Meu projeto do curso: Criação de histórias para crianças
by Luciana saad @lucianassaad
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AMenina e suas Canetas mágicas
Ou
O dia revelador para uma menina...[/b]
Sou a mais velha dos filhos. Não estou certa se meus dois irmãos já eram nascidos nesse dia, mas sinto que sim. Lembro de já ser mais tímida e retraída, algo normal de primogênitos.
Era um sábado normal como outro qualquer... Até então!
De manhã fui a primeira a se levantar. Como sempre fui tomar café da manhã na cozinha. Sábado era normalmente pão com manteiga e um copo de chocolate quente. Quem preparava era minha doce babá e confidente, Maria.
Minha mãe entrou apressada na cozinha e anunciou:
– Hoje teremos gincana e sorteio de prendas no clube!
Fiquei empolgada com a notícia. Pela cara de minha mãe, parecia algo muito especial e logo perguntei:
– Mamãe, o que é gincana com sorteio de prendas?
– Bom dia Luz! Se apronte rápido que vou chamar seus irmãos e seu pai. Lá você vai entender direitinho o que isso significa. Te adianto que prendas são prêmios, e gincana são jogos de competição bem divertidos. Você vai adorar! Vai ter corrida de saco e corrida com colher. E no final as monitoras vão fazer um sorteio. Vamos logo e torcer para você ganhar o prêmio!
Saí da cozinha correndo e fui para o quarto, confiante e pensando que iria ganhar a prenda. Troquei o pijama pelo uniforme de ir para o clube, que era um short azul Royal e uma camiseta branca com zíper. Tinha umas letras bordada em azul no tom do short, que diziam PIE. Engraçado, nem todas as crianças tinham dois uniformes: um para a escola e outro para o final de semana. Sempre me achei bem especial por isso.
Nesse momento, comecei a criar ideias. Tantas coisas a imaginar. Era daquelas crianças contadoras de histórias imaginárias. Dada a ficar uns minutinhos parada olhando para o nada. Minha mãe sempre dizia que estava pensando na morte da bezerra. Nunca entendi direito o que isso queria dizer. Você saberia me dizer o que é isso?
Em todos os finais de semana, sábado e domingo eram dias de Clube. Brincávamos no parquinho, almoçávamos e muitas vezes até jantávamos por lá. Os dias passavam muito, muito rápido. Minha memória me diz que eram sempre ensolarados. Era saboroso ter muitos amiguinhos e atividades no final de semana.
Quando saí do meu mundo partícula, notei que todos estavam prontos e a eles fui me juntar. Descemos juntos no elevador. Morávamos no 7º andar. Para mim, parecia que todos moravam em um 7º andar, lembro de julgar isso engraçado. Em toda a visita a amigos de meus pais, eu quase nem perguntava. Já ia apertando o 7º no elevador.
Na garagem, embarcamos em nosso carro, uma Brasília de um branco amarelado E lá fomos ao Clube. Rumo ao meu prêmio e à gincana divertida.
A entrada do clube me parecia linda. Subíamos com o carro por uma alameda levemente sinuosa, ladeada por árvores esvoaçantes. Estacionávamos, descíamos e seguíamos a pé. Antes de chegar ao parquinho, passávamos por mosaicos de pedras onde eu escolhia pisar ora nas pedras mais escuras, ora nas mais claras. Mas nesse dia fui quase que correndo rumo ao parquinho, sem dar tanta atenção às pedras. Encantada.
Logo chegamos ao parquinho. Uma algazarra estava acontecendo por lá: correria, gritaria, risadas, músicas... era a festa das festas! Normalmente ao chegarmos ao parquinho nossos pais iam a outro local do Clube e nos deixavam com os monitores. Por isso a porta do parquinho ficava fechada. E ele era cercado com uma grade.
