Angelina
por Agostinho Gambera @gamberaneto
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Angelina
Sou o professor Agustín dos Gatos. Descendentes de italianos. Meus avós vieram para o Brasil e se estabeleceram em uma cidade do interior chamada Buritam. Lá eu nasci.
Minha infância foi feliz, brinquei muito subindo em árvores, jogando bola e andando de bicicleta. Gostava muito de estudar e desenhar.
Quando busco nas minhas recordações, não encontro lembranças de gatos ou cachorros na minha casa.
Por essa razão, não aprendi a olhar para esses bichinhos com afeto e interesse. Eles eram invisíveis para mim. E assim levei a minha vida.
Os anos se passaram e já casado com três filhos, aconteceu algo inusitado dentro de mim.
No jardim da frente de casa onde moro, apareceu uma gatinha. Era filhote, magrinha, fraquinha, faminta, uma gata de rua, daquelas que andam pelos telhados das casas, virando latas e lixos em busca de alimento. Daqueles animaizinhos largados que andam para lá e para cá, sem um lugar definitivo para se abrigar.
Maltratada, indiferente por muitos e até por mim. Eu nem olhava para o lado dela, não aprendi a gostar de gatos. Não gostava mesmo. Nem queria tê-los por perto. Minha indiferença por eles era cruel.
Mas mesmo não gostando, cada vez que eu passava perto, ela me olhava com um olhar como que dizendo:
_.” Eu existo e faço parte da Natureza, viu? Também sou um serzinho criado por Deus. Nasci na rua e procuro um lar de pessoas boas que possam cuidar de mim. Cuida de mim? Em troca darei carinho e alegria. Me adote. ”
Na minha mente os pensamentos estavam inflexíveis e exprimiam: gato transmite doenças, requer cuidados, dá trabalho, dá um desgaste, gasto com ração, vacinas, veterinário. Deixa ela se virar por aí. Gato? Nem pensar.
E ali no jardim ela ficou morando no matinho durante um tempo.
Um dia eu estava apressado e de saída para o trabalho, sem querer olhei para a gata. Nossos olhares se cruzaram. Seu olhar foi penetrante. Meu coração amoleceu. Pressenti a indignação dela com a minha atitude.
Tive uma sensação de uma cobrança interna e pensei: Uma pessoa do bem não age dessa forma. Fazemos parte da mesma Criação. Quer queira, quer não estamos no mesmo planeta Terra. Portanto estamos ligados com tudo ao nosso redor, com as plantas, flores, as árvores, com o ar, com a água, aves e com todos os animais. Merecemos respeito e atenção. Fiquei um tempo, conversando comigo mesmo, analisando, ponderando, fui percebendo algo mudando dentro de mim.
Comecei a olhar na minha mente as minhas reações e também iniciei uma observação minuciosa sobre a gatinha.
Ao enxergar aquele animalzinho acuado, sem defesa e precisando de proteção, tocou meu coração. Passei a ver aquele bichinho sofrido e já pensava nele com afeto, mas não queria muito envolvimento com ele, não queria me apegar. Segui minha vida, até que...
Certa noite, caiu uma tempestade. Já estava deitado na minha cama e ouvia o vento assoviando lá fora. Era assustador. A chuva batia pesada no telhado. Parecia que ia destruir tudo. Não consegui dormir.
Repentinamente me recordei do animalzinho lá fora. Senti uma preocupação imensa ao imaginar a gatinha dormindo nos arbustos do jardim, tomando chuva, se molhando, com risco de ficar doente. Senti um aperto no peito.
Rapidamente me levantei e de pijama peguei uma caixa de papelão que tinha na despensa, um pano e arrumei-a como uma caminha colocada na garagem.
Em seguida debaixo da chuva busquei- a no arbusto. Ela estava encharcada. Enxuguei-a e cuidadosamente ajeitei-a dentro da caixa com o pano. Ela ficou quietinha e confortável, dormiu protegida da chuva.
A partir desse dia, eu, minha esposa e meus filhos decidimos adotá-la. A adoção significava, levar ao veterinário para ser examinada, castrada e vacinada. E foi o que fizemos.
Recebeu o nome de Angelina. Ganhou também um quintal com árvores frutíferas e muito espaço para ficar.
Na nossa residência ela ficou muito à vontade. No começo só permanecia no quintal, mas depois foi ocupando o espaço da casa inteira.
No convívio diário ela me conquistou. Seu jeitinho de ser, as demonstrações de carinho, Angelina foi granjeando a simpatia da família inteira.
Graciosa, no jeito de se lavar com a língua. No modo de enterrar o cocô na terra do quintal, fui verificando que ela é leve em seus movimentos, é limpa, além de ter caráter independente e explorador é carinhosa.
Percebi que me encantava ao vê-la como se espreguiça e a quantidade de horas que ela dorme durante o dia.
Quando pula nas árvores é certeira em seus saltos. Expressiva e possui o dom da comunicação. Ronrona e demonstra afeto. Entendemos tudo o que ela quer, só com seu olhar.
Habituando com a gatinha em casa, ela passou a fazer parte da família. E com o trato recebido ficou mais bonita. Surgiu dentro de meu coração um vínculo afetivo, um amor indescritível. Não saio de casa sem me despedir de Angelina. Sempre aprendo algo com ela. Hoje vivo em harmonia com os gatos. E eles deixaram de ser invisíveis para mim.
Me tornei amante deles e também um ser mais humano e melhor. Depois da Angelina vieram outros gatos e aí ganhei o nome de Agustín dos Gatos.
Fim
2 comentarios
katsarospetra
¡Los que no aman a los gatos es porque no los conocen! Y además, todo escritor digno de ese nombre debe gozar de la compañía de un gato.
Muy linda historia, y en portugués aún más linda.
albertochimal
Profesor PlusHola Agustín. Muchas gracias por unirse al curso y felicitaciones por completarlo. Espero que lo que vimos te haya sido útil y te siga sirviendo.
Acabo de leer "Angelina" y dejaré algunos comentarios. Como siempre digo en estos casos, incluso si algunos de los comentarios no son positivos o no se enfocan en lo que más te interesa de tu propio texto, no los malinterpretes. Ten en cuenta que están pensados para ayudarte a seguir mejorando tu trabajo, y que en todo caso son opcionales. Puede decidir qué le parece conveniente y qué no según los consejos que reciba, sin importar de quién provenga.
Solo una aclaración: estoy usando Google Translate para traducir este texto al portugués, por lo que puede haber algunos errores en lo que lee.
Recomiendo (si no ha leído) un libro maravilloso del escritor japonés Natsume Soseki: Soy un gato . Sé que te gustará.
Una vez más les agradezco y les deseo éxito y suerte en todos sus proyectos futuros.
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