria convidar uma amiguinha. Isidora fez que sim com a cabeça. Nina disse então que faria bolo e pipoca e macarrão com salsicha, mas Isidora pôs-se de novo a chorar.

Nina então correu e deu um abraço na amiga, bem apertado e depois largou-a ali, estupefata, e saiu correndo para o quarto da mãe.

- Manhêêêêêêê !

Nina pulou em seu pescoço e disse:

- Não chora! Eu estou aqui! Nem precisa me contar porque está chorando!

Dona Carla então aceitou o abraço gostoso da filha, que durou um bom tempo, um tempo sem tempo, sem relógio nem fim.

Nina se desvencilhou devagarinho do abraço apertado, saiu correndo e voltou com a caixa de lenços. Isidora, na pontinha dos pés, apareceu na soleira da porta. Dona Carla pegou vários lenços e assoou o nariz estrondosamente. Nina deu uma risada saborosa:

- Parece uma trombeta!

Dona Carla desatou a rir com os olhos ainda cheios de lágrimas. Então Nina teve uma ideia:

- Hoje sou eu que vou contar a história!

Dona Carla chamou Isidora, e aninhadas umas nas outras, escutaram a história de Nina :

- Era uma vez uma menina chorona, que por um sim ou por um não, abria o berreiro...