O parquinho do Clube tinha carrossel de cavalinho, balanço, escorregador e até roda gigante. Uma delícia de lugar, acredite. E havia lá uma espécie de ginásio, que por fora era forrado por pastilhas claras azuis, todo envidraçado, com os banheiros e uma área coberta aberta, cujo chão era de cerâmica vermelha. Estávamos todos brincando por lá quando a monitora disse alto:
– Venham todos para cá. Vai começar nossa gincana! Vamos separar vocês em grupos de 5 crianças, mais ou menos da mesma altura. A primeira competição será a corrida de saco. Cada um vai pegar um saco, colocar as duas pernas para dentro, segurar as bordas do saco com suas mãos, e ficar de pé aqui na linha de largada. Quando eu disser “já” e apitar, vocês vão pulando, sem tirar as pernas de dentro do saco, até a linha final. Ou seja, aquela ali, tá? Quem primeiro a ultrapassar ganhará a corrida.
E assim foram sucessivas corridas de saco, muito divertidas. Aí uma outra monitora nos organizou para a corrida de colher:
– Agora voltaremos a separar vocês em grupos de 5 crianças, mais ou menos da mesma altura, para a corrida da colher. Cada um vai pegar uma colher, colocar uma batata sobre dela, e prender a colher na boca mordendo bem apertado com os dentes e lábios para que a colher não caia. Mas tomem cuidado para não apertar demais os dentes. A corrida consistirá em correr até a linha de chegada, sem deixar que a batata caia. Darei a largada e quem chegar primeiro a esta linha aqui, com a batata ainda na colher, ganhará a corrida. Perfeito?
Passamos algum tempo nessa farra. Mães e pais das crianças começaram a voltar. Inclusive a minha, o que me vez pensar que os jogos estavam terminando. Até que uma das monitoras, lembro que seu nome era Sophia, disse:
– Venham todos e sentem-se aqui.
Lembra que contei sobre um lugar coberto, com o chão de cerâmica vermelha? Todos fomos para lá, e Sophia gritou:
– Vamos fazer um sorteio!
Quando escutei a palavra sorteio meu coração deu um pulo. Estava sentada no chão ali do meio para o fim da turma. Minha mãe acabara de chegar e estava em pé, de frente para mim, ao lado dos monitores. Uma monitora tinha um saco na mão que parecia cheio de papéis. Ela o sacudiu, sacudiu, sacudiu e disse para Sophia:
– Sophia, escolhe um nome para mim?
A monitora Sophia se aproximou, enfiou a mão dentro do saco, escolheu, escolheu e escolheu. Tirou um papelzinho, foi desembrulhando devagar, leu algo que estava escrito no papel e gritou, em alto e bom tom, pra quem quisesse ouvir:
- LUZ ANU! Quem de vocês é a Luz Anu? Olá, te felicito. Você ganhou um conjunto de CANETAS MÁGICAS.
Era meu nome! Meu espírito se encheu de uma alegria infinita. Afinal o que fariam essas canetas mágicas? Que poder supremo elas me dariam?
Ora, se eu era uma criança inclinada a contar histórias para o ar, imaginem o que isso significou para mim. Ganhas as canetas, e ainda serem mágicas! Mas, para meu desespero algo surpreendente estava prestes a acontecer...
Minha mãe não me deixaria receber as canetas mágicas que já eram minhas! Acenou com a cabeça num gesto negativo. Sabe o que isso quer dizer? Me senti confusa, decepcionada, muito triste, quase chorei, não entendi por que aquilo acontecia, tive muita raiva, mas nada disse a ninguém. Fiquei quieta: lembra que eu uma criança tímida e obediente?
O sorteio continuou, mas eu não ouvia nem via mais nada direito. Fiquei lá pasma, parada. Não tinha ainda aprendido a falar o que sentia e o queria. No fim do sorteio, Sophia veio com outro presente na mão pra me entregar. Nem me interessei. Ao chegar perto de mim, ela percebeu que eu estava muito triste. Lembro que ela se abaixou olhou bem dentro dos meus olhos e fez uma pergunta que deu início a este diálogo:
– Luz, por que você está tão triste?
– Por não entender. Por que não posso levar para casa minhas canetas mágicas? Por que a minha mãe não me deixará?
– Ela pensou que você iria sujar a sua roupa e pintar as paredes com as suas canetas mágicas.
– Mas as canetas mágicas soltam tintas e desenham?
– Sim!
– Elas são isso? Achei que iriam me dar poder para fazer mágicas, tipo uma varinha de fada. Com elas eu poderia fazer aparecer e sumir coisas e bichos como unicórnios, elefantes cor de rosa e inventar tudo, tudo o que quisesse.
– Não, não (sorriu Sophia). Elas são canetinhas coloridas para desenhar.
E ela continuou, ainda abaixada e olhando bem em meus olhos:
– Luz, a mágica está dentro de você, as cores estão dentro de você. Tudo o que você quiser inventar em sua cabeça depende somente de você e não das suas canetas mágicas.
Então ela levantou uma das mãos aos céus e fez aquele gesto que os mágicos fazem quando tiram coelhos da cartola, sabe qual? Pois Sophia trouxe do ar um objeto e me disse:
– Luz, te entrego agora as suas canetas mágicas invisíveis. Elas são só suas para sempre. Foram criadas especialmente para você. De agora em diante você pode colorir o mundo como você quiser, pode criar seus desenhos e pinturas imaginárias. E tudo o que você tocar com as suas canetas mágicas invisíveis ficará mais belo e colorido.
Ao me dar conhecimento de minhas canetas mágicas invisíveis, Sophia me mergulhou em um momento incrivelmente mágico. Prosseguiu:
– Vá a sua mãe e lhe explique que você está com muita raiva e triste pois não levará para casa as canetinhas mágicas que ganhou, e que isso foi muito importante para vocês duas.
Saí correndo feliz. Com sorriso e olhar marotos no rosto, ao encontro de minha mãe.
– Mamãe, fiquei muito triste e com raiva de não poder levar as canetinhas mágicas para casa.
Ela me fez uma cara de surpresa, afinal eu era aquela criança obediente que nunca perguntava nada, e me disse:
– Luz, as paredes acabaram de ser pintadas. Pensei que você poderia desenhar nelas, sujar roupas e outras coisas. Por isso pedi para não te entregarem as canetas mágicas.
– Foi só uma descoberta, mamãe. Era só você me ensinar que as canetas mágicas são canetinhas e podem sujar a casa. Compreenderia e você sabe que eu nunca faria isso.
Pensei, cá com os meus botões. Este sábado especial me deu duas descobertas. O que são as canetas mágicas que ganhei. E especialmente que tenho as invisíveis. Estas sim levarei para casa. O que mais poderia querer? Dei um pinote, me virei de costas e fui feliz, feliz brincar na roda gigante, e tudo estava bem agora.
De noite de volta para casa e, já na cama antes de dormir, contei a Maria, minha doce babá, tudo o que acontecera. Revelei só a ela as minhas canetas invisíveis mágicas.
Maria disse:
– Lindas essas canetas mágicas. Use-as muito bem e com muita sabedoria. São bem poderosas, Luz.
Deu aquele sorriso gostoso, me cobriu de um jeito muito carinhoso. Dormi com o coração quentinho um sono profundo. Sonhei com o mundo maravilhoso que iria inventar!




6 comments
ibrenman
Teacher PlusHi Luciana.
First of all, thanks for sharing your story with us.
I liked your story, it is very beautiful and sensitive, it overflows with an affective truth. I identified with some passages, that is, their story stimulated my memories. I was in doubt if your story would be more of a short story, that is, being part of a collection of short stories, or if it would be a solo illustrated book. Your account seems very based on your memories and not a fictional creation, you can tell me that in your answer. Another suggestion, think of more title options, for example "Light" , that's all. This can make people curious and gives room for several interpretations, it's the character's name and at the same time a metaphor for the girl's growth, for maturing, well, it's just a suggestion.
Hope this helps.
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ibrenman
Teacher PlusAh, Luciana. I forgot to ask about the illustrations, did you do it?
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lucianassaad
Thanks Ilan for your reply! I was looking forward to her! I was thrilled to have touched you! You also taught that I was able to write. Even the name took its cue from being something archetypal. I want to make a set of stories from the Light, which are my memories, of course transformed to inspire.
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lucianassaad
@Ilan Brenman Yes the paintings are mine! Ilan you are a perfect teacher! I never imagined writing anything, you inspired me and taught me. I want to make a set of stories in separate installments. The stories of Light. And I was very eager to publish. I answered wrong before so above your question is the beginning of my answer.
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lucianassaad
@Ilan Brenman Yes they are my paintings!
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lucianassaad
Ilan will print and save your beautiful reply. Yes your title suggestion helped a lot.
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